América Latina

Cuba

(Foto: Wikimedia Commons)

A Revolução Cubana

A Revolução Cubana que saiu vitoriosa em 1959 era de caráter nacionalista e anti-imperialista, pois pretendia dar aos cubanos a soberania sobre seu próprio país e extirpar de vez qualquer tipo de dominação estrangeira — isto é, dos Estados Unidos. No dia 26 de julho de 1953, o grupo rebelde liderado por Fidel Castro deu o primeiro passo para derrubar o governo de Fulgencio Batista, que, em conformidade com os interesses norte-americanos, dominava a política da ilha desde a década de 1930.

Filho de um rico proprietário de terras, Fidel Castro formara-se em Direito e tinha grande vocação política. Contava 26 anos quando participou do assalto ao quartel Moncada, em Havana. A ação, que envolveu uma centena de rebeldes, pretendia se apossar do arsenal ali armazenado. O confronto com a polícia foi sangrento, e quase todos os rebeldes acabaram presos, inclusive Fidel e seu irmão, Raúl Castro.  Fulgencio mandou retaliar: dez prisioneiros por cada soldado morto. A ordem foi seguida à risca, e 70 dos rebeldes presos foram assassinados, alguns sob tortura.

Exilado no México, Fidel Castro começou a articular uma nova tentativa de golpe. Na Cidade do México conheceu Ernesto Guevara de la Serna, o “Che” — um encontro determinante para a história de Cuba e da América Latina. Guevara ampliou os horizontes de Fidel Castro, oferecendo sua experiência revolucionária adquirida ao longo das viagens pelo continente; Castro, por sua vez, deu a Guevara uma causa política imediata, que havia tanto tempo ele procurava. Juntos, pensaram na forma de luta ideal para depor Fulgencio Batista.

A opção foi a luta de guerrilhas. Com esse objetivo, fundaram o Movimento 26 de Julho (M-26), organização clandestina destinada a angariar recursos, arregimentar rebeldes e treiná-los para a guerrilha rural. Após os preparativos, pouco mais de oitenta revolucionários embarcaram no iate Granma e percorreram quase dois mil quilômetros pelo agitado golfo do México, com destino a Cuba.

Fidel Castro e Che Guevara, na cidade do México, onde foram realizados os preparativos para a Revolução Foto: OAH
Fidel Castro e Che Guevara na Cidade do México, onde se conheceram e planejaram a Revolução Cubana (Foto: OAH)

 

O plano era desembarcar na serra Maestra no mesmo dia em que estava programado um levante em Santiago de Cuba e um novo assalto ao quartel Moncada. Isso deveria, a um só tempo, desviar a atenção das tropas de Batista em relação à chegada dos guerrilheiros. O Granma, porém, chegou à serra Maestra com dois dias de atraso. Os rebeldes foram recepcionados por tropas do Exército, e seguiu-se um longo ataque, com ataque terrestre e apoio de bombardeios. Vários dos guerrilheiros acabaram mortos, 22 foram capturados, e apenas 12 escaparam pela mata da serra Maestra. Em seus diários, Che Guevara relata que eles só se reencontraram após 10 dias, depois de vagar sem rumo, esfomeados e exaustos.

Em fins de 1958 estavam preparadas as colunas guerrilheiras, lideradas por Fidel, Raúl Castro, Camilo Cinfuegos e Che Guevara. Em conjunto, elas somavam quase 250 homens — na maioria, camponeses. A estratégia era descer a serra e ir tomando as cidades importantes até chegar a Havana.

A luta avançou com pouca resistência por parte dos norte-americanos. No dia 2 de janeiro de 1959, Fidel Castro chegou a Santiago de Cuba e fez seu primeiro discurso em nome da revolução vitoriosa, anunciando que “desta vez não será como em 1895, quando os norte-americanos vieram e tomaram conta do nosso país. Desta vez, felizmente, a revolução irá realmente chegar ao poder”.

