Intérpretes do Brasil

Helio Jaguaribe

(Foto: Arquivo Público do Estado de São Paulo)

O nacionalismo [...] não é imposição de nossas peculiaridades, nem simples expressão de características nacionais. É, ao contrário, um meio para atingir um fim: o desenvolvimento. E como tal deve ser exercido, mediante o emprego dos instrumentos mais adequados para a realização desse fim.
“O Nacionalismo na Atualidade Brasileira”, 1958.

 
Helio Jaguaribe durante entrevista a jornalistas do “Ultima Hora” em 1955.
(Foto: Arquivo Público do Estado de São Paulo)

Helio Jaguaribe Gomes de Mattos foi defensor de um nacionalismo pragmático que, a seu ver, deveria explorar os constrangimentos da Guerra Fria em favor do desenvolvimento nacional. Suas principais publicações, nos anos 1950, foram "Condições Institucionais do Desenvolvimento", de 1957, e "O Nacionalismo na Atualidade Brasileira", de 1958, ambos publicados pelo Instituto Superior de Estudos Brasileiros (Iseb). Foi também autor de formulações inaugurais sobre a política externa do Brasil, influenciando a exploração de novos caminhos de inserção internacional pelo Ministério das Relações Exteriores, no início dos anos 1960.

Jaguaribe nasceu no Rio de Janeiro, em 1923, filho de mãe portuguesa e de pai general do Exército. Formou-se em Direito pela Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio de Janeiro em 1946 mas, em sua produção intelectual, dialogou com todas as áreas das Ciências Sociais.

Em 1952 integrou o Grupo Itatiaia, composto por intelectuais que se reuniam naquela cidade fluminense para discutir os problemas do Brasil. No ano seguinte, seria um dos fundadores do Instituto Brasileiro de Economia, Sociologia e Política (Ibesp). Em 1955 tornou-
-se membro do conselho curador e chefe do departamento de Ciência Política do Iseb.

Em "O Nacionalismo na Atualidade Brasileira", Jaguaribe aborda a evolução do pensamento nacionalista brasileiro desde 1930, analisando seus desdobramentos mais importantes, como a campanha que resultou na criação da Petrobrás e as disputas entre nacionalistas e “entreguistas” nos anos 1950. Argumentava que o nacionalismo deveria ser pragmático e instrumental, servindo para o desenvolvimento nacional e não como um fim em si mesmo. Por isso, não se opunha à participação do capital estrangeiro na economia, embora defendesse o planejamento estatal. Com relação à política externa, era favorável a uma postura neutra: o importante era que a inserção internacional do Brasil favorecesse o seu desenvolvimento.

Esses argumentos lhe renderam críticas da União Nacional dos Estudantes (UNE) e de alguns membros do Iseb. A publicação dessa obra, em 1958, deflagrou um debate revelador das divisões internas do Iseb, o que o levaria a se afastar do instituto no ano seguinte, embora continuasse atuando como intelectual público independente.

Com o golpe de 1964, temendo perseguições políticas, mudou-se para os Estados Unidos, onde lecionou em algumas universidades. Voltou ao Brasil em 1969 e integrou-se à Faculdade Cândido Mendes. Desde 2005, ocupa a cadeira nº 11 da Academia Brasileira de Letras.

 

Principais obras 

Condições Institucionais do Desenvolvimento, 1957.

O Nacionalismo na Atualidade Brasileira, 1958.