1969 - 1972

Um combate desigual

Luta armada (1969 - 1972)

O combate desigual entre o aparelho militar-policial de repressão e um punhado de organizações socialistas e nacionalistas é um dos capítulos mais sombrios – e também dos mais heroicos – da resistência à ditadura militar no Brasil. A luta armada até hoje inspira interpretações românticas e, no outro extremo, recriações rancorosas. As razões para que tenha arrebanhado os jovens da época estiveram na escalada do autoritarismo a partir do golpe de 1964, na frustração com a luta política institucional e numa conjuntura mundial marcada pela Guerra Fria, lutas anticoloniais, contestação cultural e rebelião da juventude.

O golpe de 1964 interrompeu violentamente o maior processo de ascensão das forças populares no Brasil até então. A luta pelas Reformas de Base (agrária, urbana, da economia, da educação) mobilizava milhões de trabalhadores da cidade e do campo, apontando para um projeto de país que conquistou amplos setores sociais e incendiou a imaginação de intelectuais e artistas. Em 48 horas esse projeto ruiu sem que as lideranças políticas progressistas conseguissem esboçar uma reação organizada ao golpe desfechado pelos principais chefes militares, com o apoio dos grandes grupos econômicos e da maioria dos meios de comunicação, e ativa sustentação do governo dos Estados Unidos. 

O Partido Comunista Brasileiro (PCB), que era a maior organização de esquerda, pagou o preço pela frustração. Outras forças, como a Ação Popular, de inspiração católica, e os marxistas do PCdoB e da Política Operária (Polop), acusaram então o PCB de ter ficado a reboque do governo João Goulart, numa linha “pacifista de colaboração de classes”, ao invés de preparar “as massas” para lutar pela Constituição e pelas Reformas de Base. Nos anos seguintes, a  questão da luta armada se tornaria um divisor de águas na esquerda, atraindo também políticos nacionalistas e militares (marinheiros e sargentos, principalmente) atingidos pelo golpe.

No cenário da Guerra Fria, as décadas de 1950 e 1960 foram marcadas por movimentos armados de libertação nacional que levaram governos populares e socialistas ao poder na Argélia, no Congo, em Cuba. No Vietnã, com apoio da China, o governo comunista do Norte e o exército popular vietcongue enfrentavam o poderoso exército dos EUA. As teses de Frantz Fanon, sobre a revolução argelina; de Mao Tsé-tung e Ho Chi-Minh, sobre a Guerra Popular, e de Ernesto Che Guevara, sobre o foco guerrilheiro cubano, influenciavam a esquerda ao redor do mundo. 

Guerrilha e revolução eram palavras comuns no noticiário internacional, que também mostrava a luta dos negros pelos direitos civis nos EUA e os grandes protestos estudantis contra a invasão do Vietnã. Tudo isso num ambiente em que a juventude mundial se rebelava abertamente contra as estruturas tradicionais: a explosão do rock, a liberdade sexual incentivada pelo lançamento da pílula anticoncepcional, o movimento hippie e a contracultura. O mundo estava em ebulição política, social e de costumes. 

Em 1964, militares e políticos ligados ao ex-governador Leonel Brizola, exilado no Uruguai, criaram o Movimento Nacional Revolucionário (MNR). Com apoio cubano, o MNR lançou, em 1965, a primeira guerrilha contra a ditadura: o coronel Jefferson Cardim Osório tomou a pequena cidade de Três Passos (RS) e foi capturado dias depois. Também seria preso, sem combate, o núcleo do MNR instalado em 1967, na Serra do Caparaó, entre Minas Gerais e Espírito Santo.

A entrada oficial da esquerda brasileira na luta armada se dá a partir de 1967, quando foi criada em Cuba a Organização Latino-Americana de Solidariedade (Olas). O ex-deputado comunista Carlos Marighella, que estava rompendo com o PCB, participa do Congresso da Olas e recebe apoio para preparar a guerrilha rural. A Ação de Libertação Nacional (ALN), como o grupo marighelista passaria a se chamar, faz os primeiros assaltos a bancos em São Paulo e envia militantes para treinar em Cuba.

