Héctor Julio Páride Bernabó nasceu na Argentina mas foi na Bahia que Carybé viveu mais intensamente, consagrou-se, morreu e eternizou-se. A obra de Carybé é quase um dicionário visual da cultura baiana. Do cotidiano dos pescadores e das gentes humildes, da riqueza e exuberância do candomblé, dentre outras cenas baianas, Carybé soube captar o essencial da forma e do movimento. Em suas imagens, os saberes e fazeres do povo de santo da Bahia saíram do plano do misticismo e especulação para uma espécie de registro espetacular. As roupas, adereços e instrumentos foram documentados como peças de um quebra-cabeça, que montado, apresenta-se como um dos mais ricos acervos imagéticos nacionais. Mas sua obra não se caracteriza apenas por seu aspecto documental: há também espaço para uma certa visão onírica sobre o estado da Bahia e sobre o povo brasileiro. Brincando com as formas e dimensões, muitas vezes a festa é um momento para ilustrar essa nação estrangeira; e mesmo quando utiliza apenas o preto e o branco, a intensidade e o volume das cores parecem ser um elemento definidor da identidade nacional.
A pintora Djanira fez o Brasil se reconhecer em suas telas, deu imagens aos sonhos do seu povo. Sua pintura é singela como uma cidadezinha, mas guarda segredos que apenas os matutos do sertão dão conta. Sua obra é o próprio Brasil.
De fato, Djanira ilustrou brasilidades e traços cotidianos do Brasil com uma simplicidade e, ao mesmo tempo, uma densidade pictórica que apenas uma autodidata livre de regrismos poderia fazer. O popular era sua temática de predileção: o trabalhador da terra, nos engenhos de farinha, plantações de fumo e colheita de cacau; o candomblé e a capoeira; as rinhas de galo; o futebol; musicistas; festas; além, é claro, de sua vasta produção sobre a rica religiosidade nacional, em especial as várias manifestações deste “catolicismo à brasileira”.
Compondo suas obras, o uso vivo e intenso das cores parece reafirmar, na imaginação nacional, uma beleza cultural cuja riqueza repousaria na estética popular, no uso inventivo de adornos, vestes e adereços.
Durante a década de 1950 o cearense Aldemir Martins gravou diversas imagens que ficaram marcadas na imaginação nacional. Neste período, fica explícita sua preferência por ilustrar uma realidade que ele conhecia de perto: o sertão nordestino. Cangaceiros, cantadores e retirantes são figuras constantes em sua produção. Mas não há como negar que sua maior marca foi representar o habitat destes personagens – habitat esse que, se não é um personagem, é o deflagrador das personalidades de seus habitantes. O sol que erradia um calor que se vê, e se espalha para todos os lados em um céu sem nuvens; o chão, seco e arenoso; um horizonte que tem sua vastidão interrompida por mandacarus, galhos secos e espinhosos, e uma rala vegetação rasteira. Em muitas dessas ilustrações, Aldemir opta pelo nanquim, o simples do preto-e-branco para dar à imagem um tom cru. A expressividade da natureza acaba por parecer mais real do que uma fotografia. Suas ilustrações para a 9ª edição do romance Vidas Secas, lançada em 1963, tornaram-se representações definitivas do clássico de Graciliano Ramos.
O muralismo é a principal característica da obra do paranaense Napoleon Potyguara Lazzarotto, mais conhecido como Poty. A maior parte dela encontra-se nas ruas, praças e edifícios de seu estado natal. Uma destas obras, que faz do espaço público um momento coletivo de imaginação, é o painel Monumento ao 1º Centenário de Emancipação do Paraná, que ao longo de seus trinta metros, conta a evolução histórica do estado, desde os garimpeiros até seu primeiro governo.
