A era do rádio Política
O rádio foi o primeiro veículo de comunicação a chegar às residências e aos locais de trabalho. Por causa de seu enorme impacto no dia a dia dos brasileiros, Getúlio impôs o controle das informações transmitidas pelo rádio durante o Estado Novo. Nem tudo podia ser dito, e a forma de dar a notícia também era pensada com cuidado, para evitar que a voz da oposição chegasse aos brasileiros. Interesses políticos e comerciais sempre interferiram nos meios de comunicação.
A era do rádio / Política O rádio une o país
O rádio começou a ser usado com finalidades políticas na campanha presidencial de 1930. O candidato do presidente Washington Luís, Júlio Prestes, era um dos sócios da Rádio Educadora Paulista, que fez campanha aberta para ele e proibiu mencionar na programação o nome de Getúlio Vargas, o candidato adversário.
Júlio Prestes acabou vencendo a eleição mas nem tomou posse. Por meio de um movimento revolucionário que depôs o presidente Washington Luís antes da transmissão do cargo, Getúlio assumiu o comando do país e, em 1932, determinou que todas as emissoras precisariam da autorização federal para entrar no ar. Também liberou a propaganda durante a programação, criando assim uma fonte de renda para as emissoras. Por último, reservou um horário exclusivo para programas do governo em todas as estações de rádio.
Durante a revolta paulista de julho daquele ano, as emissoras de São Paulo e Rio de Janeiro travaram uma guerra em outro campo: a informação. Os dois lados usaram o rádio para divulgar notícias do front, propagandear suas ideias e desmentir as notícias veiculadas pelo inimigo. César Ladeira, da Rádio Record, ficou famoso por suas transmissões em favor dos paulistas. Dali em diante, o rádio nunca mais deixou de ser usado como instrumento de poder e de política.
Durante o Estado Novo, Getúlio criou o temível Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), em 1939. O órgão, dirigido por Lourival Fontes, censurou, normatizou, regulamentou e direcionou todas as informações que circulavam pelo país, inclusive nas emissoras de rádio. Tudo passava pelo controle do DIP.
O programa que permitiu a comunicação direta do governo federal com os brasileiros foi a “Hora do Brasil”. O programa oficial entrou no ar em 1935, com o nome de “Programa Nacional”. A partir de 1938, adotou o nome pelo qual ficaria conhecido, e todas as emissoras do país foram obrigadas a transmiti-lo no mesmo horário, formando a primeira cadeia nacional de informações.
A primeira parte do programa destinava-se à divulgação dos atos e discursos do presidente da República, ministros e outros órgãos governamentais. Depois disso, vinha a “programação cultural”, com músicas brasileiras (principalmente), comentários sobre a arte popular e descrições dos pontos turísticos do país. A “Hora do Brasil” também exaltava os feitos da nacionalidade e apresentava dramas históricos, como a abolição da escravatura e a proclamação da República, em peças de radioteatro.
Mas não era só assim que o governo fazia uso político do rádio.
O ministro do Trabalho, Indústria e Comércio, Alexandre Marcondes Filho, tomou posse em janeiro de 1942 e passou a fazer, semanalmente, uma palestra de dez minutos, durante “A Hora do Brasil”. O nome das palestras já indicava sua intenção: Falando aos trabalhadores brasileiros. Nelas, divulgava a obra do presidente, contava a história das leis sociais, seus pontos polêmicos e os direitos que elas garantiam. Chamava a atenção para a contribuição do trabalhador nacional, em oposição ao estrangeiro. Valorizava o trabalhador negro, componente fundamental da raça brasileira e que precisava ser respeitado e glorificado, sobretudo diante do nosso terrível passado escravista. Nunca deixava de destacar as virtudes excepcionais do presidente — guia e “pai dos pobres” — e as qualidades do cidadão brasileiro, homem bom e trabalhador, principal responsável pela riqueza e grandeza do país. O programa foi ao ar todas as quintas-feiras até o final de julho de 1945.
A partir de 1944, Marcondes também falaria diariamente na Rádio Mauá — a rádio dos trabalhadores e do Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio. Essa nova emissora também tinha programas musicais de grande audiência. Nos intervalos, em vez de comerciais, mandava recados aos trabalhadores.