Portinari

Poucos artistas retrataram o Brasil com tanta versatilidade temática e técnica como fez Cândido Torquato Portinari. Seu repertório figurativo inclui as gentes de todas as regiões do país, com suas manifestações religiosas, suas expressões culturais, o cotidiano do trabalho e do lazer, festejos populares dos mais diversos. Pintou também murais – a maioria com temas históricos. Entre eles, os gigantescos Guerra e Paz, localizados na sede da ONU, em Nova Iorque.

Portinari transitou por estilos de modo múltiplo: se algumas vezes são as formas que chamam a atenção, em outras telas são as cores – e em outras ainda, ambas gritam, ou suavemente instigam o expectador. Mas na parcela mais representativa da sua vastíssima obra figura sempre algum signo de brasilidade: seja através da exaltação dos trabalhadores rurais e urbanos, pescadores, garimpeiros, seja através dos prantos dos retirantes, das brincadeiras de crianças, procissões e casamentos interioranos, festas juninas e carnavais. Portinari parece possuir (pelo menos) um verbo imagético para cada ponto que compõe essa constelação chamada Brasil.

Meninos Brincando
1958
Óleo sobre tela
59,5 x 73 cm.
Acervo Projeto Portinari
O Grande Carnaval
1953
óleo sobre tela
80.50 x 100.00 cm
Acervo Itaú Cultural
Pescadores
1951
Óleo sobre tela
114.5 x 162.2 cm
Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo

Di Cavalcanti

Um dos maiores nomes do modernismo brasileiro, Di Cavalcanti sempre buscou, em suas pinturas, criar um repertório de imagens que retratasse uma certa visão do Brasil – um Brasil autêntico, puro e popular. Com o pós-guerra e a ascensão da pintura abstrata no cenário artístico nacional, Di Cavalcanti se torna um dos principais militantes da arte figurativa no País, compreendendo esta posição estética como parte de um projeto cultural para a Nação.

Suas telas educariam esteticamente a população, contribuindo para que ela se percebesse, através da obra, como protagonista da esfera pública – ao passo que o abstracionismo prestaria um desserviço, justamente por não se ater a nenhum propósito que não o gesto individual do artista, confundindo o público ao esvaziar a arte de qualquer sentido político.

Transitando entre diversos estilos, Di Cavalcanti demonstrou uma tendência a eleger a cor como seu meio de gravar na imaginação nacional os tons das expressões brasileiras. E, não raras vezes, a alegria foi a expressão utilizada para representar a gente brasileira comum: pacífica, mestiça e harmoniosamente unida.

Pescadores
1951
Óleo sobre tela
114.5 x 162.2 cm
Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo
O Grande Carnaval
1953
óleo sobre tela
80.50 x 100.00 cm
Acervo Itaú Cultural

Guignard

Carioca de nascença, Alberto da Veiga Guignard pincelou como ninguém as alterosas. A convite do então prefeito de Belo Horizonte, Juscelino Kubitschek, empenhado em modernizar a produção artística da capital mineira, Guignard ministrou um curso de pintura e desenho na cidade em 1944.

As paisagens mineiras (mas não apenas) configuram parte significativa de sua produção impressionista: além de poetizar cenas cotidianas do Parque Municipal de BH, onde ministrava suas aulas, ao ar livre, de Ouro Preto e de outros municípios, Guignard elege o horizonte mineiro como seu motivo principal. Verdes, azuis e marrons (por vezes acinzentados, criando uma certa atmosfera para a cena) dão os contornos de suas Paisagens Imaginantes. O pintor sintetiza esse semblante específico da cultura nacional (por muitos denominado de mineiridade): o trem de ferro; os vilarejos; as igrejas setecentistas; um festejo popular; e principalmente, o horizonte, vasto, recortado por montanhas. A pouca regulação da espacialidade parece ampliar, na imaginação popular, a vastidão de Minas Gerais – e consequentemente, do Brasil.

Guignard pintando paisagem em Ouro Preto.
1961.
Autor: Luiz Alfredo. Acervo Museu Casa Guignard.
Fantasia de Minas
(Paisagem imaginante)
1955
Óleo sobre tela.
95.00 x 78.00 cm
Coleção Luís Antônio Almeida Braga e Sra.

Victor Brecheret

Victor Brecheret é por certo um dos maiores nomes da escultura nacional. Modernista da geração de 1922, chegou ao ponto alto de sua carreira nas décadas de 1940 e 1950. Neste período, Victor Brecheret parte para uma valorização da cultura indígena marajoara, grafando pedras com traços rústicos que representam imagens singelas: peixes, uma canoa, uma índia.

É inegável, porém, que sua maior contribuição para que o Brasil pensasse em si mesmo foi o gigantesco Monumento às Bandeiras, concluído e apresentado ao público em 1953. O monumento conjuga um caráter alegórico e narrativo: ali estão representados os arquétipos fundadores do povo brasileiro: o negro, o índio, o branco e o mameluco. É nítida a exaltação da força destas grupos étnicos que, em comunhão, promoveram a grandeza geográfica do Brasil. Seriam “as bandeiras” – com união e sacrifício de todas as raças – e não apenas “os bandeirantes” os responsáveis por fabricar o Brasil. A obra de Brecheret é um elogio ao povo brasileiro: grande porque formado por vários povos, étnias e culturas.

O artista plástico Victor Brecheret precisou de mais de três décadas para montar sua obra-prima. Por falta de recursos, em diversas ocasiões o próprio escultor trabalhou o granito bruto.
Data: 01/07/1953.
Autor: Não identificado.
Acervo UH/Folhapress.
O Monumento às Bandeiras também foi obra de dezenas de operários, anônimos que, ao lado de Brecheret, executaram a enorme escultura ao longo das décadas.
Data: 01/01/1953.
Autor: Não identificado.
Acervo UH/Folhapress.
Formado por 240 blocos de granito – cada um pesando 50 toneladas –, o grandioso Monumento às Bandeiras, com seus cinquenta metros de comprimento e dezesseis de altura, prende o olhar e cativa a imaginação dos que passam pelas redondezas do parque do Ibirapuera, em São Paulo.
Data: 10/12/1958.
Autor: Não identificado.
Acervo: Agência Estado.
O Monumento às bandeiras é hoje uma das marcas registradas da cidade de São Paulo.
Ano: 2014.
Wikimedia Commons.