O jornal “Binômio” foi lançado em Belo Horizonte (MG) em 17 de fevereiro de 1952 pelos estudantes José Maria Rabêlo e Euro Arantes. Com poucos recursos e muita criatividade, eles criaram um tabloide semanal que agitou a vida política e social da capital mineira. Inicialmente com quatro páginas, era composto manualmente e impresso em papel barato, numa máquina que rodava cerca de mil exemplares por hora, na própria república estudantil em que viviam. Em seus 12 anos de circulação, o “Binômio” teve colaboradores como Rubem Braga e Paulo Mendes Campos, além de revelar nomes como Ziraldo e Fernando Gabeira, entre outros. Suas edições chegaram a vender até 15 mil exemplares, tiragem alta mesmo para os grandes jornais da época.
O semanário fazia uma oposição irreverente ao então governador Juscelino Kubitschek, a começar pelo título: “Binômio: Sombra e Água Fresca”, que parodiava o programa de ação do governador, o “binômio Energia e Transporte”, ironizando seu gosto por festas, bailes e serenatas. Como o governador viajava muito, o “Binômio” registrou certa vez: “De passagem por Belo Horizonte, Juscelino fala ao ‘Binômio’”.
Criticando os grandes veículos de comunicação da época, “Binômio” apresentou-se, na primeira edição, como um “órgão quase independente”, explicando: “Temos 99% de independência e 1% de ligações suspeitas. O oposto exatamente do que acontece com nossos ilustres confrades, que têm 1% de independência e 99% de ligações suspeitas”.
Se Juscelino não se incomodava com as críticas, e até se divertia com elas, outros políticos se irritavam, a ponto de pedir a apreensão e até o fechamento do jornal. Américo Renê Giannetti, por exemplo, foi prefeito de Belo Horizonte e havia perdido a visão de um dos olhos. “Binômio” publicou: “Em terra de cego, quem tem um olho é prefeito”.
Acusado de ser pornográfico e obsceno, o jornal revidou anunciando: “no próximo domingo o ‘Binômio’ circulará extraordinariamente com uma edição imprópria para menores de 18 anos. Esse número o senhor não deve levar para casa. É apenas para ser lido e rasgado imediatamente”. Para não ser apreendido, aquele número do “Binômio” foi às bancas um dia antes, no sábado, reproduzindo notícias escabrosas e grosseiras de outros jornais brasileiros, indicando apenas o nome do veículo e a data de publicação. A edição vendeu mais de 32.500 exemplares.
A partir de 1956 o “Binômio” passou a ser duramente combatido pelo governador Francisco Bias Fortes, que chegou a proibir as gráficas mineiras de o imprimirem — o jornal havia informado os leitores sobre um processo judicial no qual o prefeito era acusado de peculato e formação de quadrilha. Os editores então se viram obrigados a procurar uma gráfica de fora, e o jornal passou a ser impresso no Rio de Janeiro, com melhor qualidade gráfica (utilizando duas cores), o que o tornou mais atraente. Resultado: as vendas aumentaram.
O “Binômio” foi o único veículo a cobrir localmente o massacre de operários no acampamento da construtora Pacheco Fernandes durante a construção de Brasília. Noticiou a intensa mobilização pela reforma agrária na região da Zona da Mata de Minas Gerais e criou o primeiro caderno de serviços ao leitor da imprensa mineira. A partir de 1961, engajou-se na defesa das Reformas de Base e, no início de 1964, denunciou a articulação do golpe civil-militar contra o presidente João Goulart.
Com a prisão e perseguição de seus dirigentes e a destruição de seu equipamento gráfico, o “Binômio” teve sua voz calada no início da ditadura militar.