Liga de Sapé
SAPÉ FEVEREIRO DE 1958Influenciados pela experiência das Ligas Camponesas do Engenho Galileia, os camponeses João Pedro Teixeira, João Alfredo Dias ("Nego Fuba") e de Pedro Inácio de Araújo("Pedro Fazendeiro"), fundaram em 1958, a Associação dos Lavradores e Trabalhadores Agrícolas de Sapé.
As Ligas Camponesas de Sapé, como ficaria conhecida a associação, tinham como objetivos iniciais prestar assistência social aos arrendatários e pequenos proprietários rurais e defender seus direitos.
As lideranças camponesas de Sapé questionavam, sobretudo, o cambão - obrigação de trabalhar alguns dias de graça na propriedade de fazenda. Em 1961, após resistir à desocupação das terras que ocupava com a mulher e os filhos, João Pedro Teixeira tornou-se alvo de represálias violentas, que incluíam tiros frequentes contra sua casa. Vice presidente das Ligas de Sapé, ele acabou assassinado em abril de 1962 a mando dos fazendeiros Agnaldo Veloso Borges e Pedro Ramos Coutinho, que pretendiam assim intimidar as lideranças camponesas da Paraíba.
A luta da associação, entretanto, continuou sob a liderança de Nego Fuba, Pedro Inácio e a viúva de João Pedro, Elizabeth Teixeira. Ao contrário do que esperavam os mandantes do crime, o movimento se fortaleceu: revoltados com a execução, centenas de lavradores se associaram à Liga Camponesa de Sapé, que totalizaria mais de 7 mil filiados.
A população da Paraíba assistiu a uma mobilização sem precedentes, capaz de contestar, de forma organizada o poder dos latifundiários do estado. O golpe civil-militar de março de 1964, no entanto, desarticulou as Ligas de Sapé, cujos líderes foram presos e, alguns, assassinados.
Chacina de Mari
MARI 15 DE JANEIRO DE 1964As Ligas Camponesas eram muito atuantes no município de Mari, na Paraíba, na primeira metade da década de 1960. No Sindicato Rural de Mari, as ligas ajudaram os lavradores a reconhecer seus direitos “na letra da lei” e a lutar para que fossem aplicados.
Em janeiro de 1964, trabalhadores das terras do usineiro Nezinho de Paula, resolveram adiantar a semeadura, pois as chuvas daquele ano haviam se antecipado. O trabalho transcorria pacificamente, quando foram surpreendidos por empregados da usina e policiais militares fortemente armados que procuravam por Antônio Galdino, presidente do sindicato. Ao se apresentar, Galdino foi metralhado.
Imediatamente os camponeses passaram a se defender com seus instrumentos de trabalho. No final do confronto, doze pessoas estavam mortas, entre camponeses, empregados da Usina e policiais.
Como a maioria das mortes havia sido do lado do usineiro, ele aproveitou a ocasião e foi à capital do estado exigir do governador, Pedro Gondim (PSD), uma reação enérgica contra o ataque de que fora vítima. E ela veio rapidamente, depois da tragédia de Mari, a repressão às Ligas Camponesas tomou forma legal, ganhou um plano disciplinar e culminou com o envio de tropas policiais às regiões interioranas.