As dissidências do PCB na Guanabara (DI-GB, futuro MR-8) e em Minas Gerais (Corrente, braço da ALN) também tomariam o caminho das armas. Um terceiro grupo fundou o Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR). A influência da Olas dividiu as bases da Polop, que criaram, em Minas, o Comando de Libertação Nacional (Colina) e, em São Paulo, a Vanguarda Popular Revolucionária (VPR). Também em 1967, a Ação Popular adotou a tese maoísta da guerra popular prolongada e passaria a se chamar Ação Popular Marxista-Leninista (APML). O PCdoB estava na linha chinesa desde 1962.

1969 - 1972

Da teoria à prática

Luta armada

Quando adotaram as teses da luta armada, as organizações de esquerda já eram proibidas e perseguidas pela ditadura, o que as levou a atuar clandestinamente. As primeiras ações, de “expropriação” e propaganda, em 1967 e 1968, foram relativamente ofuscadas pelos movimentos de massa, como as greves de trabalhadores de Contagem (MG) e Osasco (SP) e protestos estudantis, culminando na Passeata dos Cem Mil, em junho de 1968. Diante da reivindicação por democracia, a ditadura radicaliza o arbítrio e, em 13 de dezembro, edita o AI-5, conferindo poder absoluto aos chefes militares.

Sem qualquer espaço para a ação política – Congresso Nacional fechado, censura total, manifestações proibidas e prisões sem habeas corpus – as organizações fazem de 1969 o grande ano da guerrilha urbana. Em janeiro, o capitão Carlos Lamarca integra-se à Vanguarda Popular Revolucionária (VPR) e deixa o quartel de Quitaúna, em São Paulo, levando 64 fuzis FAL e pesada munição. Em julho, a Vanguarda Armada Revolucionária Palmares (VAR-Palmares) arrebata, no Rio, um cofre com US$ 2,5 milhões do ex-governador Adhemar de Barros. Em setembro, um comando da Ação Libertadora Nacional (ALN) e Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8) sequestra no Rio o embaixador dos EUA, Charles B. Elbrick, trocado por 15 presos políticos.

O sequestro do embaixador, na semana da Pátria, teve repercussão mundial e humilhou a junta militar que governava o país desde que o general presidente Costa e Silva sofrera um derrame, em agosto. Em outubro, os militares se reunificam em torno do general Emílio Médici, que anuncia “repressão dura e implacável”. A perseguição aos chamados “terroristas” é mesmo implacável. Em novembro, Carlos Marighella cai numa cilada do Departamento de Ordem Política e Social (Dops) e é assassinado na alameda Casa Branca, em São Paulo.

Para conhecer e desmantelar os grupos armados, a repressão recorre sistematicamente à tortura de presos, não raro diante de filhos pequenos e esposas. Os centros de tortura mais conhecidos eram a Operação Bandeirante (Oban), em São Paulo, financiada por empresários, e o quartel da Polícia do Exército, no Rio de Janeiro. As primeiras mortes na tortura eram disfarçadas como suicídios, tiroteios e atropelamentos. Em dezembro de 1969, Virgílio Gomes da Silva, o Jonas da  ALN, foi assassinado e enterrado como indigente. Foi o primeiro “desaparecido” de uma longa lista.

Fragilizada por mortes e prisões, a partir de 1970 a guerrilha enfrenta a repressão unificada sob comando do Exército no Destacamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi). Acuada, concentra-se em libertar presos. Em sucessivos sequestros, o cônsul japonês em São Paulo, o embaixador da Alemanha e o embaixador da Suíça foram trocados por 125 presos, todos banidos do país. Uma Frente Armada reuniu sobreviventes da ALN, VPR, MR-8, MRT, Rede e PCBR em ações desesperadas, que facilitaram a atividade da repressão.

Em 1971 a luta armada era uma guerra perdida pela esquerda, do ponto de vista militar e político. O país vivia o “milagre econômico”. Carlos Lamarca, doente e esfaimado, seria assassinado em setembro, num cerco militar no sertão baiano. Militantes que regressavam de Cuba eram espionados e assassinados ao entrar no Brasil. A ordem do ministro do Exército, Orlando Geisel, era liquidar os remanescentes, o que se fazia nas “casas da morte”: em Petrópolis (RJ) e num sítio no interior de São Paulo.

Liquidada a guerrilha urbana, o Exército se atirou, em 1972, sobre os destacamentos do PCdoB na região do Araguaia. Foram necessárias três campanhas, até 1974, para capturar e matar 64 guerrilheiros, todos “desaparecidos”. Os combates da guerrilha do Araguaia foram censurados na imprensa. Só alguns anos mais tarde o país tomou conhecimento daquela guerra silenciosa.

