1972 21 de abril
Guerrilha do Araguaia combate em silêncio
Sem que o país soubesse, Exército inicia duro ataque aos guerrilheiros do PCdoB
Tem início a primeira operação das Forças Armadas de combate à guerrilha do Partido Comunista do Brasil (PCdoB) na região do Araguaia. Instalados na região desde 1966, militantes comunistas misturaram-se à população de camponeses pobres e catadores de castanhas, na tentativa de criar um foco de guerrilha. O cenário dos combates foi a região do Bico do Pagagaio, na confluência dos rios Araguaia e Tocantins e dos Estados do Pará, Maranhão e Goiás (na região pertencente hoje a Tocantins).
Era uma região abandonada pelos governos, por onde avançava a pecuária extensiva, tornando iminentes os conflitos pela posse da terra. Quase todos os grupos revolucionários – Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), Vanguarda Armada Revolucionária Palmares (VAR-Palmares), Comando de Libertação Nacional (Colina), Ação Libertadora Nacional (ALN) e Ação Popular Marxista-Leninista (APML) – tentaram estabelecer bases na região, mas apenas o núcleo do PCdoB conseguiu se implantar em pequenos povoados.
Atuando como professores e médicos, os militantes tentaram ganhar a confiança dos camponeses e mobilizá-los em torno de causas locais, como o preço justo para a castanha e a demarcação de terras. Conquistaram lealdade e gratidão, mas não há notícia de que camponeses da região tenham se engajado diretamente na guerrilha. Os militantes eram na maioria estudantes de classe média, mal armados e inexperientes em combate, mas o Exército tampouco estava preparado para liquidar a guerrilha.
A primeira campanha dos militares resultou na morte de 12 guerrilheiros (8 em combate e 4 assassinados) e na prisão de 7 dos cerca de 80 integrantes do grupo – entre eles, o futuro presidente do PT José Genoino, levado para Brasilia e brutalmente torturado. O Exército nunca informou suas baixas.
Quando começou o cerco, a censura proibiu menções à existência da guerrilha do Araguaia. O grupo ficou isolado também da direção do PCdoB, em São Paulo. As mensagens de apoio – apenas moral – chegavam à selva pelas ondas curtas da Rádio Tirana, da comunista Albânia, país ao qual os comunistas se alinhavam. A guerra silenciosa mobilizou milhares de soldados do Exército e da Aeronáutica em três campanhas até a liquidação dos últimos guerrilheiros, no final de 1973 e início de 1974.
Foram usadas bombas incendiárias de napalm para abrir clareiras na selva, como faziam os militares dos EUA no Vietnã. Camponeses foram ameaçados, presos e torturados para dar informações. Alguns, em número incerto, foram assassinados e tornaram-se “desaparecidos”. A partir da segunda campanha, o Exército não fez mais prisioneiros, executando todos os comunistas e camponeses capturados. Pelo menos 60 guerrilheiros foram mortos, a maioria depois de presos.
A ditadura somente admitiu a existência da guerrilha do Araguaia em 1975, dois anos depois de seu extermínio. A ordem era liquidar todos os guerrilheiros, segundo reconheceu mais tarde o coronel Pedro Cabral, que combateu no Araguaia, em depoimento à Comissão de Desaparecidos Políticos da Câmara dos Deputados: “Eram ordens de Brasília (...) que não ficasse ninguém vivo. É estarrecedor, é forte, é triste, mas essa era a ordem”. O objetivo, segundo o oficial, era de “que não se deixassem vestígios de que o conflito do Araguaia algum dia tivesse existido”.