1968 16 de abril
Greve de Contagem fura o arrocho salarial
Operários desafiam a lei antigreves e forçam primeiro reajuste salarial da ditadura
Cerca de 1.200 trabalhadores da siderúrgica Belgo-Mineira, em Contagem, região metropolitana de Belo Horizonte, cruzam os braços reivindicando reajuste salarial de 25%. A primeira greve depois do golpe militar surpreendeu a ditadura, que desde 1964 impunha uma política de arrocho responsável por corroer mais de 20% do valor médio dos salários.
A greve foi articulada pela diretoria do Sindicato dos Metalúrgicos eleita no ano anterior e impedida de tomar posse, acusada de ter “elementos de esquerda” infiltrados. Com o sindicato sob intervenção do Ministério do Trabalho, nem os patrões nem o governo esperavam a eclosão de uma greve, que desafiava a legislação restritiva da ditadura.
As empresas ofereceram um reajuste de 10%, recusado em assembleia. No terceiro dia, a greve da Belgo ganhou a adesão dos trabalhadores da Mannesmann, da RCA, da SBE e de outras indústrias da região, ampliando-se depois para a fábrica da Belgo em João Monlevade e para a Acesita, no Vale do Aço.
O coronel Jarbas Passarinho, ministro do Trabalho, foi pessoalmente a uma assembleia intimidar os grevistas. Repetiu as ameaças em rede de televisão. Em 24 de abril, 1.500 policiais militares tomaram a região industrial de Contagem. PMs foram buscar em casa os operários, ameaçados de demissão sumária.
O movimento terminou no décimo-primeiro dia, 26 de abril, com uma aparente derrota dos grevistas. Mas em 1º de maio o general presidente Costa e Silva foi obrigado a anunciar um aumento de 10% nos salários de todos os trabalhadores brasileiros, furando pela primeira vez a política de arrocho.
A greve foi, portanto, vitoriosa, mas, depois do seu fim iniciou-se uma implacável perseguição aos membros das comissões de fábrica, com demissões, listas negras e prisões. Isso desarticulou por longo tempo o movimento operário na região.