A maioria dos grupos guerrilheiros (entre “rachas” e reagrupamentos, chegaram a ser mais de duas dezenas) se dissolveu desorganizadamente. A maioria dos sobreviventes continuou contribuindo para mudar o país, numa nova conjuntura, integrando-se ao movimento pela Anistia e pela redemocratização, participando de sindicatos, movimentos sociais, da frente de oposições, o MDB, e, mais tarde, dos novos partidos: PT, PDT, PMDB e PSB, criados a partir de 1980. A luta continuou, por outros meios, até a derrota da ditadura.

1969 - 1972

Vidas clandestinas

Luta armada

Os militantes conhecidos pela repressão eram obrigados a viver como foragidos, nas duríssimas condições da clandestinidade. Cair na “clandeca”, como se dizia, significava cortar todos os laços com a família e os amigos, mudar de bairro ou de cidade, de nome, de aparência; anular a vida pessoal em nome da própria segurança e da segurança da organização. Significava entrar numa engrenagem sem retorno, da qual não se podia sair sem arriscar a própria vida ou a vida dos companheiros.

O militante clandestino vivia precariamente em esconderijos (os “aparelhos”). Não devia despertar suspeitas dos vizinhos nem podia travar amizades fora do círculo da organização. Mudava-se com frequência. Tentava andar sempre um passo adiante da repressão, convivendo com o medo da sempre iminente prisão (a “queda”). Zanzava pelas ruas à espera de encontros sigilosos (os “pontos”), agendados com antecedência e confirmados por sinais e senhas secretas.

Devia aprender a usar armas (em alguns grupos, era obrigatório), a dirigir em velocidade, a escrever e decifrar códigos, memorizar codinomes e senhas, viver com o mínimo de gastos e dedicar-se integralmente à causa. Deveria tornar-se, enfim, o super-homem descrito no "Minimanual do Guerrilheiro Urbano", do líder da ALN Carlos Marighella. 
 
Devia desconfiar de tudo e de todos. Na próxima esquina havia a possibilidade de ter um cartaz com sua fotografia abaixo da palavra “terrorista”. Poderia ser reconhecido pelo cartaz, como ocorreu em 1971 a Ana Maria Nacinovic e dois companheiros, denunciados pelo dono do restaurante em que estavam no bairro da Mooca, em São Paulo. Os três foram assassinados ali mesmo. A morte seria capaz de bater à porta de casa, como bateu à porta de Aderval Alves Coqueiro, do Movimento Revolucionário Tiradentes (MRT), e de tantos outros cercados em seus aparelhos.

Isolado pessoal e socialmente, o militante clandestino cometia erros de segurança, como o de insistir em ver um companheiro que não comparecera a dois “pontos” consecutivos  – sinal de que devia ter caído nas mãos da repressão. Assim foi assassinado o Marquito da ALN; assim foi presa a jovem Dilma Rousseff da VAR-Palmares, em 1970. O medo da morte só era comparável ao medo de não resistir às torturas e entregar companheiros, como aconteceu a muitos dos mais disciplinados e corajosos militantes.

Nessas condições, a chamada vida útil de um guerrilheiro urbano variava de um a dois anos, ao fim dos quais estaria morto, preso ou, com mais sorte, exilado, conforme o cálculo de Herbert Daniel (ex-Colina e VPR, autor de "Passagem para o Próximo Sonho"). Esses “um ou dois anos” de clandestinidade representam a contribuição de milhares de jovens daquela geração para um Brasil mais justo – a entrega generosa dos melhores anos de vida e, no caso de centenas deles, o sacrifício heroico da própria vida.

 

1969 - 1972

As muitas formas de luta

Luta armada

Ação política: organizações como MR-8, PCBR, AP e a Dissidência de São Paulo (futura ALN) tinham forte influência no movimento estudantil até 1968. Colina e Corrente, em Minas Gerais, VPR, APML e Ala Vermelha, em São Paulo e no Rio de Janeiro, atuaram em sindicatos e fábricas, buscando combinar a luta armada com a luta de massas.

