A história da “Tribuna da Imprensa” confunde-se a tal ponto com a trajetória de seu fundador que o periódico tornou-se conhecido como “o jornal do Carlos Lacerda”, carregando a marca mesmo após ter sido vendido. Lacerda, que havia sido comunista e membro da Aliança Nacional Libertadora (ANL) nos anos 1930, começou a atuar na imprensa em 1945, como colaborador avulso do jornal “Correio da Manhã”; no ano seguinte, já assinava uma coluna diária chamada “Na tribuna da imprensa”, em que opinava sobre a política no país e desferia violentos ataques ao Partido Comunista Brasileiro (PCB) e ao ex-presidente Getúlio Vargas, contra quem investia sem meias palavras, não poupando suas propostas, sua vida particular e eventuais aliados.
Não tardou muito e Lacerda se indispôs contra o “Correio da Manhã”. Perdeu o emprego, mas assegurou o direito de usar o nome de sua coluna como lhe conviesse. Em 27 de dezembro de 1949, nascia o jornal liberal-conservador “Tribuna da Imprensa”, alinhado com a UDN — partido de Lacerda — e pautada pela oposição sistemática ao getulismo. Seu projeto gráfico não fugia ao estilo dos jornais da época: impressão em preto e branco, com artigos que começavam na primeira página e remetiam o leitor às páginas internas, para a conclusão. A pauta era variada, com notícias locais, internacionais, políticas, esportivas, culturais e de colunismo social. Sua única inovação era um boxe na primeira página em que o “redator de plantão” chamava a atenção dos leitores para as principais matérias da edição. Mais tarde, esse espaço seria ocupado por respostas às cartas dos leitores, nas quais o redator sempre achava brechas para criticar Getúlio Vargas, os trabalhistas e os comunistas.
Na campanha de 1950, Lacerda publicou o artigo-síntese de seu pendor autoritário: “O sr. Getúlio Vargas, senador, não deve ser candidato. Candidato, não deve ser eleito. Eleito, não deve tomar posse. Empossado, devemos recorrer à revolução para impedi-lo de governar”. Fomentador de escândalos, ele atacou o criador do jornal “Ultima Hora”, Samuel Wainer, acusando-o de receber empréstimos favorecidos pelo governo e até de não ter nascido no Brasil. Duas comissões parlamentares de inquérito foram instaladas no Congresso. Nas páginas da “Tribuna da Imprensa”, Getúlio era comparado a infecções e a cancros que deveriam ser extirpados.
Em 1954, Lacerda sofreu um atentado na rua Toneleros, onde morava, no qual foi morto o major Rubens Vaz, que cuidava de sua segurança. A instalação de uma comissão de inquérito comandada pela Aeronáutica na Base Aérea do Galeão agravou a crise política. Getúlio antecipou-se ao golpe com o suicídio. Revoltados, seus apoiadores atacaram tudo o que lembrava a sanha de seus adversários — inclusive Lacerda e seu jornal.
Após a morte de Getúlio, a “Tribuna da Imprensa” fez oposição cerrada aos governos de Juscelino Kubitschek, Jânio Quadros (após apoiá-lo nas eleições) e João Goulart, clamando sempre pela intervenção militar. Com a criação do estado da Guanabara, após a transferência da capital para Brasília, Lacerda elegeu-se governador pela UDN e passou a direção do jornal a seu filho, Sérgio Lacerda. A linha do jornal não se alterou, mas as dificuldades financeiras levaram à sua venda para Nascimento Brito, diretor e herdeiro do “Jornal do Brasil”. Os prejuízos aumentaram, e o jornal foi novamente vendido, desta vez ao jornalista Hélio Fernandes.
Em 31 de março de 1964 o clamor de Lacerda pelo golpe foi atendido. Mas, assim como seu criador, a “Tribuna da Imprensa”, embora sob outra direção, também rompeu com a ditadura militar e sofreu a ação da censura. Definhou até 2008, quando suspendeu as edições impressas e passou a existir apenas na versão digital.