Uma novidade chegou às bancas de jornal da cidade do Rio de Janeiro naquele sábado, 26 de abril de 1952: a revista “Manchete”, com sua capa impressa em cores que a destacava das outras publicações. Apesar da forte concorrência da revista “O Cruzeiro”, dos Diários Associados, líder no segmento, seu criador, Adolpho Bloch, confiava haver espaço para mais uma revista semanal de variedades.
A logomarca da “Manchete” chamava a atenção dos compradores: o M inicial aparecia em amarelo, e os demais caracteres, em preto, tudo sobre um fundo vermelho. Atuando no ramo gráfico havia cerca de 30 anos, a família Bloch soube combinar inovações editoriais com os recursos técnicos propiciados por seu moderno parque industrial.
Mirando o sucesso, Bloch contratou um corpo de repórteres, escritores, fotógrafos e cronistas de peso em suas respectivas áreas. A revista apostava também na boa combinação entre fotografia e narrativa jornalística: o fotojornalismo. Mas, com o tempo, “Manchete” ficaria conhecida também por sua proximidade com o poder.
O lema da revista era atrativo e promissor: “Aconteceu, virou Manchete”. De fato, “Manchete” trazia matérias sobre os mais variados temas: esporte, celebridades de dentro e fora do país, grandes acontecimentos, comportamento, política nacional e internacional, moda, concursos de beleza, tragédias e inovações científicas, além de colunas sociais. Criou também colunas autorais, como “O episódio da semana”, do jornalista Sérgio Porto, e “Meu personagem da semana”, de Nelson Rodrigues.
Em fevereiro de 1953, “Manchete” publicou, na quarta-feira de cinzas, sua primeira edição especial sobre o carnaval do Rio de Janeiro, com reportagens sobre os desfiles das escolas de samba e os bailes mais concorridos da cidade, ilustradas por grandes fotos coloridas. A partir daí, os leitores de todo Brasil passaram a aguardar o fim do carnaval para ler (e ver) a cobertura da “Manchete”.
Os grandes acontecimentos políticos nacionais mereciam destaque. Em 1954, por ocasião do atentado contra o jornalista Carlos Lacerda, “Manchete” abriu espaço para um dos principais críticos do presidente Getúlio Vargas, o brigadeiro Eduardo Gomes, da UDN. Afinal, seu grupo poderia subir ao poder se a crise levasse à renúncia de Vargas. A edição já estava sendo impressa quando Bloch soube do suicídio do presidente. Mandou parar as rotativas e trocar a capa. As críticas deram lugar a rasgados elogios ao presidente morto, que naquele momento era chorado pelo povo revoltado nas ruas. A edição esgotou-se à noite.
A partir daí, a cobertura política de “Manchete”, comandada por seu dono, fez da revista um veículo de propaganda de diversos governos. Durante a presidência de Juscelino Kubitschek, amigo pessoal de Bloch, ela foi pródiga em elogios ao governo e à construção de Brasília. Depois, saudou Jânio Quadros por sua criticada condecoração do chanceler cubano Ernesto Che Guevara. Em 1964, pouco antes do golpe, “Manchete” publicou reportagem de página dupla sobre o Comício da Central, destacando positivamente a figura do presidente João Goulart. Veio o golpe, e a revista não demorou a saudar a “revolução” que o derrubou. Para Bloch, a proximidade com o poder contava mais que a coerência editorial.
O grupo expandiu-se durante a ditadura, lançou outras revistas e obteve a concessão dos canais com que montou a Rede Manchete de Televisão. Enfrentando a forte concorrência das Organizações Globo, entrou em crise. Com a falência da Editora Bloch, a revista deixou de circular no ano 2000.