1972 1° de fevereiro
Vandré faz canção de amor pelo país
Com 'Pátria Amada...', compositor exilado é vencedor de festival no Peru
O compositor Geraldo Vandré, exilado desde 1969, vence o Festival Internacional da Canção de Agua Dulce, no Peru, com a música "Pátria Amada, Idolatrada, Salve, Salve" ("Canção Terceira"). A obra foi feita em parceria com o músico Manduka, exilado no Chile com o pai, o poeta Tiago de Mello. O próprio Manduka interpretou a canção no festival em dueto com cantora venezuelana Soledad Bravo. "Pátria Amada" foi a última composição política de Geraldo Vandré.
Conhecido por suas canções engajadas ("Pra Não Dizer que Não Falei das Flores", "Disparada", "Aruanda", "Companheira", "Cantiga Brava", "Ventania", "Porta-Estandarte"), Vandré foi também um talentoso autor de canções românticas ("Se a Tristeza Chegar", "Pequeno Concerto que Virou Canção", "Depois é Só Chorar"). Após retornar ao país, em 1973, o compositor fez apenas uma canção conhecida ("Fabiana", em homenagem à Força Aérea Brasileira, FAB) e abandonou a carreira. Distanciou-se de tudo e recolheu-se à vida privada.
Geraldo Vandré foi um dos artistas brasileiros mais perseguidos pela ditadura, devido ao sucesso de "Pra não Dizer... (Caminhando)", música que falava de soldados que aprendiam “a viver pela pátria / e morrer sem razão”. A edição do AI-5, em dezembro de 1968, o surpreendeu em Goiânia, onde fazia um show com Geraldo Azevedo. Ambos fugiram para o Rio e foram escondidos numa fazenda por Aracy Carvalho, viúva do escritor Guimarães Rosa. Na fazenda, os dois Geraldos compuseram "Canção da Despedida", sobre “um rei mal coroado” que “não queria o amor em seu reinado”. Preso e torturado, Vandré partiu para a França, onde gravou o último disco (“Nas Terras do Benvirá”) e seguiu para o Chile.
"Pátria Amada, Idolatrada, Salve, Salve" é o titulo geral de uma série de canções do exílio da dupla Vandré-Manduka. A "Canção Terceira", vencedora do festival no Peru, é um triste dueto entre um homem e uma mulher, que também representa a pátria. Os primeiros versos: “Se é pra dizer adeus / Pra não te ver jamais / Eu, que dos filhos teus / Fui te querer demais / No verso que hoje chora / Pra te fazer capaz / Da dor que me devora / Quero dizer-te mais...”