No início dos anos 1960, o crítico Paulo Emílio Sales Gomes disse que o cinema brasileiro vivia então sob o “estigma do subdesenvolvimento”. De fato, só havia duas alternativas possíveis para os cineastas do país: ou produziam películas capazes de competir com as de Hollywood ou partiam para filmes de baixo custo.

Esses dois caminhos seguiram trilhas opostas, mas partiram da mesma fonte inesgotável de inspiração: o Brasil. No início dos anos 1940, as chanchadas da Atlântida começaram a dominar o gosto do público e encheram as salas de cinema, levando para as telas o carnaval, a alegria, os bêbados, os vagabundos, os palhaços e os homens comuns. Em São Paulo, a Vera Cruz se encarregou de fazer filmes mais “sérios”, que falassem do drama dos retirantes e daquele Brasil que parecia longe dos ares modernos.

Do lado de fora dos grandes estúdios floresceu, a partir dos anos 1950, uma nova geração de cineastas dispostos a produzir filmes socialmente comprometidos. Foi a vez de Nélson Pereira dos Santos e seu filme “Rio, 40 Graus”, que levou para as telas a discussão do subdesenvolvimentismo. Esse processo culminou, mais tarde, no Cinema Novo, que começou a ser consolidado no início dos anos 1960 em torno do diretor Glauber Rocha.

Ao longo do período que vai de 1945 até 1964, o cinema ajudou a imaginar e a revelar o Brasil para o público: um Brasil que parecia ser muitos brasis ao mesmo tempo.

A atriz Luíza Maranhão, em cena do filme “A Grande Feira”
(1961), dirigido por Roberto Pires
Arquivo Cinemateca