Além de ter sido uma das mais antigas colônias sob o domínio francês, a Argélia era também a mais importante. Lá vivia, nos anos 1950, cerca de um milhão de colonos europeus — os chamados “pieds-noirs” (“pés-pretos”). O interesse dos franceses, que ali mantinham importantes investimentos na agricultura e na mineração, cresceu ainda mais com a descoberta de petróleo e gás natural na região do Saara, durante os anos 1950.
Na França, políticos de esquerda e de direita negavam a existência de uma nação argelina e afirmavam a tese de que “a Argélia é a França”. Ao contrário do que aconteceu em outros países do Magrebe (noroeste do continente) e mesmo na África Ocidental, não prosperaram os esforços dos militantes nacionalistas em negociar mais autonomia para o país ou até mesmo uma igualdade civil entre argelinos e colonos.
A situação começaria a se modificar apenas em 1954, quando pequenos grupos nacionalistas se unificaram, deram início à guerra anticolonial e, no ano seguinte, criaram a Frente de Libertação Nacional (FLN), de orientação socialista. Em 1º de novembro, um grupo de nove líderes históricos da revolução argelina lançou a insurreição armada contra o domínio francês: era o início de um longo conflito que perduraria até 1962, deixando mais de um milhão de mortos.
A guerra ganhou dimensões internacionais. Nações árabes, socialistas e asiáticas defendiam a independência da Argélia na ONU. Países como o Egito, presidido por Gamal Abdel Nasser, forneciam ajuda militar e financeira à FLN. Enquanto isso, a sociedade francesa se dividiu: setores progressistas defendiam o fim da “guerra suja” contra os rebeldes argelinos, mas o governo da República, pressionado pelos conservadores, aumentava ainda mais os poderes dos generais da guerra colonial — em 1960, o número de combatentes franceses na Argélia havia saltado de 56 mil para 500 mil homens.
A utilização de técnicas de tortura contra os rebeldes, as estratégias de terror psicológico nas vilas do interior e a construção de barreiras eletrificadas nas fronteiras com a Tunísia e o Marrocos demonstravam a disposição francesa em garantir a dominação a qualquer custo. O auge da repressão aconteceu na batalha de Argel, em 1957, na qual os nacionalistas sofreram pesadas baixas, mas deixaram claro que a dominação francesa se tornava cada vez mais inviável.
A luta armada prosseguiu. Como a guerra não dava sinais de se encaminhar para o fim, o alto-comando colonial na Argélia se rebelou em maio de 1958. Os militares causaram uma crise política na França, onde se formou uma nova República, sob a liderança de Charles de Gaulle. No mesmo ano, os rebeldes argelinos formaram um governo provisório no exílio, sob a liderança de Ferhat Abbas.
Pressionado por todos os lados, De Gaulle decidiu negociar com a FLN em 1960 e utilizou pela primeira vez o termo “Argélia argelina”. Marcadas por dificuldades como a atuação terrorista dos colonos europeus por meio da Organização do Exército Secreto (OAS), as negociações resultaram nos acordos de Évian. O cessar-fogo foi declarado, e marcou-se um referendo sobre a questão da autonomia argelina. Em 1º de julho de 1962, 99,7% dos argelinos votaram a favor da independência, e o país se libertou do domínio francês, tornando-se a República Popular da Argélia.