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AS DISSIDÊNCIAS DO PCB
ALN – Ação Libertadora Nacional: dissidência do PCB em São Paulo, liderada pelo ex-deputado Carlos Marighella. Adotou a luta armada em 1967 e o nome ALN em 1968. Foi o primeiro e mais atuante grupo da esquerda armada no Brasil. Desorientou a polícia em assaltos a bancos e ao trem pagador Santos-Jundiaí, que não eram assumidos pela organização. Marighella criou grupos “táticos” independentes e escreveu o "Minimanual do Guerrilheiro Urbano", que correu o mundo. Seu lema: “A ação faz a vanguarda”. A ALN enviou três grupos para treinamento em Cuba. Em 1969, tomou a estação da Rádio Nacional e transmitiu uma fala gravada do líder, anunciando a guerrilha rural. Marighella foi assassinado em 11 de novembro, numa cilada da polícia. Seu último coordenador, Luiz José da Cunha, foi morto em 1973.
Lideranças: Carlos Marighella, Joaquim Câmara Ferreira, Marco Antônio Braz de Carvalho, o Marquito, Rolando Fratti, Zilda Xavier Pereira, Carlos Eduardo Fleury e Carlos Eugênio Paz.
53 mortos e desaparecidos.
MR-8 – Movimento Revolucionário 8 de Outubro: nome adotado pela Dissidência do PCB da Guanabara em setembro de 1969, durante o sequestro do embaixador Charles Elbrick, em ação com a ALN. Originalmente este nome, alusivo à data da morte de Che Guevara, era usado pela Dissidência de Niterói, que havia sido desarticulada pela repressão. No início de 1971, o capitão Carlos Lamarca ingressou no MR-8. Em setembro, ele seria cercado e assassinado pelos órgãos de segurança no sertão da Bahia. A direção do MR-8 transferiu-se para o exílio, onde fez autocrítica da luta armada, retornando clandestinamente ao Brasil a partir de 1973 para atuar no movimento estudantil e operário e no PMDB.
Lideranças: Carlos Alberto Muniz, Cláudio Torres, Franklin Martins, Cid Benjamin, Daniel Aarão Reis, Stuart Angel Jones, Carlos Lamarca e Sérgio Rubens Torres.
11 mortos e 4 desaparecidos.
PCBR – Partido Comunista Brasileiro Revolucionário: dissidência do PCB, organizou a “Corrente Revolucionária” em vários Estados até se constituir como partido, em 1968. Liderado por dirigentes históricos do PCB, contestava tanto o “pacifismo” do partido pai quanto o “militarismo” de Marighella. Sob pressão de sua base no Nordeste, o PCBR fez o primeiro e fracassado assalto a banco no Rio de Janeiro no final de 1969. Em janeiro de 1970 quase toda a direção foi presa e o líder Mário Alves assassinado no quartel da Polícia do Exército no Rio de Janeiro. O PCBR foi liquidado em 1973
Lideranças: Mário Alves, Apolônio de Carvalho, Jacob Gorender.
12 mortos e 4 desaparecidos.
Corrente: Nome pelo qual ficou conhecida a Corrente Revolucionária do PCB em Belo Horizonte. Tinha presença nas entidades de servidores públicos, bancários e metalúrgicos. Atuou na greve de Contagem. Tornou-se o braço da ALN em Minas.
Liderança: Mário Zanconato.
Molipo – Movimento de Libertação Popular: dissidência da ALN formada em 1971 por 28 militantes que faziam treinamento em Cuba e voltaram ao Brasil sem consultar a direção. Em 1972, quase todos tinham sido assassinados, provavelmente denunciados por um agente infiltrado da repressão.
Lideranças: Carlos Eduardo Pires Fleury, Ruy Carlos Berbert, Jeová Assis Gomes, Antônio Benetazo.
19 mortos e desaparecidos.
M3G – Marx, Mao, Marighella e Guevara: pequeno destacamento da ALN que atuou em Porto Alegre em 1970, participando de ações com a VAR-Palmares.
Liderança: Edmur Péricles de Camargo.
3 militantes mortos.
A LINHA CHINESA
PCdoB – Partido Comunista do Brasil: dissidência do PCB desde 1962, alinhou-se ao Partido Comunista da China (PCC) e adotou a tese da guerra popular prolongada, o “cerco da cidade pelo campo”. Desde1966 enviou militantes treinados na China para o rio Araguaia, entre o Pará e o atual Estado do Tocantins. Entre 1972 e 1974 o Exército capturou e matou 64 membros da guerrilha do Araguaia, dados como “desaparecidos”. Em 1976 três dirigentes do partido foram assassinados por agentes do Dops e do DOI-Codi numa casa no bairro da Lapa, em São Paulo. A chacina da Lapa concluiu o ciclo de assassinatos da ditadura.
