Compartilhar
A Aliança Nacional Libertadora (ANL) inspirou-se nas frentes populares surgidas em diversos países da Europa com o objetivo de combater o avanço do nazifascismo. Criada em 1935, ela reuniu comunistas, socialistas, liberais, feministas, católicos e antigos tenentes, como Hercolino Cascardo, Agildo Barata, João Cabanas, Silo Meireles, Miguel Costa e Roberto Sisson. Luís Carlos Prestes, que aderira ao comunismo depois de uma estadia na União Soviética, foi eleito seu presidente de honra..
A frente de esquerda começou a se formar no segundo semestre de 1934, quando alguns intelectuais e militares — entre os quais Francisco Mangabeira, Manuel Venâncio Campos da Paz, Moésia Rolim, Carlos da Costa Leite e Aparício Torelly (o “Barão de Itararé”) — passaram a se reunir no Rio de Janeiro com o objetivo de criar uma organização política que desse suporte nacional às lutas populares que se intensificavam. Em seu programa, a ANL defendia a suspensão do pagamento da dívida externa, a nacionalização das empresas estrangeiras, a reforma agrária, a proteção aos pequenos e médios proprietários, a garantia de amplas liberdades democráticas e a constituição de um governo popular, além do combate ao nazifascismo.
A adesão de intelectuais, lideranças de trabalhadores e classes médias urbanas fez a ANL crescer exponencialmente, conquistando em pouco tempo milhares de adeptos em todo o país.
Se, por um lado, Getúlio tinha uma política de tolerância com os integralistas, com a ALN as relações sempre foram repressivas, desde sua fundação. No mês em que a ANL foi lançada, o Congresso Nacional aprovou uma nova lei de segurança nacional, conhecida como a “Lei Monstro”, que acabava com liberdades garantidas pela Constituição de 1934, ao criminalizar o que chamava de “incitação ao ódio entre as classes sociais” e vetar a organização de associações ou partidos cujo objetivo fosse subverter a ordem política ou social.
A nova lei também proibia a impressão e a circulação de livros, panfletos e quaisquer publicações consideradas subversivas. Pelo mesmo motivo, dava poderes ao governo para fechar sindicatos e associações profissionais. Além disso, estrangeiros naturalizados poderiam perder a cidadania brasileira e ser expulsos do país; professores, afastados de suas cátedras; funcionários públicos, demitidos; e militares, ter cassadas as suas patentes.
Menos de dois meses após ser fundada, a Aliança Nacional Libertadora, que já contava com mais de 400 mil militantes em todo o Brasil, foi declarada ilegal por um decreto de Getúlio.
Em polos opostos do espectro político, as manifestações e comícios da Aliança Nacional Libertadora e da Ação Integralista Brasileira geralmente acabavam em pancadaria, com mortos e feridos. A repressão aos aliancistas fortaleceu cada vez mais em suas fileiras a ideia de que só seria possível mudar o país com uma insurreição. Em novembro de 1935, dirigentes do Partido Comunista do Brasil, com o aval da Internacional Comunista, decidiram derrubar o regime Vargas pela luta armada.
A insurreição começou em Natal no dia 23, quando sargentos, cabos e soldados tomaram o 21º Batalhão de Caçadores. No dia seguinte, o movimento chegou ao Recife, envolvendo civis e militares. Na noite de 26 para 27, militares do 3º Regimento de Infantaria rebelaram-se sob o comando de Agildo Barata no Rio de Janeiro, cidade onde eclodiu outro foco da sublevação, no Campo dos Afonsos. Os revoltosos foram rapidamente dominados no Recife e no Rio de Janeiro, mas em Natal conseguiram instalar um governo popular revolucionário que durou quatro dias, sob a liderança de João Praxedes de Andrade, sapateiro, membro da direção regional do PCB.
A repressão policial contra a ANL, que já era forte, se intensificou a partir daí: Getúlio decretou estado de sítio em todo o território nacional, e centenas de civis e militares foram presos e torturados — entre eles, Luís Carlos Prestes, Olga Benário, Pedro Ernesto (prefeito do Distrito Federal), lideranças comunistas e populares, intelectuais (como Graciliano Ramos e Monteiro Lobato), jornalistas e até mesmo parlamentares, como o senador Abel Chermont e os deputados Otávio da Silveira, Domingos Velasco, João Mangabeira e Abguar Bastos.
As autoridades passaram a exigir atestado de ideologia de todos os que exercessem cargos públicos e sindicais. Instituiu-se o Tribunal de Segurança Nacional encarregado de julgar com rapidez e severidade os acusados de participação na revolta de 1935.
Para o governo, o inimigo morava ao lado, era brasileiro e queria implantar o comunismo no país.