O jornal “O Globo” foi fundado em julho de 1925 pelo jornalista Irineu Marinho. Declarava-se totalmente independente, sem “afinidade com governos” e livre de “interesses conjugados com os de qualquer empresa”. Inicialmente demonstrou interesse por questões populares, defendendo o aumento dos salários para o funcionalismo público, combatendo a carestia e criticando o abandono de algumas áreas da cidade pelas autoridades.
Irineu Marinho, entretanto, morreu 23 dias depois da fundação de seu jornal, e a administração, bem como a definição de sua linha editorial, foi delegada a um grande amigo de Irineu, Euricles de Matos. Após a morte de Euricles, em 1931, Roberto Marinho, filho mais velho de Irineu, tornou-se diretor-presidente do jornal.
Nos últimos anos da ditadura do Estado Novo, “O Globo” aliou-se às forças que buscavam a redemocratização do país. Assumiu a oposição ao governo Vargas e defendeu anistia, as eleições livres e a convocação de uma Constituinte livremente eleita. Coerentemente, saudou o golpe que depôs Getúlio em 29 de outubro de 1945.
No governo de Eurico Gaspar Dutra, “O Globo” seguiu combatendo o getulismo, apoiou o rompimento das relações diplomáticas com a União Soviética e a cassação dos parlamentares do Partido Comunista Brasileiro (PCB) em 1947. Defendeu a economia de mercado e a participação do capital estrangeiro na economia nacional.
Pela redação de “O Globo” passaram importantes nomes da imprensa brasileira entre as décadas de 1940 e 1960, como Otto Lara Resende, Nélson Rodrigues, David Nasser e Ibrahim Sued. O jornal investiu também em tecnologia fotográfica, sendo o primeiro no país a utilizar câmeras com flash e, posteriormente, com filme de 35 mm ultrassensível. Em 1936, foi o primeiro no país a publicar uma telefoto, e, em junho de 1959, primeiro na América do Sul a publicar uma radiofoto colorida. Em 1962, deixou de ter duas edições diárias e tornou-se apenas matutino.
“O Globo” apoiou a criação da Petrobrás, embora continuasse fazendo oposição a Getúlio Vargas, que voltara ao governo pelo voto popular nas eleições de 1950. O jornal deu ampla cobertura ao atentado contra Carlos Lacerda, em agosto de 1954, e aos trabalhos da comissão de inquérito instalada na Base Aérea do Galeão. A Rádio Globo cedeu espaços generosos para Lacerda e outros líderes da UDN em campanha contra o presidente. Logo após o suicídio de Getúlio, populares apedrejaram a sede do jornal, queimaram exemplares e atacaram caminhões de entrega nas ruas do Rio de Janeiro.
A reprovação popular, entretanto, não fez o jornal recuar em suas posições conservadoras e antitrabalhistas. Pelo contrário, ele demonstrou simpatia pelos militares golpistas que tentaram impedir a posse de Juscelino Kubitschek e João Goulart, presidente e vice-presidente eleitos, e combateu as Reformas de Base e outras iniciativas progressistas de Goulart.
Em outubro de 1963 o jornal compôs, com a Rádio Tupi, dos Diários Associados, e o “Jornal do Brasil”, a chamada “Rede da Democracia”, programa diário em que os adversários de Goulart pediam a intervenção militar e alertavam para o risco de instalação de uma república sindicalista-comunista no país.
Depois de participar ativamente da preparação do golpe civil-militar de 1964, “O Globo” apoiou abertamente a ditadura — e foi bem recompensado. A família Marinho ganhou concessões de rádio e de televisão e ainda apoio econômico para expandir as Organizações Globo, que se transformariam no maior império de comunicações do país nas décadas seguintes.