De todas as heranças deixadas pelo movimento modernista de 1922, a reivindicação de uma identidade nacional foi a que mais profundamente marcou a produção cultural brasileira nos tempos que se seguiram. A brasilidade, ou seja, o fator que nos diferencia e nos distingue em relação aos outros, apareceu na literatura de inúmeras formas no período entre 1945 e 1964.

Três escritores tornaram-se expoentes desse momento, principalmente pelo uso inovador da linguagem: Guimarães Rosa, João Cabral de Melo Neto e Clarice Lispector. Outros conquistaram, na ficção regionalista, grande popularidade entre os brasileiros: foi o caso de Jorge Amado, Érico Veríssimo e Graciliano Ramos. Já Manuel Bandeira — que nos anos 1930 entrara para a história da literatura brasileira como um dos maiores defensores do verso livre — ainda produzia nos anos 1960, chegando a se aventurar nas tendências contemporâneas da poesia concreta. Nos rincões do Brasil, o cordel seguia surpreendendo e se renovando, a exemplo de “Viagem a São Saruê”, de Manuel Camilo dos Santos, que inspirou, entre outros, Ferreira Gullar e seus colegas do Centro Popular de Cultura (CPC).

No fim das contas, havia Brasil para todo mundo, tanto para aqueles que falavam do mundo e do país a partir de sua região — como Manoel de Barros (Pantanal) e Bernardo Élis (sertão de Goiás) — quanto para quem evocava fantasmas do passado — como Cecília Meireles e seus inconfidentes — para lidar com as assombrações humanas de sempre.

O baiano Jorge Amado em 1959, nas ruas de Salvador
(Foto: Coleção José Medeiros/
Instituto Moreira Salles)
O gaúcho Érico Veríssimo em sua biblioteca
(Foto: Leonid Streliav/Ag. O Globo)