1980 12 de maio

Golbery tira de Brizola a sigla PTB

Ivete Vargas, aliada do general, registra no TSE a legenda histórica

O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) concede a legenda e a sigla do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) ao grupo encabeçado pela ex-deputada Ivete Vargas, que havia feito o pedido de registro antes do ex-governador Leonel Brizola. A decisão é um golpe nos planos de Brizola, que pretendia retomar a sigla histórica depois de 15 anos de exílio. Ao saber da decisão do TSE, Brizola chorou e, num gesto teatral, escreveu as letras PTB em uma folha de papel para em seguida rasgá-la diante das câmeras.

“Consumou-se o esbulho”, afirmou Brizola, acusando o general Golbery do Couto e Silva, mentor da “abertura”, de ter patrocinado a adversária. O PTB original foi criado por Getúlio Vargas em 1945 e era o partido do presidente João Goulart, deposto pelo golpe de 1964. Pelo PTB, Brizola foi o deputado mais votado do Brasil em 1962 e pretendia disputar as eleições presidenciais de 1965, abortadas pelo golpe. Quinze anos depois, a legenda e o trabalhismo ainda tinham forte apelo eleitoral no Brasil.

Brizola já trabalhava para refundar o PTB há bastante tempo. Em 1979, antes da anistia, organizou um encontro de lideranças socialistas em Lisboa com esse objetivo. Os textos aprovados nessa reunião defendiam um “Novo Trabalhismo”, que lutasse para construir “uma sociedade socialista e democrática”.

Derrotado na disputa pela sigla do PTB, Brizola fundaria o Partido Democrático Trabalhista (PDT), com o ideário aprovado no encontro de Lisboa. O PDT terá forte presença no Rio Grande do Sul e no Rio, onde eram mais fortes a memória política do trabalhismo e a liderança de Brizola. O PDT iria disputar quadros tanto com o PMDB quanto com o PT.

Sobrinha de Getúlio Vargas, a ex-deputada Ivete Vargas faria do novo PTB uma linha auxiliar de do PDS (ex-Arena), em troca de cargos no governo do general presidente João Baptista Figueiredo. Numa evidência de que o PTB de Ivete não era mesmo o sucessor histórico da legenda de Getúlio e Jango, o novo partido recebeu a filiação do ex-presidente Jânio Quadros, que havia sido eleito presidente em 1961 contra a coligação PSD-PTB.