América Latina

Peru

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Terra ou Morte: Hugo Blanco e o surgimento da luta armada no Peru  

Os movimentos de guerrilha no Peru, assim como os de quase toda a América Latina, foram influenciados diretamente pela Revolução Cubana de 1959. Uma das razões para isso reside nas chamadas “condições objetivas” do país, que naqueles anos 1950 e 1960 era um dos mais pobres do continente. A vitória dos revolucionários cubanos alimentou as expectativas de, pela insurreição armada, chegar ao poder e instaurar um governo popular.

Hugo Blanco Galdós, líder da campanha Terra ou Morte. Crédito: Reprodução
Hugo Blanco Galdós, líder da campanha Terra ou Morte (Foto: Reprodução)

Os primeiros movimentos de luta armada do Peru tiveram início na região rural de Cuzco, por iniciativa de Hugo Blanco Galdós. Filho de advogado, Blanco nasceu em Cuzco em 1933 e trabalhou como operário de um frigorífico para bancar seus estudos na Universidade do Plata, na Argentina, onde teve contato com as teorias marxistas. De volta ao Peru em 1956, filiou-se ao clandestino Partido Obreiro Revolucionário, de linha trotskista.

Blanco se tornaria conhecido em toda a América Latina por sua luta contra os grandes proprietários de terra — que detinham cerca de 80% do território peruano — e pela melhoria das condições de vida da população indígena. Na região rural de Valle de La Convención, ele iniciou o trabalho revolucionário de organizar os camponeses em sindicatos, por onde seria possível atuar politicamente.

Entre 1961 e 1963, Blanco liderou a campanha Terra ou Morte, que promoveu grandes manifestações e a invasão de latifúndios com o objetivo de expropriar as terras e realizar a reformar agrária. Em 16 de dezembro de 1962, por exemplo, 15 mil camponeses se reuniram na praça de armas da cidade de Quillabamba, assustando as autoridades que até então desconheciam a capacidade dos camponeses de se organizar politicamente.

Nas palavras de Hugo Blanco aos camponeses, a terra chegaria “às suas mãos apenas pela força, e seria preciso enfrentar o inimigo com armas, até a derrota dos exploradores, para a substituí-los por um governo de operários e camponeses”.

A guerrilha, porém, teve vida curta: foi derrotada em 1963, surpreendida por um ataque violento das forças de repressão. Blanco foi capturado e condenado a 25 anos de prisão. Oito anos depois, após intensa campanha que ultrapassou as fronteiras peruanas e teve apoio de diversos intelectuais, como Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir, Hugo Blanco Galdós foi solto e deportado.

Literatura 

Livro: “Redoble por Rancas” (1970)
Autor: Manuel Scorza (1928-1983), Peru

Redoble por Rancas, de Manuel Scorza

Traduzido no Brasil como “Bom Dia para os Defuntos”, o romance é um conjunto dos cinco livros de Manuel Scorza que narram a luta histórica dos camponeses peruanos pela posse de suas terras.

“Redoble por Rancas” faz referência, especificamente, à onda de conflitos — contra a mineradora norte-americana Cerro de Pasco Copper Corporation e contra o latifúndio — travados na região dos Andes entre 1950 e 1962. Esses conflitos quase sempre terminavam com o massacre dos camponeses e pouco foram lembrados pela historiografia — esse foi a motivação de Scorza, que dedicou sua obra a dar visibilidade política e literária a esses acontecimentos.

O personagem central do romance é um tanto quanto insólito: uma cerca de arame farpado guardada por capangas armados até os dentes. Uma cerca que avança inexoravelmente, que “no tiene hambre o fadiga” e que, para proteger as terras adquiridas pela Cerro de Pasco, empurra os camponeses para longe de suas terras. Para estes, “ya no existía escape, ni perdón, ni regreso”.  

Poucos anos antes de publicar o livro, Scorza escreveu um poema em homenagem a Túpac Amaru, cujos versos finais sintetizam seu projeto literário:

[…]
Que sobre sus sombras rotas,
sobre sus sonrisas quemadas,
sobre sus sueños volcados,
sobre sus nombres pisoteados,
Monten guardia hasta la última geración los arcoiris.

Fueron derrotados, no vencidos.
Ni com espada, ni com cadena, obtiene el hombre victoria.
Sobre las ruinas siempre avanza el alba com banderas.

Sugestões de leitura

  • “Poemas Humanos” (1939) — César Vallejo
  • “Los Ríos Profundos” (1958) — José María Arguedas
  • “Un Mundo para Julius” (1970) — Alfredo Bryce Echenique
  • “História de Mayta (1984) — Mário Vargas Llosa