Além desta sua faceta muralista, Poty também se destacou pelo traço de ilustrador. Ao longo de sua vida ele produziu imagens para livros de Machado de Assis, Euclides da Cunha, Darcy Ribeiro, Jorge Amado e Gilberto Freyre, apenas para citar alguns autores ilustres. Mas foi para as páginas dos livros de João Guimarães Rosa que Poty parece ter empregado o maior esmero em seus desenhos. A cartografia mística do sertão é demarcada por seus habitantes: jagunços, veredas, perigos, bichos e monstros. Com suas leituras e impressões sobre a mística das “Geraes” descrita pelo autor de Grande Sertão: Veredas, Poty forneceu um novo repertório imagético para o Brasil refletir sobre o seu próprio interior.
Durante as décadas de 1940 e 1950, o pintor Alfredo Volpi – italiano de nascença, mas brasileiro de coração – revelou-se um caso raro nas artes plásticas. Expressiva parte de sua produção se situava entre tendências (algumas, de certa forma opostas) em voga no Brasil: suas telas eram, ao mesmo tempo, abstratas, temáticas, geométricas e figurativas. Em determinado conjunto de sua obra Volpi expressa uma tendência à bidimensionalidade na composição de seus quadros, negando a profundidade a fim de exaltar suas formas através do uso meticuloso das cores e do movimento pincelar. Essa característica em suas obras remete a uma simplicidade (muitas vezes tachada de “primitivismo”), a um lirismo quase infantil, como ao retratar, por exemplo, uma cidade comum do interior brasileiro. A maneira sui generis com a qual Volpi pintou fachadas de casas – cuja arquitetura lusitana o brasileiro compreende como sendo dele próprio –, brinquedos de crianças, bandeirinhas de festas juninas, paisagens praieiras e outros temas nacionais fez com que parte da crítica o classificasse como o mestre brasileiro de sua época.
Durante as décadas de 1940 e 1950, o pintor Alfredo Volpi – italiano de nascença, mas brasileiro de coração – revelou-se um caso raro nas artes plásticas. Expressiva parte de sua produção se situava entre tendências (algumas, de certa forma opostas) em voga no Brasil: suas telas eram, ao mesmo tempo, abstratas, temáticas, geométricas e figurativas. Em determinado conjunto de sua obra Volpi expressa uma tendência à bidimensionalidade na composição de seus quadros, negando a profundidade a fim de exaltar suas formas através do uso meticuloso das cores e do movimento pincelar. Essa característica em suas obras remete a uma simplicidade (muitas vezes tachada de “primitivismo”), a um lirismo quase infantil, como ao retratar, por exemplo, uma cidade comum do interior brasileiro. A maneira sui generis com a qual Volpi pintou fachadas de casas – cuja arquitetura lusitana o brasileiro compreende como sendo dele próprio –, brinquedos de crianças, bandeirinhas de festas juninas, paisagens praieiras e outros temas nacionais fez com que parte da crítica o classificasse como o mestre brasileiro de sua época.
O pernambucano Abelardo da Hora foi um dos maiores nomes das artes visuais durante a década de 1950 e seguintes. Destacou-se não apenas por seu trabalho individual como artista mas também por ter fundado, em 1946, a Sociedade de Arte Moderna do Recife, concebendo e coordenando a experiência do “Ateliê Coletivo” – oficina onde se ministravam cursos de pintura e desenho, da qual participaram os principais representantes das artes plásticas de Pernambuco (entre 1952 e 1957). Foi também membro fundador do Movimento de Cultura Popular (MCP) em 1961. Entre gravuras e esculturas por ele produzidas no período a temática social é inspiração constante. O flagelo da fome, funerais de camponeses e crianças esquálidas nas favelas do Recife são temas recorrentes em sua produção. Mas Abelardo também pintou o colorido do carnaval pernambucano, ilustrando as brincadeiras, as fantasias e outras manifestações na série Danças Brasileiras de Carnaval. Entre o realismo e o expressionismo, entre o flagelo e o festivo, Abelardo da Hora ajudou a delinear a cultura brasileira na imaginação nacional.