Encruzilhada do Sul
FAXINAL E ENCRUZILHADA 24 DE JULHO DE 1960Na década de 1930, dezenas de famílias de trabalhadores rurais ocuparam 1.800 hectares de terras na localidade de Faxinal, em Encruzilhada de Sul, sudoeste do estado. Passados 30 anos, os camponeses foram judicialmente notificados para deixar imediatamente aquelas terras devido a ação de reintegração de posse movida pelo fazendeiro Euclides Lança, que alegava ser o dono da propriedade.
Decididos a organizar um movimento para lutar por suas terras, os camponeses fundaram, em 24 de julho daquele ano, o primeiro núcleo do Movimento dos Agricultores Sem Terra (Master) e lançaram um manifesto pregando que a terra deveria pertencer a quem nela trabalhasse. Posteriormente, o prefeito de Encruzilhada do Sul, Milton Serres Rodrigues articulou um acordo com o governo estadual para a desapropriar parte da área e a emitir os títulos de posse para os camponeses que lá moravam havia anos. O governador Leonel Brizola ordenou à Brigada Militar e às Secretarias de Agricultura e do Trabalho que dessem total apoio e assistência aos agricultores. A partir daquele momento, o Master cresceu e expandiu sua área de influência. Sob sua orientação, surgiram diversas mobilizações camponesas por todo o interior do Rio Grande do Sul.
Acampamento da Fazenda Sarandi
SARANDI JANEIRO DE 1962No primeiro mês de 1962, a Fazenda Sarandi, localizada na região noroeste do estado, foi ocupada por famílias camponesas; vindas do município de Nonoai. As terras, que pertenciam a três sócios de uma empresa uruguaia, estavam completamente abandonadas.
Liderados pelo prefeito de Nonoai, Jair Calixto, do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), organizados pelo Movimento dos Agricultores Sem Terra (Master), os camponeses montaram seu acampamento no corredor de acesso à fazenda, evitando ocupar diretamente a área, numa tentativa de descaracterizar invasão de propriedade - argumento que poderia ser usado pela repressão para expulsá-los. Essa estratégia seria adotada mais tarde em todas as ações do Master.
O acampamento recebeu o auxílio da população local, que ainda forneceu comida aos lavradores. A concentração aumentou substancialmente, totalizando mais de 1.300 pessoas no acampamento. A Brigada Militar manteve-se alerta, mas garantiu a segurança dos camponeses.
No dia 15 de janeiro, diante de mais de quatro mil agricultores, o governador, Leonel Brizola desapropriou os 25 mil hectares da Fazenda Sarandi. As terras foram divididas em 62 pequenas propriedades de 25 hectares e 16 propriedades de 250 hectares, para triticultores mecanizados.
Após a vitória dos camponeses de Sarandi, as políticas de reforma agrária se fortaleceram, e as ocupações organizadas pelo Master multiplicaram-se no interior do Rio Grande do Sul.
Acampamento de Banhado do Colégio
CAMAQUÃ JANEIRO DE 1962Dois mil camponeses, organizados pelo Movimento dos Agricultores Sem Terra (Master), ocuparam, no final de janeiro de 1962, a região conhecida como Banhado do Colégio. Localizada a 140 quilômetros de Porto Alegre, a propriedade compreendia 20 mil hectares de terras devolutas que haviam sido ilegalmente incorporadas por fazendeiros da região.
Os camponeses, liderados pelo comerciante Epaminondas Silveira, receberam o apoio de sindicatos e associações da região. A Brigada Militar foi enviada ao local para garantir a segurança dos trabalhadores rurais. O governador Leonel Brizola visitou o acampamento e assinou, no dia 30 de janeiro, o decreto de desapropriação.Foram contempladas mais de 200 famílias de camponeses que trabalhavam na área, com lotes que variavam de 20 a 25 hectares cada.
Insatisfeitos com a decisão, fazendeiros vizinhos avançaram suas cercas sobre os 20 mil hectares de terras previstos para o assentamento de agricultores. A discussão sobre os limites da área se intensificou, e, no final do processo, sobraram apenas cinco mil hectares para os assentamentos.
Passo Feio
IRAÍ FEVEREIRO DE 1963Organizados pelo Movimento dos Agricultores Sem Terra (Master), 900 camponeses ocuparam a região de Passo Feio, localizada numa reserva florestal estadual no município de Iraí, a 400 quilômetros de Porto Alegre. Por ordem do governador Ildo Meneghetti, do Partido Social Democrático (PSD), a repressão agiu rapidamente, e o acampamento durou menos de 10 dias.
No dia 14 de fevereiro, a Brigada Militar cercou o acampamento de Passo Feio e bloqueou as estradas de acesso ao local e prendeu líderes do Master que para lá se dirigiam como o objetivo de auxiliar os camponeses. O prefeito de Nonoai, Jair Calixto (PTB) — conhecido na região por ter articulado o assentamento das famílias na Fazenda Sarandi —, foi impedido de se aproximar.
O acampamento de Passo Fundo acabou destruído, seus barracos foram queimados, e os camponeses, expulsos. No comando da repressão, estava o coronel Gonçalino de Carvalho.
O caso de João Sem-Terra
SÃO FRANCISCO DE PAULA OUTUBRO DE 1963Os conflitos agrários no estado se radicalizaram a partir da posse do governador Ildo Meneghetti, do Partido Social Democrático (PSD), que sucedeu a Leonel Brizola no início de 1963. Brizola havia atendido a muitas reivindicações do Movimento dos Agricultores Sem Terra (Master) e fizera avançar a reforma agrária no estado.
Nos primeiros meses daquele ano, o conhecido líder camponês e integrante do Master, João Machado dos Santos, o João Sem-Terra, fundou com outros trabalhadores a Associação dos Agricultores Sem Terra de Rolante (Astro).
Em abril do mesmo ano, João Sem-Terra comprou, por valor irrisório, parte do terreno da Fazenda Mato das Flores, no município de São Francisco de Paula, para assentar 33 famílias de colonos. Na propriedade, localizada a 100 quilômetros de Porto Alegre, os colonos construíram suas casas e plantaram milho, hortaliças e feijão. Não demorou para a terra transformar-se em foco de disputas: o fazendeiro João Kieffer tentou expulsa-los de lá. com o auxílio da Brigada Militar, alegando que havia comprado as terras antes.
Em outubro quando participava de uma reunião de camponeses representando o Master, em Nonoai, João Sem-Terra foi sequestrado pela polícia. Sob a acusação de que traficava armas para os acampamentos de sem-terra, João foi levado ao Departamento de Ordem Política e Social (Dops), onde foi torturado. Após cinco dias, foi libertado em Erechim.
Apesar das reações contrárias e de toda a comoção que o caso gerou, João Sem-Terra teve a prisão preventiva decretada, acusado de subversão. Ele fugiu e viveu na clandestinidade retornando a região 20 anos depois.