1944 2 de julho
A FEB na Itália: a cobra vai fumar!
Desafiando os críticos, 5 mil pracinhas brasileiros vão combater na Europa
O primeiro grupo de pracinhas brasileiros, composto por cerca de cinco mil homens, chefiados pelo general Zenóbio da Costa, desembarca na Itália. Lá se juntarão às tropas do 5º Exército norte-americano, integrante do 10º Grupo de Exércitos Aliados. Seu objetivo é impedir o deslocamento alemão para a França, onde se prepara a ofensiva final aliada.
O envolvimento direto do Brasil no conflito, nascido de intensa pressão popular, também havia sido objeto das negociações entre os presidentes Roosevelt e Getúlio no encontro que tiveram em Natal, em fevereiro de 1943. Na ocasião, Getúlio condicionara o envio das tropas ao reaparelhamento das nossas Forças Armadas, inclusive para garantir a defesa do nosso território.
Em 9 de agosto daquele ano, foi criada a Força Expedicionária Brasileira (FEB), chefiada pelo general João Batista Mascarenhas de Morais. A FEB adotou como símbolo o desenho de uma cobra com um cachimbo na boca, acompanhado da frase “A cobra vai fumar”. Era uma resposta aos críticos que, diante da lentidão na formação da FEB — cerca de dois anos entre a declaração de guerra à Alemanha e o embarque dos pracinhas —, diziam que era mais fácil a cobra fumar do que combatermos na Europa.
No segundo semestre de 1943, oficiais brasileiros haviam viajado para os Estados Unidos, para se familiarizar com os métodos e táticas militares dos norte-americanos. Os soldados, que ficaram conhecidos como pracinhas, começaram a ser treinados no início do ano seguinte. A maioria era pobre, com baixa escolaridade.
As primeiras vitórias brasileiras ocorreram em setembro de 1944, com a tomada das localidades de Massarosa, Camaiore e Monte Prano. No início do ano seguinte, os pracinhas participaram da conquista de Monte Castelo, Castelnuovo e Montese.
Até fevereiro de 1945, cinco escalões chegariam à Itália, juntamente com cerca de 400 homens da Força Aérea Brasileira. Ao todo, a FEB contou com um efetivo de um pouco mais de 25 mil pessoas — entre eles, personalidades que se tornariam famosas, como o economista Celso Furtado, o artista plástico Carlos Scliar, o escritor Boris Schnaiderman e o historiador Jacob Gorender. A escritora Clarice Lispector, casada com um diplomata, se alistou como enfermeira.
Em 2 de maio, com a rendição do último grupo do exército alemão, cessariam os confrontos na Itália. A FEB deixaria naquele país, sepultados no cemitério de Pistoia, 454 expedicionários.
Ao voltar ao Brasil, os pracinhas seriam recebidos com festas nas ruas. Sua participação no conflito evidenciou a contradição do Estado Novo, que apoiava a luta pela democracia no exterior, mas mantinha o país sob ditadura.