1963 23 de agosto
'Eu tenho um sonho', clama Luther King
Em discurso histórico, ativista expõe ao mundo o segregacionismo nos EUA
“Eu tenho um sonho hoje”, discursa o ativista negro Martin Luther King a uma multidão de compatriotas, negros e brancos, que encerram a Marcha para Washington, num gigantesco comício diante do simbólico monumento ao presidente abolicionista Abraham Lincoln.
“Eu tenho um sonho de que um dia, no Alabama, meninos negros e meninas negras poderão unir as mãos com meninos brancos e meninas brancas como irmãos e irmãs”. O pronunciamento do pastor sensibilizaria os Estados Unidos e o mundo para a questão racial norte-americana, impulsionando o movimento pelos direitos civis num país ainda manchado por leis estaduais segregacionistas.
Nos estados do sul dos EUA ainda vigoravam as chamadas Leis Jim Crow, criadas em 1876. Elas designavam os espaços públicos e escolas que poderiam ser frequentados por negros.
Apesar desse sistema que tratava os negros como cidadãos de segunda classe e da violência — espancamentos, prisões arbitrárias, incêndios criminosos, ameaças e assassinatos — que esses cidadãos enfrentavam cotidianamente, Luther King não aprovava uma reação nos mesmos moldes, mas defendia estratégias de não violência, com o intuito de atrair a opinião pública.
A questão racial passou a mobilizar o país principalmente após a prisão de Rosa Parks em Montgomery (Alabama). Em 1º de dezembro de 1955, ela se recusara a ceder seu lugar no ônibus a um passageiro branco — ato que foi um marco para o movimento antirracista nos Estados Unidos. Em resposta à prisão, a população negra promovera um boicote à empresa de transporte público, que durou 381 dias.
Os confrontos se seguiram. Em 1957, Luther King havia criado a Confederação de Lideranças Cristãs do Sul (SCLC, do nome em inglês) e passara a liderar um movimento pelos direitos civis dos negros. Ele defendia uma estratégia de resistência pacífica, com o boicote a empresas e governos que compactuavam com as leis discriminatórias.
De todos os estados, o Alabama era o mais segregacionista. O próprio presidente John Kennedy chegara a se declarar “enojado” com imagens que mostravam cães da polícia atacando crianças negras. O próprio Luther King fora preso em uma visita a Birmingham, ficando oito dias incomunicável, e só fora solto após a intervenção de Kennedy e seu envolvimento com a causa dos direitos civis.
A luta por leis nacionais que garantissem o fim das leis segregacionistas estaduais ganharia o apoio do presidente democrata, que proporia uma lei de direitos civis. Kennedy seria assassinado logo depois, antes de vê-la aprovada, em 1964.
Luther King, que mais tarde receberia o Prêmio Nobel da Paz, também seria morto a tiros, em 1968, por extremistas.