Propaganda armada: distribuição de panfletos e realização de comícios-relâmpago, com cobertura de militantes armados. Em favelas e bairros pobres, houve distribuição de alimentos tomados de caminhões e supermercados. Pelo menos duas vezes, emissoras de rádio foram tomadas para transmitir manifestos revolucionários.

Treinamento militar: realizado em sítios e fazendas, em condições precárias. Militantes da ALN e do Molipo receberam treinamento militar em Cuba. Do PCdoB e APML, na China. Em 1970, a VPR manteve no Vale do Ribeira (SP) um campo de treino de guerrilheiros que escaparam ao cerco de 2 mil policiais e militares.

Guerrilha no campo: Praticamente todas as organizações planejavam criar focos ou colunas móveis de guerrilheiros na zona rural, mas apenas o PCdoB estabeleceu um núcleo na região do rio Araguaia, onde 64 militantes combateram e foram dizimados pelo Exército entre 1972 e 1974. Duas tentativas do MNR fracassaram, em 1965 e 1967.

Expropriações: assaltos a bancos, carros-fortes e empresas, para arrecadar o dinheiro necessário à manutenção da rede de militantes e para a aquisição de terras para a guerrilha rural. Eram chamadas de “expropriações da burguesia”. A maior delas foi o roubo do cofre do ex-governador Adhemar de Barros, com US$ 2,5 milhões (1969).

Captura de armamento: assaltos a quartéis, lojas de armas, empresas de segurança; roubos de militares, policiais e vigilantes. Em pedreiras e mineradoras eram obtidos explosivos (dinamite). Também eram “expropriados” automóveis para as ações, máquinas gráficas e equipamentos hospitalares (para socorrer militantes feridos).

Sequestro de diplomatas: ações para libertar presos políticos, em troca de diplomatas estrangeiros. Entre 1969 e 1971, quatro ações desse tipo foram bem-sucedidas, permitindo a libertação de 130 prisioneiros, todos banidos do país. 

Sequestro de aviões: utilizados para fazer propaganda política e para permitir a fuga de militantes visados pela repressão. O destino da maioria dos voos sequestrados era Havana. Apenas uma tentativa fracassou, com a morte de um militante em solo.

Atentados a bomba: ações de propaganda pouco utilizadas no Brasil, contra quartéis, consulados dos EUA e outros alvos. O de maior impacto foi contra o quartel do 2º Exército em São Paulo (pela VPR, em1969), que deixou um soldado morto.

Justiçamentos: pelo menos quatro assassinatos de agentes e colaboradores da repressão: o capitão do Exército dos EUA Charles Chandler, agente da CIA (1968); o industrial Henning Albert Boilesen, financiador da Oban (1971); o delegado Otávio Moreira Jr., torturador (1973); e o comerciante Manoel Henrique de Oliveira, que denunciou clientes da ALN em seu restaurante, assassinados em seguida (1973).

Solidariedade: redes de simpatizantes (familiares, religiosos, políticos ou cidadãos inconformados com a ditadura) apoiavam com socorro médico, esconderijo temporário, organização de fugas, em contatos diplomáticos e na defesa de presos. A manutenção dessas redes era um risco compartilhado entre militantes e apoiadores. Também era comum a solidariedade entre organizações rivais para proteger e salvar militantes.

Luta teórica: além de enfrentar a ditadura, as diversas organizações de esquerda disputavam entre si a liderança política da revolução brasileira. Isso exigia dos dirigentes o estudo exaustivo de livros proibidos; escrever, discutir e divulgar textos teóricos que acabavam servindo como prova de “subversão” nos tribunais militares.

 

1969 - 1972

Os muitos nomes da guerrilha

Luta armada

AS DISSIDÊNCIAS DO PCB

ALN – Ação Libertadora Nacional: dissidência do PCB em São Paulo, liderada pelo ex-deputado Carlos Marighella. Adotou a luta armada em 1967 e o nome ALN em 1968. Foi o primeiro e mais atuante grupo da esquerda armada no Brasil. Desorientou a polícia em assaltos a bancos e ao trem pagador Santos-Jundiaí, que não eram assumidos pela organização. Marighella criou grupos “táticos” independentes e escreveu o "Minimanual do Guerrilheiro Urbano", que correu o mundo. Seu lema: “A ação faz a vanguarda”.  A ALN enviou três grupos para treinamento em Cuba. Em 1969, tomou a estação da Rádio Nacional e transmitiu uma fala gravada do líder, anunciando a guerrilha rural. Marighella foi assassinado em 11 de novembro, numa cilada da polícia. Seu último coordenador, Luiz José da Cunha, foi morto em 1973.
Lideranças: Carlos Marighella, Joaquim Câmara Ferreira, Marco Antônio Braz de Carvalho, o Marquito, Rolando Fratti, Zilda Xavier Pereira, Carlos Eduardo Fleury e Carlos Eugênio Paz.
53 mortos e desaparecidos.

