A era do rádio Tecnologia
O rádio foi o primeiro grande veículo de comunicação de massa a entrar na casa dos brasileiros. Para que isso acontecesse, foi preciso desenvolver um grande aparato tecnológico, cuja estrutura pudesse transmitir, até os receptores — na casa ou no trabalho dos ouvintes —, as ondas sonoras de onde os programas eram produzidos. Durante a primeira metade do século 20, o rádio evoluiu a tal ponto que notícias, sons, programas, eventos e histórias passaram a circular rapidamente por todo o planeta. O mundo parecia cada vez menor.
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Para que a comunicação via rádio acontecesse, eram necessários dois aparelhos: os transmissores, para difundir a programação, e os receptores, que eram como caixas com um alto-falante embutido, necessários para que os ouvintes acessassem as transmissões.
No início, as estações de rádio eram uma espécie de clube, no qual os sócios dividiam as despesas e transmitiam o que queriam. A primeira estação de rádio do Brasil foi a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, criada por Edgar Roquette-Pinto e Henrique Morize e inaugurada em 7 de setembro de 1923, na sede da Academia Brasileira de Ciências. Daí até 1930, quinze emissoras foram criadas no Rio de Janeiro, São Paulo e em outras capitais.
Mas manter uma estação de rádio era caro, e o governo não permitia a publicidade explícita na programação. A tecnologia do rádio teve um grande desenvolvimento a partir dos anos 1930. Os preços diminuíram, e a qualidade e o alcance das transmissões cresceram muito. Os aparelhos ainda eram grandes, pesados, precisavam ser ligados à tomada para funcionar, e mesmo assim as vendas aumentaram, o que fez crescer o número de emissoras — só entre 1931 e 1940 surgiram 59.
O rádio permitiu a todos os brasileiros, alfabetizados ou não, de norte a sul, partilhar as mesmas músicas, os mesmos ídolos, os mesmos folhetins, as mesmas notícias. O patrocínio das multinacionais, financiando programas e investindo na publicidade, teve resultado: os brasileiros adquiriram novos hábitos de consumo, expressões de sociabilidade. O rádio mudou o Brasil.
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Em 1932, Getúlio editou decreto permitindo a veiculação de propaganda nas rádios. Nessa mesma época, as primeiras agências de publicidade – norte-americanas, em sua maioria – estavam se instalando no país. Como em seu país de origem, elas usavam o rádio para divulgar produtos como sabonetes, cremes dentais, remédios, produtos para o lar, alimentos, refrigerantes e bebidas em geral.
Logo, a queda no preço dos aparelhos receptores de rádio permitiu a mais famílias adquirir o produto. A audiência cresceu vertiginosamente. As emissoras passaram a dar mais atenção a esse novo público consumidor — muitas vezes formado por analfabetos — que se reunia em torno do rádio. Os programas procuravam agradar aos ouvintes, e as agências de publicidade investiam pesado, não só para vender seus produtos, mas também para difundir para os brasileiros nos valores e no modo de vida norte-americano.
O primeiro programa da rádio comercial do Brasil foi ao ar em 1932. Era o “Programa Casé”, que durava quatro horas, transmitidos aos domingos, às 20h, na Rádio Philips, produzido e narrado por Ademar Casé. O programa apresentava ao público a nova música brasileira da época. Participaram do programa artistas como Noel Rosa, Braguinha, Sílvio Caldas e o cartunista e compositor Nássara — autor do primeiro jingle do Brasil, o da padaria Bragança.
As verbas dos “reclames” (como os comerciais eram chamados na época) financiaram radionovelas, programas musicais, esportivos, de humor, de auditório. O rádio virou o grande veículo de comunicação de massa entre os anos 1930 e 1960. Seus programas moldaram o pensamento dos brasileiros, papel que a televisão assumiria a partir de 1960. Num país tão grande, diverso e formado por pessoas sem acesso à educação formal, como o Brasil, a integração passou pelas ondas do rádio.