1 2 3 4 5 6 7
rj

Conflito de Xerém

DUQUE DE CAXIAS JULHO DE 1955

Na década de 1940, 150 famílias de lavradores se apossaram de uma faixa de terras devolutas na região de Xerém, em Duque de Caxias. A partir de 1952, contudo, esses posseiros passaram a ser ameaçados de despejo pela grileira Carmem Murtinho Almeida, que tinha a colaboração da Polícia Militar para investir contra os lavradores, espanca-los e prendê-los. Três anos mais tarde, o juiz Ari Pena Fontenele deu ganho de causa à grileira e emitiu um mandato de despejo contra os trabalhadores.

Um dos posseiros expulsos, José Pureza, importante líder camponês e membro da Associação dos Lavradores Fluminenses (ALF), rapidamente mobilizou os camponeses para protestar em Niterói, então capital do estado. Lá ficaram mais de um mês, acampados no Campo de São Bento e obtendo apoio expressivo da população, esperando para reivindicar do governo que os assentasse em terras do estado.

A solução encontrada pelo então governador Miguel Couto Filho, do Partido Social Democrático (PSD), foi a transferência dos lavradores para uma área em Casimiro de Abreu. Após um ano de ocupação da nova área, contudo, os lavradores foram novamente despejados.

Em matéria de meia página, este jornal conta o drama dos posseiros ameaçados de despejo em Duque de Caxias Crédito: “Imprensa Popular“, 22 de janeiro de 1955 (reprodução)

Fazenda Pedra Lisa

NOVA IGUAÇU MEADOS DA DÉCADA DE 1950

Na década de 1930 chegaram à região de Pedra Lisa, no município de Nova Iguaçu, algumas centenas de camponeses. Eles derrubaram o mato, dragaram as valas e aterraram os pântanos, estabelecendo-se nas terras até então abandonadas.

Na década seguinte, a região recebeu saneamento e estradas, atraindo o interesse de grileiros, como os da poderosa família Guinle. Alegando ser os verdadeiros donos das terras de Pedra Lisa, os grileiros com a ajuda da polícia local incendiaram casas e destruiram instalações, além de outras arbitrariedades.

Em resposta, os camponeses fundaram a Associação dos Lavradores de Pedra Lisa, que buscava obter legalmente o título de posse das terras ocupadas.

Jornal denuncia a situação dos lavradores de Pedra Lisa Fotos: “Voz Operária”, 27 de julho de 1957 (reprodução)

A violência dos grileiros, entretanto, só fez aumentar. O presidente da associação, José Teodoro, foi assassinado, e os posseiros decidiram resistir aos ataques com facões, foices, enxadas e espingardas de caça. Na entrada da área de conflito, afixaram uma tabuleta “Aqui em Pedra Lisa não entra polícia. Nem grileiros. Essas terras têm dono. Cada palmo de chão roubado há de custar a vida de todos nós”.

Para o delegado de polícia, estava criada uma “zona conflagrada”. Recorrendo novamente ao poder público, a associação conseguiu uma intermediação do Ministério da Agricultura para barrar a ação de policiais.

Em 1958, o governador Miguel Couto Filho, do Partido Social Democrático (PSD), desapropriou as terras em favor dos lavradores.

Fazenda Piranema

DUQUE DE CAXIAS 1961

Em 1961, mais de 400 camponeses moradores da Fazenda Piranema, em Duque de Caxias, foram ameaçados de despejo pelo grileiro Augusto Ferreira Leitão, que contou com o apoio da Polícia Militar na repressão aos lavradores, frequentemente espancados e achacados.

Apoiados pela Associação de Lavradores Fluminenses (ALF), os trabalhadores resistiram pacificamente à expulsão, mas a repressão se intensificou, com a prisão de vários líderes. Por fim, Augusto invadiu a propriedade com um caminhão cheio de jagunços e policiais armados e expulsou os trabalhadores, que nem sequer puderam levar seus pertences.

A ALF recorreu ao governo do estado, mas não foi atendida e o juiz Navega Cretton concedeu o título de posse das terras a Augusto Leitão.