Dirigentes: Maurício Grabois, Pedro Pomar, João Amazonas, Diógenes Arruda.
68 mortos e desaparecidos.
PCR – Partido Comunista Revolucionário: dissidência do PCdoB formada no Nordeste, em 1966. Ateou incêndios em canaviais e sabotou usinas de açúcar. Desarticulado em 1973, reapareceu em 1978, no movimento estudantil do Recife.
Liderança: Amaro Luís de Carvalho, o Capivara.
4 militantes mortos.
PCdoB – Ala Vermelha: dissidência do PCdoB formada em 1967, a Ala Vermelha atuou no Centro-Sul, realizando assaltos a bancos para financiar uma guerrilha rural que nunca se concretizou. Em 1974, seus remanescentes fizeram autocrítica da luta armada .
Lideranças: Diniz Cabral Filho, Derly de Carvalho, Hélio Cabral, Tarzan de Castro.
MRT – Movimento Revolucionário Tiradentes: dissidência da Ala Vermelha formada em 1969. Participou da Frente Armada em 1970 e foi liquidado em 1971.
Lideranças: Devanir José de Carvalho e Plínio Peterson Pereira.
4 militantes mortos.
A EX-ESQUERDA CRISTÃ
APML – Ação Popular Marxista Leninista: denominação da Ação Popular (AP) a partir de 1971, quatro anos depois de ter adotado oficialmente o marxismo, na linha maoísta do Partido Comunista Chinês. Militantes de classe média foram “proletarizados”, trabalhando como empregados em fábricas e no campo. Em 1973 a maioria da direção da APML integrou-se ao PCdoB. Um grupo liderado por Paulo Wright e Jair Ferreira de Sá manteve a denominação APML, que atuou no movimento estudantil até a década de 1980.
Lideranças: Paulo Wright, Herbert de Souza (Betinho), Jair Ferreira de Sá, Honestino Guimarães, José Carlos da Matta Machado.
10 mortos e desaparecidos.
PRT – Partido Revolucionário dos Trabalhadores: dissidência da AP formada em 1969, rejeitou o maoísmo e recebeu ex-militantes da Polop e do PCB, como o líder camponês e ex-deputado de Goiás José Porfírio de Souza. Foi desmobilizado em 1970.
Lideranças: Vinícius Caldeira Brant, José Porfírio, Padre Alípio.
1 militante morto.
OS HERDEIROS DA POLOP
Colina – Comando de Libertação Nacional: dissidência da Polop formada em Minas, em 1967, foi o primeiro grupo a assumir a autoria de assaltos a bancos. Apoiou a greve de Contagem de 1968. Em 1969, fundiu-se à VPR para formar a VAR-Palmares.
Lideranças: Carlos Alberto Soares de Freitas, Juarez Guimarães Britto, Ângelo Pezzutti, Jorge Batista, Apolo Heringer Lisboa.
2 militantes mortos.
VPR – Vanguarda Popular Revolucionária: dissidência da Polop organizada em São Paulo, em 1967. Atraiu sargentos e marinheiros punidos pela ditadura, além do capitão Carlos Lamarca. Em 1968 explodiu um carro-bomba no portão do QG do 2º Exército no Ibirapuera. Após breve fusão com a Colina, reorganizou-se como VPR e criou um campo de treinamento no Vale do Ribeira, de onde 17 militantes escaparam ao cerco de 2 mil policiais e militares. Em 1970, o grupo comandou três sequestros de diplomatas, trocados pela libertação de 115 presos políticos. Em 1973, seis militantes da VPR foram assassinados numa chácara no Recife, delatados pelo Cabo Anselmo, ex-líder dos marinheiros que se tornara informante da repressão. Entre as vítimas da chacina estava a paraguaia Soledad Barred Viedma, grávida de Anselmo. A organização se dissolveu.
Lideranças: Onofre Pinto, Carlos Lamarca, Roberto Espinosa, José Ibrahim, Juarez Britto, Maria do Carmo Britto, Iara Iavelberg, Inês Etienne Romeu, Ladislau Dowbor.
37 mortos e desaparecidos.
