1963 22 de agosto
'Vidas Secas' retrata a miséria nordestina
Nélson Pereira dos Santos capta nas telas a aridez da obra de Graciliano Ramos
A Cinematográfica Herbert Richers lança “Vidas Secas”, filme dirigido e roteirizado por Nélson Pereira dos Santos, baseado no romance homônimo de Graciliano Ramos. Nélson consegue com silêncios — o filme não tem sequer trilha sonora —, diálogos curtos, poucas frases e economia de palavras aproximar-se notavelmente da linguagem escolhida por Graciliano para expressar a realidade árida do Nordeste e denunciar a miséria dos sertanejos.
Em 1955, o diretor já havia dirigido “Rio, 40 Graus” (1955), que inaugurou uma nova forma de fazer cinema no país. “Vidas Secas” aproximava Nélson do movimento do Cinema Novo e, mais tarde, com “Deus e o Diabo na Terra do Sol”, de Glauber Rocha, e “Os Fuzis", de Ruy Guerra, ambos de 1964, comporia a chamada “trilogia do sertão”, que apresentaria ao Brasil desenvolvido e ao exterior uma realidade sem retoques do Nordeste brasileiro.
As filmagens foram realizadas na cidade de Palmeira dos Índios, terra natal de Graciliano Ramos, no interior de Alagoas. Na fazenda onde viveu o escritor, cedida por seu filho para a produção, a topografia sertaneja e os personagens do livro estavam ao alcance da câmera. A luminosidade da região foi amplamente usada para reproduzir nas telas o efeito estético da obra literária.
Nélson, que era vinculado ao Partido Comunista Brasileiro (PCB), usou muitos atores amadores, inclusive locais. Jofre Soares, por exemplo, além de trabalhar em circo, era vaqueiro e fora convocado para o papel de fazendeiro. Depois de “Vidas Secas”, sua carreira deslancharia, e ele atuaria em mais de cem filmes.
A cachorrinha Baleia fora comprada nos arredores da cidade e acompanharia o cineasta nas cerimônias de premiação da obra mundo afora.
“Vidas Secas” conta a saga de Fabiano e sua família, retirantes da seca que deixam sua terra e vagam sem destino certo, enfrentando a fome e as humilhações dos fazendeiros e dos soldados da força pública.