1981 6 de agosto
Ecos do Riocentro: Golbery sai de cena
Derrotado e isolado, mentor da “abertura” controlada deixa o governo
É anunciada a exoneração do chefe do Gabinete Civil, general Golbery do Couto e Silva, mentor da “distensão lenta, gradativa e segura” no governo Ernesto Geisel e da “abertura” no governo do general João Baptista Figueiredo. Na carta de demissão, Golbery alegou “motivos de foro íntimo”. Quando caiu, tinha feito adversários demais na equipe econômica e no comando do Exército e perdera as condições de conduzir a área política do Planalto.
Em agosto de 1981, a estratégia da “abertura” – que dependia da vitória do PDS nas eleições de 1982 – estava comprometida pela crise econômica. A inflação caminhava para os 100% e o governo anunciava uma “recessão programada”, enquanto negociava um empréstimo do Fundo Monetário Internacional (FMI). Na tentativa de equilibrar as contas, o Executivo adotava cada vez mais medidas impopulares. Os preços públicos – combustíveis, transportes e energia – continuavam subindo, agravando a crise social (em 20 de agosto haveria um quebra-quebra de ônibus em Salvador). O ministro do Planejamento, Delfim Netto, anunciou um aumento de 8% para 10% no desconto dos salários para a Previdência Social.
A política de reajustes acima da inflação para os menores salários estava em cheque. Já a imagem da “abertura” tinha sido duramente afetada pelo acobertamento do atentado do Riocentro, em 30 de abril, quando um sargento morreu e um capitão foi gravemente ferido na explosão acidental de uma bomba. Ambos eram agentes do DOI-Codi. Contra as claras evidências de que se tratava de um plano terrorista para semear pânico num show com 20 mil pessoas na plateia, o inquérito concluiu que os militares foram vítimas “provavelmente de subversivos”.
Golbery foi um conspirador de primeira hora contra os governos de Getúlio Vargas e João Goulart. Foi um dos formuladores da “doutrina de segurança nacional”. Criou o Serviço Nacional de Informações (SNI) – que anos depois chamaria de “um monstro”. Caiu em desgraça no período Garrastazu Médici e foi reabilitado por Ernesto Geisel. Chamado de “bruxo” pelos admiradores, era um “traidor da revolução” para a linha-dura militar. O substituto de Golbery no Gabinete Civil foi Leitão de Abreu, que havia ocupado o mesmo cargo no governo Médici. Delfim Netto também tinha sido ministro de Médici, assim como o ministro do Interior, Mario Andreazza, que era o preferido de Figueiredo para sua sucessão.
Com a saída de Golbery, o projeto de “abertura” não tinha mais articuladores no governo.