1979 30 de julho
Greves se alastram e peões se revoltam
Em Minas, PM mata operário em passeata; país tem 246 greves no ano
O tratorista Orocílio Martins Gonçalves é morto a tiros por policiais militares durante manifestação de 10 mil operários da construção civil nas ruas de Belo Horizonte. A greve no setor, que durou três dias, começou e terminou sem direção e sem apoio do sindicato da categoria. A Revolta dos Peões, como ficou conhecida, foi uma das 246 greves deflagradas em todo o país em 1979, estimuladas pelo exemplo dos metalúrgicos do ABC.
Mais de 3 milhões de trabalhadores brasileiros cruzaram os braços naquele ano. As greves de 1979 foram realizadas por categorias diversas, como bancários de Porto de Alegre, Belo Horizonte, Rio e São Paulo, trabalhadores da cana-de-açúcar de Pernambuco, professores da rede pública de Minas e do Rio, motoristas e cobradores de ônibus de Belo Horizonte, jornalistas de São Paulo. Algumas greves foram totalmente espontâneas, como a Revolta dos Peões. Outras foram organizadas por comissões de empresas e oposições sindicais, à revelia de dirigentes pelegos, como a dos motoristas de Belo Horizonte, a dos metalúrgicos de São Paulo e Osasco e a da fábrica da Fiat, em Betim (MG).
A repressão foi violenta contra os grevistas. Antes do assassinato de Orocílio, o metalúrgico Guido Leão, da Fiat, morreu atropelado por um carro policial na porta da fábrica. Em 30 de outubro, a PM mataria a tiros Santo Dias da Silva, que organizava um piquete na porta da fábrica de televisores Sylvania, em São Paulo. Em Belo Horizonte, um caminhão dos bombeiros lançou jatos de água contra professoras primárias. O Ministério do Trabalho cassou dirigentes de 27 sindicatos, entre eles Olívio Dutra, líder dos bancários de Porto Alegre, que foi preso com outros quatro diretores. A explosão de greves nos país demonstrava a insatisfação generalizada com os baixos salários, as condições de trabalho e a estrutura sindical oficial.
A Revolta dos Peões foi a mais clara demonstração da crise social do país naquele período da ditadura. Uma categoria desorganizada, traída por um sindicato pelego, parou a cidade por três dias. Em 1979, tudo o que o governo da “abertura” tinha para responder aos trabalhadores era repressão, violência e intervenção nos sindicatos combativos.