MR-8 – Movimento Revolucionário 8 de Outubro: nome adotado pela Dissidência do PCB da Guanabara em setembro de 1969, durante o sequestro do embaixador Charles Elbrick, em ação com a ALN. Originalmente este nome, alusivo à data da morte de Che Guevara, era usado pela Dissidência de Niterói, que havia sido desarticulada pela repressão. No início de 1971, o capitão Carlos Lamarca ingressou no MR-8. Em setembro, ele seria cercado e assassinado pelos órgãos de segurança no sertão da Bahia. A direção do MR-8 transferiu-se para o exílio, onde fez autocrítica da luta armada, retornando clandestinamente ao Brasil a partir de 1973 para atuar no movimento estudantil e operário e no PMDB.
Lideranças: Carlos Alberto Muniz, Cláudio Torres, Franklin Martins, Cid Benjamin, Daniel Aarão Reis, Stuart Angel Jones, Carlos Lamarca e Sérgio Rubens Torres.
11 mortos e 4 desaparecidos.

 PCBR – Partido Comunista Brasileiro Revolucionário: dissidência do PCB, organizou a “Corrente Revolucionária” em vários Estados até se constituir como partido, em 1968. Liderado por dirigentes históricos do PCB, contestava tanto o “pacifismo” do partido pai quanto o “militarismo” de Marighella. Sob pressão de sua base no Nordeste, o PCBR fez o primeiro e fracassado assalto a banco no Rio de Janeiro no final de 1969. Em janeiro de 1970 quase toda a direção foi presa e o líder Mário Alves assassinado no quartel da Polícia do Exército no Rio de Janeiro. O PCBR foi liquidado em 1973
Lideranças: Mário Alves, Apolônio de Carvalho, Jacob Gorender.
12 mortos e 4 desaparecidos.

Corrente: Nome pelo qual ficou conhecida a Corrente Revolucionária do PCB em Belo Horizonte. Tinha presença nas entidades de servidores públicos, bancários e metalúrgicos. Atuou na greve de Contagem. Tornou-se o braço da ALN em Minas.
Liderança: Mário Zanconato.

Molipo – Movimento de Libertação Popular: dissidência da ALN formada em 1971 por 28 militantes que faziam treinamento em Cuba e voltaram ao Brasil sem consultar a direção. Em 1972, quase todos tinham sido assassinados, provavelmente denunciados por um agente infiltrado da repressão.
Lideranças: Carlos Eduardo Pires Fleury, Ruy Carlos Berbert, Jeová Assis Gomes, Antônio Benetazo.
19 mortos e desaparecidos.

M3G – Marx, Mao, Marighella e Guevara: pequeno destacamento da ALN que atuou em Porto Alegre em 1970, participando de ações com a VAR-Palmares.
Liderança: Edmur Péricles de Camargo.
3 militantes mortos.

A LINHA CHINESA

PCdoB – Partido Comunista do Brasil: dissidência do PCB desde 1962, alinhou-se ao Partido Comunista da China (PCC) e adotou a tese da guerra popular prolongada, o “cerco da cidade pelo campo”. Desde1966 enviou militantes treinados na China para o rio Araguaia, entre o Pará e o atual Estado do Tocantins. Entre 1972 e 1974 o Exército capturou e matou  64 membros da guerrilha do Araguaia, dados como “desaparecidos”.  Em 1976 três dirigentes do partido foram assassinados por agentes do Dops e do DOI-Codi numa casa no bairro da Lapa, em São Paulo. A chacina da Lapa concluiu o ciclo de assassinatos da ditadura.
Dirigentes: Maurício Grabois, Pedro Pomar, João Amazonas, Diógenes Arruda.
68 mortos e desaparecidos. 

