O “Correio da Manhã” foi fundado em 15 de junho de 1901 pelos irmãos Edmundo e Paulo Bittencourt, no Rio de Janeiro, com a pretensão de ser um jornal independente, legalista e liberal. Tinha inicialmente seis páginas, sendo três reservadas a anúncios classificados. Sem ilustrações nem fotografias, dispunha as colunas de texto lado a lado, numa miscelânea de assuntos mal organizados. Declarava-se apartidário, mas ao longo dos anos acabou adotando posturas conservadoras. Entre 1945 e 1964, fez oposição a todos os governos constituídos.
Em 22 de fevereiro de 1945, o jornal publicou uma entrevista de José Américo de Almeida, então ministro do Tribunal de Contas da União (TCU), ao então repórter Carlos Lacerda. Nessa entrevista, José Américo, que fora ligado a Vargas desde os anos 1930 e havia sido candidato a presidente no pleito abortado em 1937, atacou o Estado Novo e defendeu a convocação de eleições gerais, num rompimento público que fragilizou o governo e deu forte impulso à democratização.
Nas eleições de 1945 e de 1950, o jornal apoiou a candidatura de Eduardo Gomes (UDN) e fez oposição aos presidentes eleitos naqueles pleitos — Dutra e Vargas, respectivamente. Mesmo defendendo a redução do papel do Estado e a participação do capital estrangeiro na economia, manteve-se fiel à legalidade liberal, combatendo os movimentos golpistas de 1955 que tentaram impedir a posse do presidente eleito Juscelino Kubitschek. Na crise de 1961, causada pela renúncia de Jânio Quadros, apoiou a posse do vice-presidente João Goulart.
No início de 1956, sob o comando do escritor e jornalista Antônio Callado, o jornal passou por mudanças importantes, tanto no perfil gráfico quanto na linguagem, que se tornou mais clara e informativa. Nessa época, destacou-se também pelas reportagens investigativas — entre elas, a memorável série sobre o Nordeste, escrita pelo próprio Callado, que divulgou os problemas da região e tornou conhecidas as Ligas Camponesas lideradas por Francisco Julião. Grandes nomes do jornalismo e da literatura passaram pelo “Correio da Manhã”, como Otto Maria Carpeaux, Ledo Ivo, Márcio Moreira Alves, Hermano Alves, Carlos Heitor Cony, Newton Rodrigues, Lins de Albuquerque, Vicente Piragibe e Antonio Moniz Vianna, entre outros.
O jornal se afastou definitivamente de João Goulart a partir do comício da Central do Brasil, ocorrido em 13 de março de 1964, no qual o presidente assinou os primeiros atos das Reformas de Base. Em 31 de março, no editorial “Basta!”, responsabilizou-o pela crise que o país enfrentava. No dia seguinte, com o editorial “Fora!”, passou a apoiar abertamente o golpe civil-militar.
Mas a ilusão de que os golpistas convocariam eleições gerais logo se dissipou, e o “Correio da Manhã” rompeu com o novo regime. Em 3 de abril já denunciava suas arbitrariedades nos editoriais “Terrorismo, não!” e “Basta: fora a ditadura!”; no dia seguinte, denunciou prisões arbitrárias e a destruição das redações do jornal “Ultima Hora”. A ditadura reagiu, disposta a asfixiá-lo.
Com a morte de Paulo Bittencourt, em 1965, o comando passaria às mãos de sua viúva, Niomar Muniz Sodré Bittencourt. Em 7 de dezembro de 1968, uma bomba foi jogada na sede do jornal. Em 1969, Niomar foi presa, juntamente com os jornalistas Osvaldo Peralva e Nélson Batista, e o jornal foi submetido a censura prévia.
Com a perda de leitores e de anunciantes, uma aguda crise financeira forçou seu arrendamento. A linha editorial tornou-se favorável ao regime. Niomar tentou na Justiça anular o contrato de arrendamento, que vinha sendo descumprido — mas não havia mais tempo. Antes do desfecho da ação, devendo a funcionários e credores, o “Correio da Manhã” deixou de circular em 8 de julho de 1974.