Centralismo, verbalismo, antidialogação, autoritarismo, “assistencialização” são manifestações de nossa “inexperiência democrática”, conformada em atitudes ou disposições mentais, constituindo, tudo isso, um dos dados da realidade. Dos mais fortes. Dos mais presentes. Dos mais perturbadores do ritmo de nossa democratização, outro dado de nossa atualidade, situado mais no hoje desta atualidade. Por isso mesmo é que insistimos tanto [...] na necessidade de descentralização educativa, sempre estrangulada pelo autoritarismo, que empresta ao centro ou aos centros, força messianicamente salvadora e, assim, protecionistamente antidemocrática, e continuamos hipertrofiadamente centralizados. Por isso mesmo é que falamos tanto, em termos teóricos, na necessidade de uma vinculação da nossa escola com sua realidade local, regional e nacional.
“Educação e Atualidade Brasileira”, 1959
Paulo Reglus Neves Freire foi um dos educadores brasileiros mais prestigiados do século 20, reconhecido mundialmente por seu pensamento pedagógico e por seu método de ensino inovador. Em sua vasta obra, sustentou a ideia de que educar significa promover a capacidade de interpretar o mundo e agir para transformá-lo.
Paulo Freire nasceu em Recife (PE) em 1921 e já na infância experimentou métodos pouco ortodoxos de educação: na falta de lápis, sua mãe o ensinou a formar letras e números com gravetos, nas aulas que ministrava à sombra da mangueira do quintal. Aos 25 anos, Freire graduou-se pela Escola de Direito do Recife e logo começou a advogar, mas desistiu para tornar-se professor de Português em um curso ginasial.
Em 1947 foi designado para a diretoria do setor de Educação e Cultura do Serviço Social da Indústria (Sesi) de Pernambuco, onde permaneceu até 1957. Dois anos depois doutorou-se em Filosofia e História da Educação na antiga Escola de Belas-Artes do Recife.
No início dos anos 1960, já como professor universitário, envolveu-se com o Movimento de Cultura Popular (MCP) em Pernambuco. Nessa época fez suas primeiras experiências com a alfabetização de adultos, na região de Angicos (RN), a partir das quais desenvolveu o método que lhe daria projeção e o levaria à presidência da Comissão Nacional de Alfabetização.
Sobreveio, porém, o golpe civil-militar de 1964. Freire passou 72 dias na prisão e foi expulso do país. Exilado no Chile, desenvolveu uma intensa atividade internacional, atuando em projetos educacionais e denunciando a ditadura no Brasil. Esteve na Suíça, Estados Unidos, México, Canadá, Angola e Guiné-Bissau. Retornou ao Brasil em 1980, após 16 anos de exílio.
Em 1989, na gestão petista de Luíza Erundina, foi nomeado secretário municipal da Educação em São Paulo, cargo que exerceu até 1991.
Morreu em São Paulo, em 1997.
Dedicada “aos esfarrapados do mundo e aos que com eles sofrem”, o livro "Pedagogia do Oprimido" (publicado em inglês e espanhol em 1970, mas em português somente em 1974) é tido como sua obra-síntese, por difundir mundialmente sua concepção do ato de educar como ato político. Mas a obra que o lançou como um genuíno intérprete do Brasil foi "Educação e Atualidade Brasileira", publicada em 1959 com base na tese de doutorado apresentada em 1958. Nela, Freire procura responder à seguinte questão: por que o espírito democrático parece não ter ainda se desenvolvido no povo brasileiro? A resposta é uma interpretação política do Brasil, em que ele define o papel da educação como instrumento fundamental para a consolidação da democracia, entendida não apenas como forma de governo, mas como transformação da “forma de vida”.
Principais obras
Educação e Atualidade Brasileira, 1959.
Pedagogia do Oprimido, 1974.
Pedagogia da Esperança: um Reencontro com a Pedagogia do Oprimido, 1992.