Posseiros se reúnem em Duque de Caxias para buscar uma solução legal para o conflito Crédito: “Ultima Hora“. 17 de novembro de 1961 (reprodução)
Lavradores se reúnem para exigir o Plano de Ação Agrário Crédito: “Ultima Hora“, 1º de abril de 1961 (reprodução)

Fazenda São José da Boa Morte

CACHOEIRAS DE MACACU INÍCIO DA DÉCADA DE 60

No final da década de 1950, dezenas de famílias de lavradores ocuparam as terras da Fazenda São José da Boa Morte. Localizada no município de Cachoeiras de Macacu, a propriedade pertencia ao Instituto Nacional de Imigração e Colonização (INC). A empresa Agro-Brasil Empreendimentos Rurais, que tinha entre seus sócios Jerônimo Coimbra Bueno — ex-governador de Goiás e ex-senador pela UDN —, requereu imediatamente a posse das terras, estabelecendo a disputa.

Em 1961, Mariano Beser, ex-militante do Partido Comunista Brasileiro (PCB), organizou e liderou a resistência dos quatro mil camponeses que já ocupavam a fazenda. Dispostos a forçar o governo a desapropriar as terras e a promover a reforma agrária assentando legalmente os ocupantes, eles construíram barricadas e bloquearam os caminhos de acesso. Em represália,a Polícia Militar expulsou mais de 30 famílias e prendeu vários líderes do movimento, entre eles Mariano.

Camponeses armados no conflito em Cachoeiras de Macacu Crédito: “Correio da Manhã“, novembro de 1961 (reprodução)
Camponesas armados nas estradas de Cachoeira de Macacu Crédito: “Correio da Manhã“, 6 de dezembro de 1963
Camponeses nas proximidades da Fazenda São José da Boa Morte Crédito: “Correio da Manhã“, 3 de dezembro de 1963. Fotografo: França
Acampamento dos camponeses em Cachoeiras de Macacu Crédito: “França/Correio da Manhã“, 3 de dezembro de 1963 (reprodução)

Dois anos mais tarde, 500 lavradores ocuparam novamente as terras da Fazenda São José da Boa Morte, com o apoio do novo prefeito de Cachoeiras de Macacu, Ubirajara Muniz, do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), e de associações e sindicatos urbanos. As reivindicações camponesas, porém, foram novamente ignoradas e a reintegração de posse concedida à empresa.

Os lavradores deixaram a propriedade após negociações com o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), cujo superintendente Pinheiro Neto prometeu desapropriação. Como resultado da mobilização camponesa em Cachoeiras de Macacu, o presidente João Goulart decretou, em janeiro de 1964, a desapropriação de 1.790 alqueires das terras em disputa.

O golpe de 1964, no entanto, revogou o decreto de Jango. Mas a luta pelas terras da Fazenda São José da Boa Morte continuaria ainda por duas décadas. Um novo decreto de desapropriação seria assinado em 1981, pelo general-presidente João Baptista Figueiredo.

Fazenda São Lourenço

DUQUE DE CAXIAS AGOSTO DE 1961

A Fazenda São Lourenço, de propriedade da senhora Fé Augusta, havia sido arrendada em 1959 a Antonio Strufaldi, que por sua vez sublocou as terras a sete famílias de lavradores. Em 1960, por não ter o arrendatário cumprido os termos do contrato, Fé Augusta entrou com uma ação na Justiça estadual requerendo a expulsão de Strufaldi, assim como de seus subarrendatários. O despejo foi decretado em dezembro desse ano, mas as famílias se recusaram a sair, tentando garantir na Justiça o direito de permanecer nas terras.

Camponeses da Fazenda São Lourenço empunham armas e se negam a sair das terras Fonte: “Ultima Hora“, 19 de agosto de 1961 (reprodução)
“Se aparecer algum policial, fogo nele!“ Esta foi a deliberação tomada pelos 200 lavradores que cavaram trincheiras na Fazenda São Lourenço Crédito: “Ultima Hora“, 19 de agosto de 1961 (reprodução)

O processo se arrastou por meses até que em outubro de 1961, foi dado ganho de causa à proprietária. Imediatamente, oficiais de Justiça iniciaram o processo de despejo, mas foram recebidos a bala pelos camponeses que, decididos a resistir, ganharam o apoio de dezenas de associações de lavradores e sindicatos urbanos. Cerca de 600 lavradores de outras regiões se dirigiram ao local a fim de garantir a permanência das famílias. Parlamentares do estado também atuaram para que a situação fosse resolvida sem violência.

