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Trombas e Formoso

TROMBAS E FORMOSO (GO) 5 DE ABRIL DE 1954

Lideradas por José Porfírio e atraídas pela política de expansão da fronteira agrícola do governo Getúlio Vargas, dezenas de famílias de camponeses ocuparam, na década de 1940, a região de Trombas e Formoso a 400 km ao norte de Goiânia.

O conflito começou quando, vendo o progresso dos posseiros, fazendeiros locais, sem nenhum direito sobre as terras passaram a exigir uma parcela da sua produção, o que foi é claro, negado. A tensão na região se agravou ainda mais com a chegada de grileiros que forjando títulos de propriedade, tentaram expulsar os camponeses das terras ocupadas. Estes buscaram, por diversas vezes, resolver legalmente a questão, mas sem êxito.

O movimento de Trombas e Formoso ganhou força a partir de 1954, quando militantes do Partido Comunista Brasileiro (PCB) chegaram à região com o intuito de estabelecer contato com os camponeses e “ajudar na organização da resistência”, além de ampliar a área de atuação política do partido.

Os posseiros se armaram e passaram a se organizar em grupos. Além da recém fundada Associação dos Lavradores de Trombas e Formoso, ele criaram os chamados conselhos de córrego de acordo com o curso d’água onde cada grupo morava. Cada conselho discutia os seus problemas e o encaminhamento da luta, além de defender o local contra ações da polícia e dos pistoleiros.

Posseiros se juntam em torno de José Porfírio, durante reunião de um conselhos de córrego Crédito: Eugênio Silva, “O Cruzeiro”, 14 de abril de 1956
Sob o comando do capitão Silveira, organiza-se a repressão em Formoso Crédito: Eugênio Silva, “O Cruzeiro”, 14 de abril de 1956

Na Batalha de Tataíra, em abril daquele ano, os camponeses forçaram o recuo de uma força policial bem mais numerosa e armada do que eles — uma vitória importante. No início da década de 1960, Trombas e Formoso progredia: os posseiros seguiam trabalhando, a associação estava em pleno funcionamento e havia 21 conselhos de córrego organizados. Restava resolver a questão dos títulos de propriedade.

Novamente sob a liderança de José Porfírio agora deputado estadual, desencadeou-se uma grande movimentação para que o governador de Goiás, Mauro Borges (PSD), promovesse a legalizasse as terras. Em 1962, 20 mil títulos foram concedidos aos posseiros. O movimento camponês de Trombas e Formoso seguiu progredindo até março de 1964, quando a ditadura militar recém-instalada dissolveu a Associação dos Trabalhadores de Trombas e Formoso e os conselhos de córrego obrigando os principais líderes a fugir. Dezenas de lavradores foram presos e torturados.

Trecho do filme: "Trombas e Formoso: Memória de uma Luta" (2009), dirigido pelo Coletivo Magnífica Mundi

Fazenda Santo Antônio

PORANGATU INÍCIO DA DÉCADA DE 60

Na década de 1940, algumas dezenas de famílias de lavradores se estabeleceram em terras devolutas na localidade de Serrinha, em Porangatu onde construíram suas choupanas e plantaram suas roças. Essas melhorias no entanto, atraíram o interesse do latifundiário João Inácio, dono da Fazenda Santo Antônio.

No início dos anos 1960, forjando títulos de propriedade, João Inácio começou a vender em outros estados grandes extensões daquelas terra ocupadas havia duas décadas pelos lavradores e tornadas atrativas pela construção de Brasília e da rodovia Belém-Brasília. Quando os compradores chegaram à região, começaram os conflitos com os posseiros.

Entrincheirados, posseiros defendem suas terras na região de Porangatu, GO Crédito: “Ultima Hora“, 19 de junho de 1962

Quem havia comprado as fazendas vendidas por João Inácio tentava expulsar os lavradores estes, por sua vez, recusavam-se a sair ou a pagar pelas terras, sobre as quais julgavam ter direitos, garantidos pela Lei do Usucapião. Inspirados pela luta de Trombas e Formoso, os camponeses criaram a Associação dos Lavradores de Porangatu, que buscou na Justiça estadual uma solução legal para a situação. O poder público, contudo, ignorou as demandas dos posseiros, que, em resposta à crescente agressividade dos fazendeiros e seus jagunços, decidiram resistir de armas na mão.

Temendo que o conflito de Porangatu crescesse tanto quanto o de Trombas e Formoso, o governador do estado, Mauro Borges, do Partido Social Democrático (PSD), enviou um pelotão da Polícia Militar para reprimir os posseiros.

Muitas famílias preferiram abandonar a região. As que ficaram foram ludibriadas pelo Instituto de Desenvolvimento Agrário de Goiás (IDAGO), que se comprometera a emitir os títulos de propriedade em favor dos posseiros, mas na verdade justamente fez o contrário: legalizou as falsas escrituras fornecidas pelo grileiro João Inácio, acabando com as esperanças dos lavradores. Os últimos posseiros de Porangatu saíram da região, rumo ao norte do país.