A Revolta de Porecatu
PORECATU 10 DE OUTUBRO DE 1950Na década de 1940, atraídos pelas oportunidades do programa “Marcha para Oeste”, do presidente Vargas, posseiros, pequenos proprietários, trabalhadores e colonos, vindos de todas as regiões do Brasil, ocuparam as áreas rurais de Porecatu, Jaguapitã e Centenário do Sul, na região norte do estado — onde o governo disponibilizara mais de 120 mil hectares para a colonização.
Assentados em pequenas glebas, os camponeses cultivavam café e outros produtos alimentícios além de criar porcos. Aos poucos, aquelas terras às margens do rio Paranapanema foram se valorizando, o que chamou a atenção dos grandes fazendeiros.
Os camponeses passaram então a conviver com grandes grileiros, que estruturavam suas propriedades para a criação de gado e a plantação de cana-de açúcar e café. Assentados, mas sem títulos de propriedade, os posseiros começaram a ser expulsos de suas terras pelos novos fazendeiros.
Em resposta, resistiram à violência dos jagunços e interditaram ruas e avenidas para pressionar o governo do estado a conceder os títulos de propriedade, mas nenhuma providência foi tomada pelas autoridades para resolver o conflito.
No curso da disputa, o Partido Comunista Brasileiro (PCB) expandiu sua atuação entre os trabalhadores rurais de Porecatu. Naquele momento, segmentos do partido defendiam o uso da "violência revolucionária" para chegar ao poder. Em novembro de 1948, parte dos posseiros do norte do Paraná aderiu à luta armada proposta pelos comunistas, invadiram fazendas, expulsaram a tiros os jagunços e detiveram fazendeiros.
Diante dessa situação, o governador recém-eleito pelo Partido Republicano (PR), Bento Munhoz, articulou a repressão ao movimento. O Exército, a Força Pública e o Departamento de Ordem Política e Social (Dops) foram mobilizados, enquanto juízes e delegados determinavam a prisão dos posseiros rebelados. Em novembro de 1948, parte dos posseiros do norte do Paraná aderiu à luta armada proposta pelos comunistas, invadiram fazendas, expulsaram a tiros os jagunços e detiveram fazendeiros. Em 1951, o movimento de Porecatu foi rapidamente desarticulado. Dezenas de trabalhadores foram presos e os rebeldes expulsos da área. Para reduzir a tensão na região, o governo assentou 380 famílias em outras localidades do estado, mas deixou ainda centenas de camponeses sem acesso à posse da terra.
Levante dos posseiros do sudoeste
MUNICÍPIOS DO SUDOESTE 2 DE AGOSTO DE 1957A Colônia Agrícola Nacional General Osório (CANGO) foi criada em 1943 no sudoeste do Paraná, como parte da política de expansão agrícola do governo Vargas, durante o Estado Novo. Atraídos pela iniciativa e em busca de melhores oportunidades, milhares de trabalhadores, oriundos sobretudo do Rio Grande do Sul foram assentados em pequenas glebas e receberam sementes e ferramentas.
Nos anos seguintes, a economia do sudoeste do estado cresceu substancialmente, valorizando as terras da CANGO (que em 1951 dariam origem ao município de Francisco Beltrão) e atraindo para o local empresas colonizadoras como a Clevelândia Industrial (Citla) e a Apucarana Comercial — conhecidas por forjar títulos de propriedade para se apossar ilegalmente de terras já ocupadas. Uma vez instaladas, as empresas acionaram a Justiça e exigiram que os colonos da CANGO assinassem contratos de compra e venda, cedendo-lhes as terras.
Contrário às ações arbitrárias das companhias, o vereador Pedro José da Silva (Pedrinho Barbeiro), do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) reuniu os camponeses e lançou um abaixo-assinado reivindicando a regularização da situação dos posseiros. Em maio de 1957, Barbeiro foi assassinado em sua própria casa.
Os posseiros reagiram imediatamente. A população, convocada pelas rádios locais, promoveu ações sucessivas nas cidades de Pato Branco, Francisco Beltrão e Santo Antônio durante todo o mês de outubro. Os revoltosos invadiram os escritórios das duas companhias e rasgaram promissórias e contratos. Dezenas de jagunços foram detidos, e o delegado de polícia, destituído. O movimento de resistência camponesa sufocou o poder de atuação das empresas na região.
Para evitar a intervenção federal, o governador Moisés Lupion, do Partido Social Democrático (PSD), aceitou todas as reivindicações dos posseiros. Em 1959 as terras em litígio foram declaradas de utilidade pública e de interesse social para fins de desapropriação.
Foi uma vitória da resistência coletiva dos posseiros do sudoeste do Paraná que, diante de todas as injustiças e violências sofridas, uniram-se contra as companhias espoliadoras.