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Pouco depois de tomar posse como presidente do Governo Provisório, ainda em 1930, Vargas criou o Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio e o Ministério da Educação e Saúde. Com grande protagonismo dentro do governo, essas pastas foram decisivas para pôr a questão social no centro das ações do Estado.
Getúlio era autoritário e acreditava que Estado democrático era aquele que incluía os trabalhadores no projeto e no orçamento da nação. Por isso, na sua visão, ditadura não era o oposto da democracia. Pelo contrário, na ditadura ele podia reprimir livremente quem não estivesse de acordo com seus planos de inclusão controlada, impedindo assim que movimentos sociais, parlamentares e outros atores políticos atrapalhassem suas ações em prol da nação brasileira. Em seu governo, militantes foram presos e torturados, líderes dos trabalhadores, expulsos do Brasil, e sindicatos, fechados.
A repressão deu um salto a partir de 1935, quando a esquerda, liderada pelo Partido Comunista do Brasil, formou a Aliança Nacional Libertadora (ANL), uma frente ampla composta por socialistas, comunistas, católicos e democratas que combatiam o fascismo e o imperialismo e lutavam pelos direitos do cidadão. Pouco mais de três meses depois da fundação, a ANL foi declarada ilegal, e seus membros, perseguidos pela polícia política de Getúlio. A radicalização, que vinha crescendo desde a promulgação da nova Constituição, em julho do ano anterior, explodiu. O governo definiu que seu principal inimigo era a ameaça comunista — e mandou descer o pau. Sindicatos identificados com a ANL foram fechados, sindicalistas e políticos, espancados, presos e torturados.
A repressão aumentou ainda depois que militares de esquerda, liderados pelos comunistas, se insurgiram em Natal, Pernambuco e na capital da República, em novembro de 1935. Foi decretado estado de sítio em todo o território nacional. O governo se outorgou o direito de intervir nos sindicatos em caso de atividades oposicionistas e greves ilegais. As prisões ficaram lotadas, a tortura correu solta, pessoas foram assassinadas ou, como Olga Benário, entregues aos nazistas. Em 10 de novembro de 1937, Getúlio fechou o Congresso e instaurou a ditadura do Estado Novo. O direito de greve foi abolido, manifestações públicas foram duramente reprimidas, e participantes das assembleias sindicais tiveram de apresentar atestados de ideologia.
O longo silêncio, que começara em 1935, aumentou em 1937 e durou até 1942.
Assim, ao mesmo tempo em que deu reconhecimento, direitos e proteção ao trabalhador e sua família — motivo das lutas trabalhistas desde o início do século —, Getúlio também reforçou o controle do Estado sobre o movimento operário, tirando-lhe a independência, o direito de fazer política e de lutar por novas conquistas. Quem não rezava por sua cartilha era duramente reprimido.
O governo de Getúlio reescreveu a história dos direitos sociais, apresentando-os não como uma conquista dos trabalhadores, mas como uma dádiva de seu governo, como se ele fosse um visionário dotado de generosidade e sensibilidade social, capaz de antecipar as demandas sociais e criar leis e ações de proteção à família trabalhadora. Ao fazer isso, esperava obediência e até mesmo sacrifícios dos operários, como a ampliação da jornada de trabalho durante a guerra.
O ministro do Trabalho, Indústria e Comércio, Alexandre Marcondes Filho, fazia uma palestra semanal dirigida aos trabalhadores no programa “Hora do Brasil”. No cargo desde 1942 até o final do Estado Novo, ele exerceu um papel importante na consolidação da imagem de Getúlio como o “pai dos pobres”.
Mais informações sobre o programa “Falando aos trabalhadores” podem ser encontradas no extra “A Era do Rádio”.