Levante de Tupã
TUPÃ JULHO DE 1949O destacamento local da Polícia Militar na cidade de Tupã era comandado, no final da década de 1940, pelo sargento José Ramos Cadima, policial violento conhecido por achacar os trabalhadores rurais da região. Revoltados com a situação, camponeses e militantes do Partido Comunista Brasileiro (PCB) fizeram um abaixo-assinado denunciando as arbitrariedades.
Um protesto foi realizado no dia 10 de julho de 1949, com a participação de mais de 1.500 manifestantes. Houve confronto com a polícia, que acabou recuando e fugindo. A passeata seguiu até o estádio municipal, onde se disputava uma partida de futebol. Muitos torcedores abandonaram o estádio e aderiram ao protesto, que seguiu em direção à casa do vereador Sousa Leão, chefe político do Partido Social Democrático (PSD) e favorável à violência policial.
No dia seguinte, Tupã foi ocupada pelo 4º Batalhão do Exército de Bauru e por agentes do Departamento de Ordem Política e Social (Dops). Cerca de 120 camponeses foram presos e espancados.
Passados dois meses, a polícia de Tupã recebeu a denúncia de que uma reunião do PCB se realizava num sítio próximo. O delegado Renato Imparato reuniu um destacamento fortemente armado, cercou o local e deu início a um tiroteio. Três militantes comunistas foram mortos — Pedro Godói, Miguel Rossi e Afonso Marma —, e doze pessoas ligadas ao movimento camponês foram presas.
Revolta do Arranca-Capim
SANTA FÉ DO SUL 14 DE JUNHO DE 1954Em 1954 os arrendatários Joaquim Nogueira, José Lira Marin e Antônio Barbosa sublocaram, a 300 famílias, as terras em Santa Fé do Sul que haviam arrendado de José Carvalho Dinis (Zico Dinis). Depois de trabalhar dois anos na propriedade, deixando a terra pronta para o cultivo, os sublocadores foram expulsos — o latifundiário e seus agentes pretendiam transformar a propriedade em pastagem de gado durante o inverno.
Mais tarde, a propriedade foi novamente arrendada, dessa vez a 800 famílias. Na época do encerramento dos contratos dos camponeses, em 1959, seus advogados tentaram prorrogar o prazo, mas os arrendadores não só se negaram a receber a notificação como, em represália, mandaram semear capim-colonião no meio das culturas dos lavradores, com intuito de secá-las.
Liderados pelo camponês Jofre Correa Neto, os pequenos arrendatários iniciaram então "operação arranca-capim", removendo todo a pastagem que já começava a brotar nas roças. A luta se intensificou e, com o apoio do Partido Comunista Brasileiro (PCB), os camponeses fundaram, em junho de 1959, a Associação dos Lavradores Agrícolas de Santa Fé do Sul.
Meses mais tarde, Jofre Correia foi baleado por um jagunço a mando de Zico Dinis, na frente da associação. Diante da violência, o governo estadual resolveu enviar seus representantes para mediar as negociações. Os camponeses e Zico Dinis assinaram então um acordo que determinava a permanência das famílias nas terras até julho de 1960. Na mesma época, Jofre Correia foi preso, acusado de incitar a rebelião dos lavradores.
Ao término dos contratos, os camponeses se recusaram a sair e apelaram novamente à intervenção do estado. Zico Dinis mandou soltar mais de 1.500 bois nas terras dos lavradores, destruindo casas e plantações. O ato de violência deu resultado: as famílias restantes de pequenos subarrendatários acertaram suas contas e deixaram as terras.
No final de agosto de 1960, a Associação dos Lavradores de Santa Fé do Sul seus diretores Olímpio Pereira Machado, Arlindo Quirozini e Nercindo Xavier foram processados.
Fazenda Primavera
ANDRADINA 1963No início da década de 1920, as terras da Fazenda Primavera, localizadas no município de Andradina, a 600 quilômetros da capital, haviam sido ocupadas por retirantes vindos das regiões Norte e Nordeste do Brasil.
Com o passar dos anos, aquelas terras se valorizaram, e a região passou a atrair grileiros e fazendeiros. Nos anos 1960, as famílias de camponeses tornaram-se vítimas de violência por parte de fazendeiros e da polícia.
Apropriando-se irregularmente de terras devolutas na região, os fazendeiros da família Abdalla destruíram as roças dos camponeses e os expulsaram das terras. Em resposta, os lavradores buscaram o apoio da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado de São Paulo (Fetag-SP) e da Comissão de Justiça e Paz, ligada à igreja católica, que estimulava a organização pacífica das comunidades em busca de justiça social.
Em 1963, os trabalhadores rurais da Fazenda Primavera saíram em passeata a fim de chamar a atenção para a situação de violência e extorsão a que estavam sendo submetidos, mas nenhuma providência foi tomada: os fazendeiros da família Abdalla continuaram atacando e expulsando os camponeses.
Diante da omissão dos órgãos públicos, a igreja católica intensificou sua participação no movimento de resistência camponesa. A luta duraria décadas, as terras da Fazenda Primavera seriam finalmente desapropriadas em 1980.