1984 16 de julho
PMDB decide fazer transição por cima
Partido vai ao Colégio Eleitoral com Tancredo, e Frente Liberal indica o vice
Reunidos em Brasília os governadores do PMDB lançam Tancredo Neves candidato a presidente da República na eleição indireta marcada para 15 de janeiro de 1985. A direção do partido conta com os votos da Frente Liberal para fazer maioria no Colégio Eleitoral. O maior partido da oposição desiste da bandeira das Diretas-Já, que ainda é defendida pelo PT e por movimentos sociais. No primeiro momento, o governador do Rio, Leonel Brizola, do PDT, também resiste ao acordo.
O pacto com a Frente Liberal seria firmado três dias depois, num encontro do presidente do PMDB, Ulysses Guimarães, com o senador José Sarney, ex-presidente do PDS e um dos chefes da dissidência. O acordo previa a indicação do vice-presidente pelos frentistas – e o escolhido foi Sarney. Como ele havia sido eleito em 1978 pela Arena, um partido extinto, a lei permitia sua filiação ao PMDB para formar chapa com Tancredo.
Em 7 de agosto, seria divulgado o documento Compromisso com a Nação, assinado por Ulysses e Tancredo, pelo PMDB, e Aureliano Chaves e Marco Maciel, em nome da Frente. Nascia aí a Aliança Democrática, que se declarava aberta à adesão de outros partidos. Tancredo assumia o compromisso de governar por quatro anos e convocar eleições diretas para presidente em 1988. O programa da Aliança Democrática incluía:
– Convocação de Assembleia Nacional Constituinte em 1986;
– Eleições diretas para presidente, prefeitos de capitais e áreas de segurança nacional e eleição de deputados pelo Distrito Federal;
– Restabelecimento das prerrogativas do Legislativo e do Judiciário;
– Liberdade de organização e autonomia sindical;
– Reprogramação global da dívida externa;
– Combate à inflação e fim da política de arrocho salarial;
– Medidas de emergência contra a fome e o desemprego.
No discurso de lançamento da Aliança Democrática, Tancredo disse que a eleição indireta era o único caminho possível para encerrar o regime militar. “Um eclipse de 20 anos de obscurantismo chega ao seu final”, afirmou. O candidato defendeu a construção de “um novo pacto social” para superar a recessão, a inflação e a pobreza. Acenou também com a revisão do acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI) para a dívida externa: “Não podemos pagar [a dívida] com a lágrima, o suor e o sangue do nosso povo”.
Em 12 de agosto, a chapa Tancredo-Sarney foi homologada na Convenção Nacional do PMDB. O partido levou então a candidatura às ruas, numa tentativa de resgatar a mobilização pelas Diretas-Já. A cor amarela foi retomada como símbolo do candidato, que adotou o slogan “Tancredo Já”. Em 14 de setembro, o governador Íris Rezende (PMDB) organizou um comício pró-Tancredo em Goiânia, com 300 mil pessoas.
O peemedebista recebeu o apoio dos mais representativos empresários do país, como Antônio Ermírio de Moraes e Abílio Diniz, entre outros. Roberto Marinho pôs a Rede Globo e o jornal "O Globo" a serviço da campanha. Tancredo enviaria emissários aos generais para avisar que seu governo não promoveria “revanchismo”. A transição democrática, que havia sido impulsionada pelas ruas, caminhava para ser concluída “por cima”.
Para o líder do PDT, Leonel Brizola, o acordo reduzia a verdadeira coalizão democrática a um estreito acordo de oligarquias, mas ao final daquele ano o PDT decidiria votar em Tancredo, sem pedir cargos. O PT firmou posição contra as eleições indiretas e proibiu seus oito deputados de participar do Colégio Eleitoral. A perspectiva de ter um presidente civil e de oposição depois de 20 anos de ditadura militar determinaria expressivo apoio social ao candidato Tancredo Neves.