Condições precárias, revolta e repressão
À noite, Guarda Especial de Brasília ataca alojamentos
A construtora Pacheco Fernandes tinha 1.300 operários em seu acampamento da Vila Planalto. Era conhecida por fornecer a pior comida de Brasília.
Em 1959 o ritmo de trabalho era muito intenso, pois faltava apenas um ano para a inauguração da cidade e ainda havia muito o que fazer. No Carnaval daquele ano, os chefes da Pacheco Fernandes tomaram medidas para evitar que os operários deixassem os alojamentos. A água foi cortada para que, sem banho, não fossem buscar diversão na Cidade Livre. O pagamento do salário no sábado ficou retido.
No domingo, dia 8 de fevereiro, a cantina serviu comida estragada. Os operários reclamaram, os ânimos se exaltaram e começou um quebra-quebra. A Guarda Especial de Brasília, a temida GEB, foi chamada para reprimir o tumulto e passou a espancar os envolvidos. A violência revoltou até mesmo os trabalhadores que não haviam participado da quebradeira, e todos partiram para cima dos policiais.
Os homens da GEB se retiraram, prometendo retaliação. Voltaram à noite ao acampamento, em número maior e com mais armamento — inclusive metralhadoras —, entraram nos alojamentos e começaram a disparar contra trabalhadores que dormiam nos beliches.
Oito dias depois, o jornal alternativo “Binômio”, de Belo Horizonte, enviou uma equipe de reportagem para investigar o assunto. O jornal “O Popular”, de Goiânia, publicou matéria falando em nove mortos e 60 feridos, no que foi desmentido pela Novacap. O mesmo número aparece num telegrama enviado pela Associação dos Trabalhadores na Construção de Brasília para membros do Congresso e para o presidente Juscelino.
A equipe do “Binômio” entrevistou feridos em recuperação, comprovando o ocorrido, mas não conseguiu romper o silêncio das autoridades. Colheu depoimentos de moradores da vila sobre o transporte dos mortos em caminhões-caçamba, que teriam sido enterrados em Planaltina ou jogados na lagoa Feia, em Formosa. Outras dezenas de feridos teriam sido levadas para o Hospital Distrital.
O número de vítimas nunca foi oficialmente revelado, nem a identificação dos corpos. O enorme canteiro de obras da nova capital estava longe dos olhos da imprensa, da Justiça e da opinião pública dos grandes centros.
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