De há muito que esta pergunta anda no ar em busca de uma resposta em grande: como foi possível aos Estados Unidos, país mais novo do que o Brasil e menor em superfície continental contínua, realizar o progresso quase milagroso que realizaram [...], quando o nosso país, com mais de um século de antecedência histórica, ainda se apresenta [...] apenas como o incerto país do futuro? [...] Trata-se, portanto, de uma indagação que existe e que, à proporção que se ampliam as relações entre Brasil e Estados Unidos, e com elas as possibilidades de confronto entre as duas civilizações, em lugar de cessar, se vai cada vez mais entranhando na consciência nacional, tornando a bem dizer imperiosa a necessidade de procurar-lhe, senão uma resposta definitiva, pelo menos uma explicação à altura de sua importância. “Bandeirantes e Pioneiros” [...] nada mais é, na sua intransigente sinceridade, do que uma tentativa honesta neste sentido.
“Bandeirantes e Pioneiros: Paralelo entre Duas Culturas”, 1955
Clodomir Vianna Moog foi um intelectual movido pela vontade de realizar uma intepretação “nativa” do desenvolvimento cultural do Brasil, objetivo que alcançou com sua escrita leve, abordagens originais e leituras polêmicas. Para o escritor Erico Verissimo, algumas de suas obras entram “na nossa história literária ombro a ombro com 'Casa-Grande & Senzala', de Gilberto Freyre”.
Gaúcho de São Leopoldo, Vianna Moog nasceu em 1906 e, em 1925, entrou para a Faculdade Livre de Direito de Porto Alegre, graduando-se em 1930. No ano seguinte, tornou-se fiscal tributário em Santa Cruz do Sul e Rio Grande. Apoiou a candidatura presidencial de Getúlio Vargas pela Aliança Liberal mas, após a Revolução de 1930, tornou-se um crítico severo do Governo Provisório, aderindo ao Movimento Constitucionalista de 1932. Por essa audácia, foi castigado com o exílio na Amazônia, onde ficou até 1934.
Com o fim do Estado Novo, e já como um “imortal” da Academia Brasileira de Letras, Vianna Moog passou a integrar, em 1946, a Delegacia do Tesouro Brasileiro em Nova York, cargo que ocupou até ser indicado representante do Brasil na Comissão de Questões Sociais da ONU, em 1950. Nesse período, coletou informações para explicar a mitificação de Abraham Lincoln naquele país. Desse esforço resultaria a publicação, em 1968, de seu último livro, "Em Busca de Lincoln".
Em 1943 Moog lançou "Uma Interpretação da Literatura Brasileira”, uma polêmica análise “antropogeográfica” da produção literária no Brasil, que ele definia como um arquipélago de sete “ilhas de cultura mais ou menos autônomas e diferenciadas”. Mas foi "Bandeirantes e Pioneiros: Paralelo entre Duas Culturas" (1955) que fixou seu nome entre os intérpretes do Brasil.
Nesse livro, Vianna Moog valeu-se de um método comparativo para negar a tese da superioridade racial dos norte-americanos sobre os brasileiros e investigou a diferença nos ritmos de desenvolvimento dos dois países. Não se limitou, porém, a apontar as grandes diferenças entre o Brasil dos bandeirantes e os Estados Unidos dos pioneiros. Identificou também semelhanças surpreendentes e estabeleceu um paralelo original entre Lincoln e Aleijadinho, que “parecem deter o segredo de tudo que falta” às duas culturas: o primeiro, com o gosto pela vida contemplativa, a convicção sobre a igualdade entre os homens e o sentido de unidade do mundo; o segundo, com o amor ao trabalho, o espírito associativo e o agudo senso de iniciativa.
Vianna Moog morreu no Rio de Janeiro, em 1988, aos 81 anos.
Principais obras
Uma Interpretação da Literatura Brasileira, 1943.
Bandeirantes e Pioneiros: Paralelo entre Duas Culturas, 1955.
Em Busca de Lincoln, 1968.