VAR-Palmares – Vanguarda Armada Revolucionária – Palmares: fusão de VPR e Colina em 1969. Responsável pelo roubo do cofre do ex-governador Adhemar de Barros, com US$ 2,5 milhões, um recorde mundial nas expropriações. Manteve o nome VAR-Palmares após a recriação da VPR e defendeu o recuo da luta armada. Era o grupo da jovem Dilma Rousseff, vinda do Colina e presa em 1970. Em 1971 o dirigente Carlos Alberto Freitas foi preso, assassinado e dado como desparecido. O último dirigente da VAR-Palmares, James Allen Luz, foi encontrado morto em março de 1973.
Lideranças: Carlos Alberto Soares, Carlos Franklin Araújo, Roberto Espinosa.
13 mortos e 4 desaparecidos.
Rede – Resistência Nacionalista Democrática e Popular: pequeno destacamento da VPR, atuou em 1969 sob o comando de Eduardo Leite, o Bacuri, e integrou-se à Frente Armada. Em 1970, atuando na ALN, Bacuri é preso e torturado até ser morto, 109 dias depois.
Liderança: Eduardo Collen Leite.
POC – Partido Operário Comunista: fusão realizada em 1967 entre o setor da Polop contrário à luta armada imediata e a Dissidência Leninista do PCB do Rio Grande do Sul. O POC iria se associar ao Exército Revolucionário do Povo (Montoneros), na Argentina, e ao Movimento de Esquerda Revolucionária (MIR), no Chile.
Lideranças: Flavio Koutzii, Marco Aurélio Garcia.
2 mortos no Brasil, 2 na Argentina e 2 no Chile.
MCR – Movimento Comunista Revolucionário: dissidência do POC que realizou ações de expropriação em Porto Alegre, em 1970, em parceria com a VPR.
Liderança: Antônio Sales, Paulo Radtke, Carlos Alberto Tejera de Ré.
1 militante morto.
OS MILITARES NACIONALISTAS
MNR – Movimento Nacional Revolucionário: constituído incialmente no Uruguai, por militares atingidos pelo golpe de 1964 que se reuniam em torno do ex-governador Leonel Brizola. Em 26 de março de 1965, uma coluna de 21 membros do MNR, liderada pelo coronel Jefferson Cardim Osório, tomou a cidade de Três Passos, na divisa do Rio Grande do Sul com Santa Catarina. A coluna marchou até o interior do Paraná, onde foi capturada pelo Exército. O MNR teve apoio militar e financeiro do governo de Cuba, mas o fracasso de uma segunda tentativa, na Serra do Caparaó (entre Minas e Espírito Santo), em 1967, encerrou o projeto militar de Leonel Brizola. Militantes do MNR integraram-se à VPR, à Colina e ao PCBR.
Lideranças: Leonel Brizola, Jefferson Cardim, Bayard Boiteux, Flávio Tavares, Thiago de Mello.
10 militantes mortos no MNR e seus reagrupamentos.
MR-26 – MOVIMENTO REVOLUCIONÁRIO 26 DE MARÇO: foi criado no Uruguai em 1965 por um ex-integrante do PCdoB e do MNR. Fez parte da guerrilha do Caparaó e atuou no Sul do país até 1970, apoiando grupos de esquerda. O nome era uma referência à data da tomada de Três Passos pelo coronel Jefferson Cardim.
Lideranças: Paulo Mello, Milton Soares de Castro.
FLN – Frente de Libertação Nacional: agrupamento formado no Rio, em 1969, por remanescentes do MNR e MR-26, em torno do coronel Joaquim Pires Cerveira, que havia organizado a fuga do coronel Jefferson Cardim de uma prisão no Paraná. Atuou em parceria com a VPR e ALN até 1970, quando Cerveira foi preso. Um agente da repressão infiltrado na FLN foi responsável pela queda de militantes da ALN e VPR.
Liderança: Joaquim Pires Cerveira
1 militante desaprecido.
MAR – Movimento Armado Revolucionário: formado no Rio em 1969, por um ex-sargento e cinco ex-marinheiros que cumpriam pena na penitenciária Lemos de Britto, com apoio externo de 20 outros militares punidos em 1964. A principal ação do MAR foi a fuga dos seis presos, em junho, acompanhados por três presos comuns. O grupo foi desarticulado pela repressão dois meses após a fuga.
Lideranças: José Duarte dos Santos, Antônio Prestes, Avelino Capitani, Marco Antônio da Silva Lima (vice-presidente da Associação dos Marinheiros, dissolvida em 1964)
RAN – Resistência Armada Nacional: reagrupamento de militantes do MRN, a partir de 1969, quando deixaram a prisão os que haviam sido capturados na Serra do Caparaó. O grupo divulgou ideias socialistas entre membros das Forças Armadas e foi desarticulado em 1972 com uma centena de prisões.