1981 30 de julho
Sem-terra resistem na Encruzilhada
Camponeses enfrentam cerco do major Curió e defendem acampamento
Por ordem do general presidente João Baptista Figueiredo, o major Sebastião “Curió” Rodrigues de Moura desembarca na Encruzilhada Natalino, balão rodoviário em Ronda Alta (RS), à frente de dez agentes da Polícia Federal e uma centena de policiais militares. Sua missão é retirar cerca de 600 famílias de trabalhadores sem terra (cerca de 3 mil pessoas) acampadas no local.
Uma semana antes, 15 mil sem-terra haviam marchado na rodovia reivindicando reforma agrária. O acampamento da Encruzilhada Natalino teve origem em 1978, quando ali montaram suas barracas seis famílias expulsas da área indígena Nonoai. Dois anos depois, o acampamento original tinha atraído camponeses de toda a região, com apoio da Comissão Pastoral da Terra (CPT). A marcha dos 15 mil, tendo à frente o bispo dom Tomás Balduíno, coordenador da CPT, foi a maior manifestação pela reforma agrária desde o golpe de 1964.
O major Curió, do Serviço Nacional de Informações (SNI), era um veterano do aparelho repressivo e foi um dos principais envolvidos no extermínio da guerrilha do Araguaia. Também comandou a operação para controlar o garimpo de Serra Pelada, no Pará, em 1980, o que lhe valeu a confiança de Figueiredo.
A Encruzilhada Natalino foi declarada área de segurança nacional. No dia 10 de agosto, o acampamento seria cercado pelas tropas. Ninguém mais podia entrar ou sair. O cerco foi furado no dia 21 por 35 colaboradores do movimento, que obtiveram salvo-conduto judicial para levar alimentos às famílias. Durante dez dias, apoiadores de todo o país concentraram-se na região: sindicalistas, religiosos, militantes do PT e de entidades democráticas. Derrotado pela resistência dos sem-terra, o major Curió abandonou a área no dia 31.
Em fevereiro de 1982, as famílias se mudaram para uma gleba de 108 hectares, adquirida pela CPT em Ronda Alta, onde continuaram reivindicando reforma agrária. O acampamento da Encruzilhada Natalino foi o berço do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST).