No início da década de 1950, o quadro político era bastante adverso para o Partido Comunista Brasileiro (PCB), posto na ilegalidade em 1947 e que, desde então, atuava na clandestinidade. Os comunistas brasileiros, filiados ou não ao PCB, ressentiam-se da falta de espaço para o exercício de um debate político-cultural independente das diretrizes partidárias, onde intelectuais e militantes comunistas pudessem expressar suas posições e pontos de vista.
É nesse contexto que a editora Brasiliense, do editor e historiador paulista Caio Prado Júnior, lançou a “Revista Brasiliense”, cujo primeiro número circulou em setembro de 1955, no final da campanha presidencial. Seu manifesto de fundação defendia com clareza os princípios nacionalistas e marxistas que norteariam a revista. Dirigida por Elias Chaves Neto, a “Revista Brasiliense” contava com uma extensa lista de colaboradores, na maioria simpatizantes do PCB, mas que não se envolviam diretamente com as tarefas partidárias nem com as disputas internas — não se submetiam, por isso mesmo, à disciplina dos militantes orgânicos.
O periódico, ao se apresentar como publicação desvinculada e independente de filiações partidárias, destinando-se a promover debates de natureza político-ideológica e literocultural, tinha assim espaço para divergir da orientação oficial do partido, embora os comunistas vinculados ao PCB predominassem na lista de colaboradores.
Caio Prado Júnior, Álvaro de Faria, Paulo Alves Pinto e Salomão Schattan foram os nomes que mais se destacaram na produção dos conteúdos publicados, com ênfase nos estudos sobre a realidade social brasileira. A editora Brasiliense bancava sua publicação com recursos próprios, sem recorrer a verbas publicitárias e institucionais nem a recursos partidários.
Embora bem-vista pelos círculos culturais e acadêmicos, desde o lançamento a revista foi recebida com reserva pelos dirigentes do PCB, e por isso mesmo seus fundadores procuraram evitar confrontos diretos com o partido, imprimindo aos artigos e textos um cunho marxista e nacionalista e priorizando os estudos históricos, literários, sociológicos e filosóficos.
Bimestral, a “Revista Brasiliense” foi publicada ininterruptamente por nove anos, totalizando 51 edições que hoje são uma importante fonte de consulta para compreender aquele período. Deixou de ser publicada após o golpe de 1964.