Criar todos os obstáculos à composição de um quadro em que se harmonizem as forças interessadas no desenvolvimento nacional, torna-
-se, assim, a tarefa essencial dos que lutam contra o Nacionalismo, dos que nele veem a ameaça direta ao que representam, dos que verificam a existência de uma possibilidade para o Brasil superar o que nele existe de colonial, realizando-se como nação.
“Raízes Históricas do Nacionalismo Brasileiro”, 1959
Nelson Werneck Sodré teve uma trajetória singular, pois foi ao mesmo tempo um militar de carreira e um intelectual marxista. Sua vasta obra sobre literatura, história, sociedade e economia revela uma preocupação constante em pensar o Brasil e em apontar-lhe caminhos. Nas décadas de 1940 a 1960, seus livros mais importantes foram "Introdução à Revolução Brasileira" (1958), "Raízes Históricas do Nacionalismo Brasileiro" (1959), e "Formação Histórica do Brasil" (1962). Já havia escrito, em 1938, "História da Literatura Brasileira". Após o golpe de 1964 lançou ainda "A História Militar do Brasil" (1965) e "História da Imprensa no Brasil" (1966).
Werneck nasceu no Rio de Janeiro em 1911, e aos 20 anos ingressou na Escola Militar do Realengo, tendo uma carreira vitoriosa no Exército — só passaria à reserva em 1962, já como general. Tornou-se “de esquerda”, como revelou, quando comandava a 9ª Região Militar, em Mato Grosso, e presenciou ações do Exército nos conflitos agrários. Depois, ficou amigo de intelectuais comunistas, como Graciliano Ramos e Jorge Amado, e filiou-se ao Partido Comunista Brasileiro (PCB). Entre 1947 e 1950 dirigiu o curso de História Militar na Escola de Comando e Estado-Maior do Exército; nesse período, participou da campanha “O petróleo é nosso” e apoiou a chapa nacionalista nas eleições do Clube Militar, em 1950.
Werneck tornou-se professor do Instituto Superior de Estudos Brasileiros (Iseb), criado em 1955, e ali construiu pontes teóricas entre o marxismo e o nacional-desenvolvimentismo. Apontava como principal problema do Brasil a herança do passado colonial, o que só seria vencido com uma revolução nacional e democrática. Superado o caráter transplantado de sua cultura, pelo nacionalismo popular, e a natureza dependente de sua economia, pela industrialização, o país derrotaria os maiores obstáculos à sua autonomia: o imperialismo e o latifúndio. Para isso, defendia a reforma agrária, a nacionalização das empresas estrangeiras e a ampliação das relações capitalistas.
Werneck apoiou as Reformas de Base do governo João Goulart; participou da coleção Cadernos do Povo Brasileiro, coordenada por Ênio da Silveira e Álvaro Vieira Pinto, e do projeto História Nova do Brasil, promovido pelo MEC, que produziu material didático com visão crítica para ensino de História no segundo grau.
Após o golpe de 1964, ficou 57 dias preso e foi proibido de ensinar. Em 1995, publicou sua última obra, “A Farsa do Neoliberalismo”.
Morreu em Itu (SP) em 1999.
Principal obra
Raízes Históricas do Nacionalismo Brasileiro, 1959.