PCR Partido Comunista Revolucionário: dissidência do PCdoB formada no Nordeste, em 1966. Ateou incêndios em canaviais e sabotou usinas de açúcar. Desarticulado em 1973, reapareceu em 1978, no movimento estudantil do Recife.
Liderança: Amaro Luís de Carvalho, o Capivara.
4 militantes mortos.

PCdoB Ala Vermelha: dissidência do PCdoB formada em 1967, a Ala Vermelha atuou no Centro-Sul, realizando assaltos a bancos para financiar uma guerrilha rural que nunca se concretizou. Em 1974, seus remanescentes fizeram autocrítica da luta armada .
Lideranças: Diniz Cabral Filho, Derly de Carvalho, Hélio Cabral, Tarzan de Castro.

MRT – Movimento Revolucionário Tiradentes: dissidência da Ala Vermelha formada em 1969. Participou da Frente Armada em 1970 e foi liquidado em 1971.
Lideranças: Devanir José de Carvalho e Plínio Peterson Pereira.
4 militantes mortos.

A EX-ESQUERDA CRISTÃ

APML – Ação Popular Marxista Leninista:  denominação da Ação Popular (AP) a partir de 1971, quatro anos depois de ter adotado oficialmente o marxismo, na linha maoísta do Partido Comunista Chinês. Militantes de classe média foram “proletarizados”, trabalhando como empregados em fábricas e no campo. Em 1973 a maioria da direção da APML integrou-se ao PCdoB. Um grupo liderado por Paulo Wright e Jair Ferreira de Sá manteve a denominação APML, que atuou no movimento estudantil até a década de 1980.
Lideranças: Paulo Wright, Herbert de Souza (Betinho), Jair Ferreira de Sá, Honestino Guimarães, José Carlos da Matta Machado.
10 mortos e desaparecidos. 

PRT – Partido Revolucionário dos Trabalhadores: dissidência da AP formada em 1969, rejeitou o maoísmo e recebeu ex-militantes da Polop e do PCB, como o líder camponês e ex-deputado de Goiás José Porfírio de Souza. Foi desmobilizado em 1970.
Lideranças: Vinícius Caldeira Brant, José Porfírio, Padre Alípio.
1 militante morto.

OS HERDEIROS DA POLOP

Colina – Comando de Libertação Nacional: dissidência da Polop formada em Minas, em 1967, foi o primeiro grupo a assumir a autoria de assaltos a bancos. Apoiou a greve de Contagem de 1968. Em 1969, fundiu-se à VPR para formar a VAR-Palmares.
Lideranças: Carlos Alberto Soares de Freitas, Juarez Guimarães Britto, Ângelo Pezzutti, Jorge Batista, Apolo Heringer Lisboa.
2 militantes mortos.

VPR – Vanguarda Popular Revolucionária: dissidência da Polop organizada em São Paulo, em 1967. Atraiu sargentos e marinheiros punidos pela ditadura, além do capitão Carlos Lamarca. Em 1968 explodiu um carro-bomba no portão do QG do 2º Exército no Ibirapuera. Após breve fusão com a Colina, reorganizou-se como VPR e criou um campo de treinamento no Vale do Ribeira, de onde 17 militantes escaparam ao cerco de 2 mil policiais e militares. Em 1970, o grupo comandou três sequestros de diplomatas, trocados pela libertação de 115 presos políticos. Em 1973, seis militantes da VPR foram assassinados numa chácara no Recife, delatados pelo Cabo Anselmo, ex-líder dos marinheiros que se tornara informante da repressão. Entre as vítimas da chacina estava a paraguaia Soledad Barred Viedma, grávida de Anselmo. A organização se dissolveu.
Lideranças: Onofre Pinto, Carlos Lamarca, Roberto Espinosa, José Ibrahim, Juarez Britto, Maria do Carmo Britto, Iara Iavelberg, Inês Etienne Romeu, Ladislau Dowbor.
37 mortos e desaparecidos.

VAR-Palmares – Vanguarda Armada Revolucionária – Palmares: fusão de VPR e Colina em 1969. Responsável pelo roubo do cofre do ex-governador Adhemar de Barros, com US$ 2,5 milhões, um recorde mundial nas expropriações. Manteve o nome VAR-Palmares após a recriação da VPR e defendeu o recuo da luta armada. Era o grupo da jovem Dilma Rousseff, vinda do Colina e presa em 1970. Em 1971 o dirigente Carlos Alberto Freitas foi preso, assassinado e dado como desparecido. O último dirigente da VAR-Palmares, James Allen Luz, foi encontrado morto em março de 1973.
Lideranças: Carlos Alberto Soares, Carlos Franklin Araújo, Roberto Espinosa.
13 mortos e 4 desaparecidos.

