1968 18 de julho

CCC volta à cena em ataques a teatros

Atores de 'Roda Viva' são espancados; grupo espalha terror no meio teatral

O Teatro Galpão, em São Paulo, é atacado e depredado por duas dezenas de integrantes do Comando de Caça aos Comunistas (CCC), grupo paramilitar de extrema direita criado um ano antes do golpe de 1964 e integrado por militares, policiais e jovens ligados a políticos de direita. O elenco da peça “Roda Viva”, de Chico Buarque, foi espancado e humilhado.

Segundo depoimento de um dos participantes, coronel Luiz Helvécio da Silveira Leite, o grupo tomou a decisão de intensificar suas ações numa reunião realizada naquele ano no Centro de Informações do Exército (CIE). “Resolvemos agir contra a esquerda. Definimos qual o campo mais fraco e decidimos que era o setor de teatro”, disse, em depoimento. O Teatro Galpão foi o primeiro.

No mesmo mês de julho, no Rio, o teatro Maison de France, que encenava “O Burguês Fidalgo”, de Molière, foi alvo de atentado – pelo título da peça, os integrantes do CCC consideraram a obra de conteúdo comunista. Em 5 de agosto, também no Rio, o CCC atacou o Teatro Gláucio Gil, que tinha em cartaz a peça “Juventude em Crise”.

Em 3 de outubro, véspera da estreia de “Roda Viva” em Porto Alegre, o grupo paramilitar encheu a cidade de panfletos nos quais ameaçava a integridade física dos atores. No dia seguinte, depois do espetáculo, o elenco foi cercado por cerca de 200 pessoas na rua quando voltava ao hotel. A atriz Elizabeth Gasper e seu marido, Zelão, foram sequestrados por algumas horas. No Rio, em 2 de dezembro, o Teatro Opinião, que exibia “ Para Não Dizer que Não Falei das Flores”, de Geraldo Vandré, sofreu um atentado a bomba.

Nesse mesmo ano, o CCC – às vezes aliado a grupos como MAC (Movimento Anticomunista) ou FAC (Frente Anticomunista) – foi responsável por vários atentados a bomba no Rio: à sede da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), à redação e agência de classificados do “Correio da Manhã” e ao depósito de papel do “Jornal do Brasil”. Além disso, atacou a Livraria Civilização Brasileira e a Editora Forense. Uma das bombas, que não explodiu, era de arsenal militar.

O sequestro da atriz Norma Bengell, em outubro, também revelaria uma estreita ligação entre o grupo e os radicais militares: sequestrada em São Paulo por paramilitares, foi entregue ao 1º. Batalhão Policial do Rio de Janeiro e interrogada por quatro horas pelo coronel Helvécio, então chefe de gabinete do ministro do Exército.

As ações do CCC e de outros grupos paramilitares de direita reduziram-se depois da edição do Ato Institucional n 5 (AI-5), em 13 de dezembro de 1968. Seus integrantes praticamente foram absorvidos pelo aparelho de repressão que se montava a partir da radicalização do regime militar. Nos anos 1980, quando a ditadura já estava bastante enfraquecida, voltaram à ativa: incendiaram bancas de jornais, espancaram religiosos e praticaram atentados contra entidades como a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e a ABI.