1933 1º de dezembro
Livro 'Casa-Grande & Senzala' é publicado
Gilberto Freyre lança revolucionária análise da miscigenação brasileira
A Maya & Schmidt editores lança o livro “Casa-Grande & Senzala”, do antropólogo Gilberto Freyre, que faz uma análise revolucionária da miscigenação brasileira. Para o autor, este é um país tropical, cuja colonização portuguesa, baseada na monocultura da cana-de-açúcar e na escravidão da mão de obra negra, nos levou criar uma sociedade original — “a primeira sociedade moderna constituída nos trópicos com características nacionais e qualidades de permanência”, de acordo com Gilberto Freyre.
A organização nacional, então, é dada pela casa-grande, que vem da nossa tradição portuguesa, europeia, patriarcal. Por outro lado, a escassez de mulheres brancas resultou na possibilidade de miscigenação entre “vencedores e vencidos”, na gestação de filhos de senhores com escravas, na criação de uma sociedade mestiça — na “democratização racial” do Brasil. Para o autor de “Casa-Grande & Senzala”, o exemplo civilizatório teria vindo do colonizador branco, mesclado com os hábitos higiênicos e alimentares do indígena e com a “religiosidade lúbrica” do negro escravizado.
Analisando o desenvolvimento do Nordeste, o sociólogo pernambucano — que tem formação nas universidades de Colúmbia (Estados Unidos) e Oxford (Inglaterra) — comenta o papel das raças, da geografia e do patriarcado na configuração da sociedade brasileira. “Casa-Grande & Senzala” inova ao basear suas análises em diários íntimos, cartas e depoimentos pessoais para reconstituir a história cotidiana nos engenhos de açúcar. O autor explica: “Aprendi a considerar fundamental a diferença entre raça e cultura, a discriminar entre os efeitos de relações puramente genéticas e os de influências sociais, de herança cultural e de meio. Neste critério de diferenciação fundamental entre raça e cultura se assenta todo o plano deste ensaio”.
Ao lado de “Raízes do Brasil” (Sérgio Buarque de Holanda, 1938) e “Formação do Brasil Contemporâneo” (Caio Prado Júnior, 1942), "Casa-Grande & Senzala" inaugurou uma nova maneira de olhar para a nação brasileira.