1968 31 de janeiro

Ofensiva muda o rumo da guerra no Vietnã

No Ano Novo Lunar, norte-vietnamitas e vietcongues surpreendem Exército dos EUA

Forças coordenadas do Exército do Vietnã do Norte e dos guerrilheiros vietcongues lançam a Ofensiva do Tet (Ano Novo Lunar) contra as maiores cidades do Vietnã do Sul, incluindo um ataque à Embaixada dos Estados Unidos em Saigon (atual Ho Chi Minh). Centenas de aldeias são ocupadas por alguns dias antes de serem militarmente retomadas pelo Vietnã do Sul e EUA, que mantinham mais de meio milhão de soldados no pequeno país. Apesar de derrotada, a Ofensiva do Tet marcou uma virada política no conflito, demonstrando que a maior potência militar do planeta poderia ser corajosamente desafiada por um povo que lutava por sua liberdade.

Cerca de 80 mil soldados norte-vietnamitas e vietcongues participaram dos ataques e mais da metade morreu em combate ou na repressão que se seguiu. A retomada do território pelo Exército dos EUA se deu à base de massacres que chocaram a opinião pública mundial – como o que foi documentado pela imprensa na aldeia de My Lai, onde centenas de mulheres e crianças foram assassinadas e seus corpos lançados em valas, sob as ordens de um tenente norte-americano. Numa rua de Saigon, jornalistas registraram o assassinato de um prisioneiro vietcongue pelo general sul-vietnamita Nguyen Ngoc, cena que se tornou obrigatória em todos os documentários sobre o conflito.

A Ofensiva do Tet desmoralizou o governo dos Estados Unidos e provocou uma onda de protestos contra a intervenção no Vietnã. Centenas de milhares de jovens se rebelaram nas universidades e em grandes manifestações contra a guerra, em todo os EUA, o que levaria o presidente Lyndon Johnson a abrir negociações de paz com o governo do Vietnã do Norte. As tropas norte-americanas só abandonariam o país em 1972. Deixaram um rastro de 4 milhões de civis mortos e cenas de horrores de guerra protagonizadas por chuvas maciças de bombas incendiárias de napalm e desfolhantes químicos.

O movimento contra a intervenção militar dos EUA no Vietnã marcou profundamente a juventude e a sociedade civil mundial ao longo dos anos 1960. O presidente do Vietnã do Norte, Ho Chi Min, e o comandante do Exército, general Vo Nguyen Giap, tornaram-se ícones da esquerda, inclusive no Brasil. A heroica resistência dos povos vietnamita, laosiano e cambojano, que haviam derrotado o colonialismo francês na década de 1950 e desafiavam então a maior potência militar do planeta, inspirou manifestações políticas e culturais em todo o mundo. 

A defesa da paz no Vietnã influenciou o slogan do movimento hippie (“Faça amor, não faça a guerra”). É extensa a lista de canções contra a guerra, compostas ou interpretadas pelos maiores astros da música, como John Lennon, Rolling Stones, Willie Nelson, Black Sabath e Credence Clearwater Revival.