Fidel Castro e Che Guevara se tornaram ícones do chamado “Terceiro Mundo”
Fidel Castro e Che Guevara conversam em 1959, após a vitória da revolução  (Foto: OAH)

Fidel Castro decidira marchar de Santiago de Cuba à capital, percorrendo toda a extensão da ilha em uma espécie de caravana, junto com o exército rebelde. Quando soube que os rebeldes se aproximavam de Havana, Fulgencio Batista, junto com seus familiares e alguns aliados políticos, deixou a cidade.

Quando os revolucionários chegaram a Havana, em 8 de janeiro, a cidade já estava sob controle. Começaram então as manobras políticas para o estabelecimento do novo governo. Conforme acordos prévios, Manuel Urrutia Lleó foi nomeado presidente, e José Miró Cardona, primeiro-ministro — embora Fidel Castro, em termos práticos, governasse realmente a ilha.

A Revolução Cubana exerceu grande fascínio nos países do chamado Terceiro Mundo. Fidel e Che defendiam a ideia de que era preciso exportar a Revolução para os outros países da América Latina e África, que estavam amarrados à história colonial. O governo revolucionário cubano ofereceu apoio financeiro a diversos movimentos de libertação nacional, assim como treinamento guerrilheiro para militantes de organizações clandestinas, com o objetivo de impulsionar a revolução no Terceiro Mundo.

Che Guevara personificou essa política e esteve pessoalmente envolvido nas guerras de independência do Congo e de Angola. Manifestou-se contra a aproximação do governo cubano com a União Soviética, temendo que a ilha, recém-saída de uma dominação imperialista, caísse em outra. Por isso, não era bem-visto por nenhuma das duas grandes potências.

Guevara foi assassinado em 1967 pelas forças militares bolivianas, quando organizava um foco guerrilheiro nas matas do país. Depois disso, o sonho de libertação continental arrefeceu.

Galeria 

Nos primeiros meses, centenas de “inimigos da revolução” foram fuzilados no Paredón. Crédito: Reprodução
Nos primeiros meses, centenas de “inimigos da revolução” foram fuzilados no “paredón” (Foto: Reprodução)
Fidel Castro discursa na vitória da Revolução Cubana. (Foto: Wikimedia Commons)
Fidel Castro discursa na vitória da Revolução Cubana (Foto: Wikimedia Commons)

 

Literatura

Livro: “El Siglo de las Luces” (1962)
Autor: Alejo Carpentier (1904-1980), Cuba

El siglo de las luces (1962) - Alejo Carpentier

Quando em 1959 a Revolução Cubana tornou-se vitoriosa, Alejo Carpentier retornou imediatamente à ilha, deixando o exílio. Crítico musical, ensaísta e escritor, Carpentier é considerado um dos nomes mais influentes da literatura latino-americana do século 20, por ter lançando as bases do chamado “realismo maravilhoso”.

Seu retorno a Cuba tinha um objetivo declarado: colocar-se a serviço da revolução. No início dos anos 1960, Carpentier exerceu diversas funções na política cultural na ilha — por exemplo, vice-presidente da União de Escritores e Artistas (Unea). Em 1962 publicou o livro “El Siglo de las Luces”, cujo tema central é a difusão das ideias iluministas na América Latina e no Caribe.

A história parte de um personagem real, o francês Victor Hugues, e de outros três personagens caribenhos que se transformam ao entrar em contato com os ideais revolucionários — Carlos, o libertador, que se degenera no desenrolar da revolução; Esteban, o intelectual que não aceita a revolução; e Sofía, o espírito da revolução, que se deixa levar pela vontade coletiva.

De forma implícita, a revolução de “El Siglo de las Luces” pode ser associada ao desenrolar do movimento que Carpentier acompanhara de perto desde 1956, quando o livro começou a ser escrito, até o ano da publicação, em 1962. Ao refazer o percurso incerto das ideias ilustradas na América Latina no século 19, Carpentier assume um compromisso intelectual com a revolução que lhe foi dada para viver e que incendiou o Terceiro Mundo.

Sugestões de leitura

  • "Ismaelillo" (1882) – José Martí
  • "Tengo" (1964) – Nicolás Guillén
  • "Paradiso" (1966) – José Lezama Lima
  • "Tres Tigres Tristes" (1968) – Cabrera Infante
  • "Antes que Anochezca" (1992) – Reinaldo Arenas