O nosso grande dever é preservar nossa personalidade, conservá-la, desenvolvê-la. Sermos nós mesmos. Se não formos nós mesmos, se cedermos nossa personalidade, não poderemos dar nada ao mundo. Não fabricaremos História, a verdadeira história nacional. A minoria educada — educada por uma visão histórica falseada — e a maioria deseducada, insuficiente e deprimida, ainda não se uniram em nossa história, e só neste dia será possível a aceleração do progresso nacional. [...] Por isso mesmo toda a história política do Brasil [...] se caracteriza não como um modelo do consenso social ou um campo de controvérsia, mas como um exemplo de omissão. E é com esta que se tem tentado e conseguido os maiores atentados aos seus direitos políticos. [...] É preciso [...] que a História possa libertar-nos periodicamente das formas caducas; é preciso conservar o espírito aberto a toda a grandeza histórica.
“Aspirações Nacionais: Interpretação Histórico-Política”, 1963
José Honório Rodrigues foi um dos mais destacados historiadores brasileiros do século 20, autor de uma obra que abordou temas e períodos diversos. Embora frequentemente excluído da galeria de intérpretes do Brasil, sua leitura da formação política do país repercute hoje quase como um lugar comum, tanto nos estudos históricos como nos projetos políticos comprometidos com valores democráticos e participação popular.
Honório nasceu no Rio de Janeiro em 1913 e cresceu respirando a atmosfera cosmopolita da então capital brasileira — morava na rua do Catete, a poucos metros do palácio do governo. Graduou-se pela Faculdade de Direito do Rio de Janeiro em 1937 e, naquele mesmo ano, ganhou o prêmio de erudição da Academia Brasileira de Letras pelo ensaio "Civilização Holandesa no Brasil", escrito em parceria com Joaquim Ribeiro.
Como bolsista da Fundação Rockefeller, participou de cursos de História nos Estados Unidos; de volta ao Brasil, tornou-se professor de História do Brasil do Instituto Rio Branco. Suas notas de aula resultaram na publicação de "Teoria da História do Brasil: Introdução Metodológica" (1949).
Em 1955 passou a integrar o quadro de estagiários da Escola Superior de Guerra (ESG) e três anos depois tornou-se diretor do Arquivo Nacional. Em 1961, publicou um trabalho original sobre os “outros horizontes” da relação Brasil-África e, em 1963, publicou sua primeira análise interpretativa do Brasil, "Aspirações Nacionais: Interpretação Histórico-Política".
Em 1965 — já afastado do Arquivo Nacional e da ESG após o golpe militar — publicou "Conciliação e Reforma no Brasil: um Desafio Histórico-Cultural", livro que complementa as teses apresentadas dois anos antes.
Embora seja reconhecido por seu pioneirismo em estudos de Teoria da História e da Historiografia no Brasil, é frequente e equivocada a suposição de que sua obra tenha se limitado a esse campo do conhecimento. Verdadeiro intérprete do Brasil, Honório Rodrigues demonstrou que, em nossa formação social, destaca-se um processo de “conciliação pelo alto”, entre membros das classes dominantes, ficando o povo brasileiro como ator secundário, “capado e sem voz, subjugado e sangrado”.
Em "Aspirações Nacionais", ele narra a “história cruenta” de uma elite formada por “liberticidas do povo”, que reproduz, em benefício próprio, uma estrutura agrária e colonial de dominação e corrompe a solução democrática por meio de uma autêntica “conciliação nacional e popular”.
Membro da Academia Brasileira de Letras, morreu no Rio de Janeiro em 1987.
Principais obras
Civilização Holandesa no Brasil, 1940 (com Joaquim Ribeiro).
Teoria da História do Brasil: Introdução Metodológica, 1949.
Brasil e África: Outro Horizonte, 1961.
Aspirações Nacionais: Interpretação Histórico-Política, 1963.
Conciliação e Reforma no Brasil: um Desafio Histórico-Cultural, 1965.