Intérpretes do Brasil

Guerreiro Ramos

(Foto: Conteúdo Estadão AE)

Articulando o seu pensamento com a prática social, o sociólogo, que deixou de ser mentalmente colonizado, passa de consumidor passivo de ideias importadas a instrumentador e até mesmo a produtor de novas ideias destinadas à exportação. Provavelmente, em breve, será despertada a atenção dos estudiosos para o fato de que temos, hoje, no Brasil, uma teoria sociológica geral mais penetrante e avançada do que a
norte-americana, capaz inclusive de envolvê-la e explicá-la.

“A Redução Sociológica”, 1958

 

O sociólogo Guerreiro Ramos faz palestra no Rio de Janeiro, em 1958.
(Foto: Conteúdo Estadão AE)

Alberto Guerreiro Ramos foi um dos principais pensadores da questão racial no Brasil na primeira metade do século 20 e defensor de uma sociologia engajada na solução dos problemas sociais do país. A diversidade temática de sua obra demonstra sua importância, embora hoje seja mais lembrado como analista da administração pública.

Como outros intelectuais de seu tempo, Guerreiro Ramos também tentou responder por que o Brasil não dava certo. Seus livros mais importantes foram "Uma Introdução ao Histórico da Organização Racional do Trabalho", de 1950; "Cartilha Brasileira do Aprendiz de Sociólogo", de 1954; "A Redução Sociológica", de 1958; e "Mito e Verdade da Revolução Brasileira", de 1963.

Baiano de Santo Amaro, nasceu em 1915 e diplomou-se em Ciências Sociais e Direito pela Universidade do Brasil. Nos anos 1930, filiou-se ao integralismo (do qual logo se afastou), publicou poemas de tom religioso e voltou-se para a questão racial, sendo cofundador, com Abdias do Nascimento, do Teatro Experimental do Negro (1944).

Em 1943 passou a trabalhar no Departamento de Administração do Serviço Público (Dasp) e a interessar-se pela sociologia da administração pública, área em que se tornou referência.

Em 1949 assumiu a direção do Instituto Nacional do Negro e teve forte atuação em defesa de maior integração social dos afrodescendentes e da positivação de seus valores, criticando o padrão estético europeu artificialmente adotado pelo Brasil, em detrimento de outras contribuições étnico-culturais.

Em 1952, começou a trabalhar na Casa Civil do segundo governo Vargas e, entre 1955 e 1959, dirigiu a área de sociologia do Instituto Superior de Estudos Brasileiros (Iseb).

Em "A Redução Sociológica: Introdução ao Estudo da Razão Sociológica", Guerreiro defende a constituição de uma sociologia autenticamente brasileira, com foco em nossos problemas, engajada e não academicista, em contraposição ao conhecimento “enlatado” e lastreado em conceitos formulados para outras realidades.

Nos anos 1960 filiou-se ao Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) e, em 1962, elegeu-se suplente do deputado federal Leonel Brizola, assumindo o mandato no ano seguinte. Na Câmara, defendeu a maior atuação econômica do Estado, a nacionalização da indústria farmacêutica e o monopólio estatal do petróleo.

Cassado pela ditadura, chamado pelos golpistas de “negro metido a sociólogo”, exilou-se em 1966 nos Estados Unidos, tornando-se professor da Universidade da Carolina do Sul.

Morreu em Los Angeles, em 1982, sem voltar ao Brasil.

Principais obras 

Uma Introdução ao Histórico da Organização Racional do Trabalho, 1950.

Cartilha Brasileira do Aprendiz de Sociólogo, 1954.

A Redução Sociológica, 1958.

Mito e Verdade da Revolução Brasileira, 1963.



A redução sociológica: introdução ao estudo da razão sociológica, de Guerreiro Ramos