A concentração fundiária, a monocultura de exportação, a escravidão, a profunda desigualdade social e fenômenos naturais como a seca plantaram as raízes da fome desde o Brasil Colônia.
A literatura brasileira da primeira metade do século XX tem romances marcantes sobre a fome. Os Sertões, de Euclides da Cunha, O Quinze, de Rachel de Queiroz, e Vidas Secas, de Graciliano Ramos, são algumas das obras que relatam o flagelo da seca e a saga de sobreviventes sertanejos na busca desesperada por comida. A fome urbana também é amplamente retratada pelo realismo e pelo naturalismo brasileiros, em livros como O Cortiço, de Aluísio Azevedo.
Manifestações populares contra a miséria e a fome, embora escassamente documentadas, não foram incomuns. Em 1931, por exemplo, a Confederação Geral dos Trabalhadores do Brasil (CGTB) convocou a Marcha da Fome, duramente reprimida pela polícia.
Em 1946, é Josué de Castro, médico e sociólogo brasileiro, quem define cientificamente a fome. Antes relegada à condição de sina — consequência de fenômenos ambientais e climáticos — a fome passou a ser tratada como problema eminentemente político.
Em suas obras “Geografia de Fome” (1946) e “Geopolítica da Fome” (1951), Josué dá ao flagelo o estatuto político e científico de produto de estruturas econômicas e sociais desumanas, fabricado por homens contra homens. O pensador não apenas afirmou que havia solução para o problema da fome, mas também apontou caminhos – como, por exemplo, a implantação de políticas de segurança alimentar e a cooperação global.