Rede – Resistência Nacionalista Democrática e Popular: pequeno destacamento da VPR, atuou em 1969 sob o comando de Eduardo Leite, o Bacuri, e integrou-se à Frente Armada. Em 1970, atuando na ALN, Bacuri é preso e torturado até ser morto, 109 dias depois.
Liderança: Eduardo Collen Leite. 

POC – Partido Operário Comunista: fusão realizada em 1967 entre o setor da Polop contrário à luta armada imediata e a Dissidência Leninista do PCB do Rio Grande do Sul. O POC iria se associar ao Exército Revolucionário do Povo (Montoneros), na Argentina, e ao Movimento de Esquerda Revolucionária (MIR), no Chile.
Lideranças: Flavio Koutzii, Marco Aurélio Garcia.
2 mortos no Brasil, 2 na Argentina e 2 no Chile

MCR – Movimento Comunista Revolucionário: dissidência do POC que realizou ações de expropriação em Porto Alegre, em 1970, em parceria com a VPR.
Liderança: Antônio Sales, Paulo Radtke, Carlos Alberto Tejera de Ré.
1 militante morto.  

OS MILITARES NACIONALISTAS

MNR – Movimento Nacional Revolucionário: constituído incialmente no Uruguai, por militares atingidos pelo golpe de 1964 que se reuniam em torno do ex-governador Leonel Brizola. Em 26 de março de 1965, uma coluna de 21 membros do MNR, liderada pelo coronel Jefferson Cardim Osório, tomou a cidade de Três Passos, na divisa do Rio Grande do Sul com Santa Catarina. A coluna marchou até o interior do Paraná, onde foi capturada pelo Exército. O MNR teve apoio militar e financeiro do governo de Cuba, mas o fracasso de uma segunda tentativa, na Serra do Caparaó (entre Minas e Espírito Santo), em 1967, encerrou o projeto militar de Leonel Brizola. Militantes do MNR integraram-se à VPR, à Colina e ao PCBR.
Lideranças: Leonel Brizola, Jefferson Cardim, Bayard Boiteux, Flávio Tavares, Thiago de Mello.
10 militantes mortos no MNR e seus reagrupamentos.

MR-26 – MOVIMENTO REVOLUCIONÁRIO 26 DE MARÇO: foi criado no Uruguai em 1965 por um ex-integrante do PCdoB e do MNR. Fez parte da guerrilha do Caparaó e atuou no Sul do país até 1970, apoiando grupos de esquerda. O nome era uma referência à data da tomada de Três Passos pelo coronel Jefferson Cardim.
Lideranças: Paulo Mello, Milton Soares de Castro.

FLN – Frente de Libertação Nacional: agrupamento formado no Rio, em 1969, por remanescentes do MNR e MR-26, em torno do coronel Joaquim Pires Cerveira, que havia organizado a fuga do coronel Jefferson Cardim de uma prisão no Paraná. Atuou em parceria com a VPR e ALN até 1970, quando Cerveira foi preso. Um agente da repressão infiltrado na FLN foi responsável pela queda de militantes da ALN e VPR.
Liderança: Joaquim Pires Cerveira
1 militante desaprecido.

MAR – Movimento Armado Revolucionário: formado no Rio em 1969, por um ex-sargento e cinco ex-marinheiros que cumpriam pena na penitenciária Lemos de Britto, com apoio externo de 20 outros militares punidos em 1964. A principal ação do MAR foi a fuga dos seis presos, em junho, acompanhados por três presos comuns. O grupo foi desarticulado pela repressão dois meses após a fuga.
Lideranças: José Duarte dos Santos, Antônio Prestes, Avelino Capitani, Marco Antônio da Silva Lima (vice-presidente da Associação dos Marinheiros, dissolvida em 1964)

RAN – Resistência Armada Nacional: reagrupamento de militantes do MRN, a partir de 1969, quando deixaram a prisão os que haviam sido capturados na Serra do Caparaó. O grupo divulgou ideias socialistas entre membros das Forças Armadas e foi desarticulado em 1972 com uma centena de prisões.