Nas eleições presidenciais de 1950, Getúlio Vargas foi o candidato da coligação entre o Partido Trabalhista Brasileiro e o Partido Social Progressista (PTB-PSP). Nas ruas de todo o Brasil, estava na cara que o povo daria vitória maciça a Getúlio. Sua candidatura, porém, sofria forte oposição da União Democrática Nacional (UDN) e de praticamente toda a grande imprensa, a quem a lembrança da censura e da repressão praticadas pelo ex-presidente durante o Estado Novo ainda causava arrepios. Antes das eleições, o repórter Samuel Wainer havia feito uma entrevista histórica com Getúlio e, em seguida, fez a cobertura sua campanha, publicada nos Diários Associados. O convívio estreitou a relação entre os dois, e Getúlio, vitorioso, quis recompensar o jornalista, deixando-o escolher entre ser embaixador em Israel — Wainer era de família judaica — ou abrir um jornal. Wainer não hesitou: “Um jornal, para lhe dar apoio!”.
Wainer deixou então os Diários Associados disposto a criar um periódico moderno e ligado às causas populares. Nasceu assim o “Ultima Hora” — “um jornal vibrante, uma arma do povo”, como dizia o slogan. Sua aparência contrastava com a dos outros jornais: o logotipo era estampado em azul, e as reportagens, redigidas em linguagem clara e objetiva, tinham títulos e subtítulos atraentes. A diagramação destacava assuntos em boxes e vinhetas, e a capa trazia muitas fotografias — o jornal foi pioneiro no uso da fotorreportagem, técnica até então exclusiva das revistas ilustradas, que valorizava a imagem como síntese da notícia.
Oferecendo bons salários, Wainer formou um grande time de jornalistas. João Saldanha escrevia sobre futebol; Sérgio Porto assinava artigos como Stanislaw Ponte Preta; e Nelson Rodrigues escrevia suas crônicas sob o título “A vida como ela é”. O jornalista Luiz Costa assinava a coluna que era um diferencial em relação aos concorrentes, “O dia do presidente”, que trazia notícias exclusivas sobre o expediente no palácio do Catete e o cotidiano de Getúlio. A originalidade gráfica e a qualidade do conteúdo garantiram o sucesso do jornal.
O êxito logo fez surgir uma feroz campanha contra seu fundador. Wainer foi acusado por Carlos Lacerda, dono do concorrente “Tribuna da Imprensa” e ferrenho opositor de Getúlio, de favorecimento na obtenção de empréstimos do Banco do Brasil e até de não ser brasileiro nato, o que o impediria legalmente de controlar uma empresa jornalística. Duas Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs) foram instaladas no Congresso, mas nada foi provado contra Wainer — que chegou a ser detido, porém logo liberado.
O ”Ultima Hora” seguiu apoiando Getúlio e rebatendo os apelos por uma intervenção militar, mas não evitou o desfecho trágico da crise provocada pelo atentado contra Lacerda. Em 24 de agosto de 1954, o jornal publicou, em edição extraordinária: “O presidente cumpriu a palavra — só morto sairei do Catete”, sobre o suicídio de Getúlio, cujos apoiadores logo tomaram as ruas da capital, atacaram os jornais e rádios da oposição e incendiaram carros da imprensa. Aquela edição do "Ultima Hora” vendeu 800 mil cópias, um recorde.
O jornal seguiu apoiando o ideário trabalhista após a morte de Getúlio, em linha oposta à dos concorrentes. Entre 1954 e 1955, combateu o governo Café Filho e enfrentou uma grave crise financeira. Apoiou a candidatura de Juscelino Kubitschek, seu programa de governo e a construção de Brasília. A partir de 1961, defendeu o governo João Goulart e as Reformas de Base. No período em que Lacerda foi governador da Guanabara (1960-1965), a redação do “Ultima Hora” sofreu vários cercos policiais. Em 1964, foi o único veículo da grande imprensa a se opor ao golpe.
Na ditadura, o jornal teve sedes depredadas no Rio de Janeiro e no Recife. Wainer teve seus direitos políticos cassados e exilou-se na França, retornando ao Brasil em 1967 para reassumir a direção do jornal. Até 1972, quando foi vendida, "Ultima Hora” sobreviveu sob grande pressão da ditadura.