No dia 21 de agosto de 1961, o governador Celso Peçanha, do Partido Social Democrático (PSD), decretou a urgente desapropriação da Fazenda São Lourenço.

América Fabril

MAGÉ DEZEMBRO DE 1962

Mais de três mil camponeses ocupavam, havia dez anos, cinco mil alqueires de terra em Cachoeira do Rio do Ouro, região praticamente desabitada até então. Em 1962, eles foram surpreendidos por uma ação de despejo movida pela Companhia América Fabril, que se dizia dona das terras.

Decididos a resistir — e apoiados pelo Sindicato dos Lavradores de Magé e pela Federação das Associações de Lavradores e Trabalhadores Agrícolas do Estado do Rio de Janeiro —, os camponeses foram a Niterói, então capital do estado, marchar rumo ao palácio do governo, à Assembleia Legislativa e ao Tribunal de Justiça, exigindo a desapropriação das terras. Essa manifestação surtiu efeito, e o despejo foi adiado por quarenta dias.

Policiais intimidam posseiros em Magé, junho de 1963 Crédito: Conteúdo Estadão AE

Ao retornar a Magé, contudo, os lavradores encontraram suas terras ocupadas pela Polícia Militar, e seus barracos, incendiados. Decidiram então voltar a Niterói e acampar em frente à casa do juiz Nicolau Mary Jr., que havia decretado a medida.

A mobilização forçou os deputados estaduais a buscar uma negociação com o juiz, que recuou e ordenou a retirada da polícia, prometendo também a desapropriação das terras. A pressão dos donos da Companhia América Fabril impediu, no entanto, o andamento do processo até a década de 1980, quando finalmente as terras foram desapropriadas.

Ocupação do Imbé

CAMPOS 3 DE ABRIL DE 1963

No inicio de 1963, o munícipio de Campos (atual Campos dos Goytacazes), região norte do estado, foi afetado por uma grave crise na indústria açucareira. Famílias inteiras de trabalhadores rurais foram despedidas e expulsas de suas terras.

Nos primeiros dias de abril, orientados pela Federação dos Lavradores e Trabalhadores Agrícolas do Estado do Rio de Janeiro (Falerj), sob a liderança de José Pureza, um grupo de lavradores ocupou a localidade chamada Segundo Norte do Imbé, área de 210 mil hectares de terras devolutas que vinha sendo grilada pelos usineiros da região. O acampamento do Imbé reuniu famílias de ex-empregados das usinas e de trabalhadores ligados às Ligas Camponesas de Campos, totalizando mais de 500 pessoas.

Montando barracas e refugiando-se nas matas, os acampados resistiram a diversas tentativas de invasão por parte das milícias dos usineiros. Diante da iminência de um conflito, José Pureza dedicou-se a conquistar o apoio dos pequenos proprietários que eram vizinhos da terra em disputa. Aos poucos, diversos setores da sociedade passaram a se aproximar dos camponeses acampados, auxiliando-os com doações de roupas, dinheiro e comida.

Em 11 de junho de 1963, as terras do Imbé foram desapropriadas pela Superintendência de Reforma Agrária (Supra), órgão do governo federal criado havia poucos meses. Determinados a manter o apoio da população, os camponeses fizeram um acordo com a prefeitura local: a produção daquelas lavouras seria vendida diretamente à população urbana, sem intermediários e a preços muito mais baixos.

Acampamento do Imbé, destacando Zé Pureza (indicado na seta) Fonte: “Terra livre“, maio de 1963 (reprodução)
José Pureza (ao lado da bandeira do Brasil) marcha em Niterói com os camponeses do Imbé Crédito: “Terra Livre“, dezembro de 1963 (reprodução)
Camponeses no acampamento do Imbé Crédito: “Ultima Hora“, 16 de abril de 1963 (reprodução)