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Em 1983, um deputado estreante, Dante de Oliveira (PMDB-MT), apresentou uma emenda constitucional restabelecendo as eleições diretas já na escolha do próximo presidente da República, retirando assim esse poder do Colégio Eleitoral, que apenas sacramentava as escolhas dos altos comandos das Forças Armadas.
Vista inicialmente com ceticismo, a proposta acabou sendo acolhida como prioridade pelos partidos de oposição, especialmente pelo PMDB, pelo PT e pelo PDT, que avaliaram corretamente que a iniciativa poderia catalisar a insatisfação crescente com o governo Figueiredo, numa conjuntura de inflação alta e arrocho salarial. Assim, a emenda e o tema das diretas entraram não apenas na pauta dos partidos de oposição mas na agenda nacional, no mesmo momento em que os candidatos governistas à eleição indireta – Paulo Maluf, Mario Andreazza e Aureliano Chaves – começavam a disputar os votos dos convencionais do PDS e dos eleitores do Colégio Eleitoral.
Em junho de 1983 o governador Iris Resende, do PMDB, comandou em Goiânia o primeiro comício pelas Diretas, reunindo cerca de cinco mil pessoas. Nos meses seguintes ocorreriam manifestações ainda pequenas em Teresina (PI) e em diversas cidades de Pernambuco (chamadas pelo governador Miguel Arraes). Em 26 de novembro, os dez governadores eleitos pela oposição em 1982 (nove do PMDB e Leonel Brizola, do PDT), assinaram manifesto conjunto apoiando a emenda Dante de Oliveira e exigindo eleições diretas para presidente.
No dia seguinte, 27 de novembro, realizou-se o primeiro comício unificado das Diretas-Já, em frente ao Estádio do Pacaembu, em São Paulo, com participação do PMDB, do PT e do PDT, da UNE, da CUT, da Conferência Nacional da Classe Trabalhadora (Conclat) e da Comissão de Justiça e Paz (CJP) da Arquidiocese de São Paulo. Inicialmente, o comício havia sido convocado apenas pelo PT. No mesmo dia, a CJP planejava realizar uma manifestação contra a intervenção americana na Nicarágua. Depois de muitas negociações, as duas iniciativas acabaram unificadas em torno da bandeira das diretas no comício do Pacaembu. Começou a nascer ali a coordenação suprapartidária da campanha, que contaria com a adesão de mais de 70 entidades da sociedade civil. Um milhão de folhetos foram distribuídos com as palavras de ordem que contentavam todos os organizadores: “Por eleições livres e diretas para presidente da República. Contra o arrocho e o desemprego. Fora o FMI. Contra a agressão dos Estados Unidos aos povos da América Latina”. Quinze mil pessoas compareceram ao comício, dando a largada para a campanha que tomaria conta do Brasil nos meses seguintes. Naquela noite, por coincidência, morreu o senador Teotônio Vilela, um dos grandes nomes da resistência democrática.
Nas semanas seguintes, várias cidades foram palcos de comícios de médio porte até que, em 12 de janeiro de 1984, o comício de Curitiba reuniu mais de 50 mil pessoas, abrindo a temporada das grandes manifestações. Elas dariam um salto no dia 25 de janeiro, quando uma multidão de mais de 300 mil pessoas lotou a Praça da Sé, no centro de São Paulo.
A partir desta data os comícios pipocaram em diferentes capitais e grandes cidades do país: João Pessoa, Maceió, Belém, Rio de Janeiro, Cuiabá, Rio Branco, Manaus, entre outras. Alguns foram maiores, outros menores, mas o clima geral era de franca e generalizada mobilização. Novo recorde de participação foi alcançado em 24 de fevereiro, no comício de Belo Horizonte, que reuniu mais de 400 mil pessoas, sob o comando do governador Tancredo Neves.
A votação da emenda foi marcada para o dia 25 de abril e os comícios, ganhando dinâmica própria, alastraram-se por todo o país. Os líderes maiores – Ulysses, Lula, Brizola e os governadores – já não conseguiam estar presentes em todos os eventos, que se sucediam em cidades como Florianópolis, Porto Alegre, Goiânia, Londrina, Natal, Petrolina, Uberlândia. Em alguns Estados, foram marcados comícios simultaneamente em várias cidades. A campanha seguiu num crescendo até o grande comício da Candelária, no Rio de Janeiro, que congregou mais de um milhão de pessoas no dia 10 de abril – a maior manifestação de rua da história do Brasil até aquele momento. Com a data da votação se aproximando, a comissão marcou o comício de encerramento para o dia 16 de abril em São Paulo. Um milhão e meio de pessoas ocuparam o Vale do Anhangabaú, batendo o recorde de comparecimento do Rio de uma semana antes.