1955 19 de setembro
Militares argentinos derrubam Perón
Presidente é deposto por golpe, após anistiar líderes de levante frustrado
O presidente da Argentina, Juan Domingo Perón, é deposto pelos militares. O golpe pega de surpresa o presidente, que já havia se negado a punir os protagonistas de uma tentativa anterior de derrubá-lo e acreditava contar com o apoio das Forças Armadas.
Juan Domingo Perón era coronel e Secretário do Trabalho quando, em 1945, foi indicado candidato à presidência da República pela Junta Militar que governava a Argentina. Sua vitória nas eleições frustrou a oposição reunida na União Democrática, que congregava socialistas, comunistas, nacionalistas e democratas progressistas.
Na prática, porém, sua eleição representou a incorporação definitiva da classe trabalhadora ao corpo político da nação argentina, dando início a um novo capítulo de sua história. Desde então, a luta pelo poder na Argentina girou em torno das disputas entre peronistas e antiperonistas.
Perón começou a governar com o apoio da Igreja e das Forças Armadas e, principalmente, da classe trabalhadora. Numa época marcada pela polarização da Guerra Fria, adotou o discurso da justiça social, afirmando que seu governo não era capitalista nem comunista, representando uma “terceira posição” ideológica, o justicialismo. Tal doutrina teria como pilares a defesa da justiça social, da independência econômica e da soberania política do país, e atribuía ao Estado o papel de árbitro na mediação dos conflitos sociais.
Perón agradou a Igreja ao instituir o ensino religioso obrigatório nas escolas públicas e atraiu o apoio da classe trabalhadora com a ampliação dos direitos sociais e trabalhistas.
O viés popular, entretanto, ganhou também traços autoritários. O governo passou a controlar os sindicatos e a Confederação Geral dos Trabalhadores (CGT). As prerrogativas do Poder Legislativo foram reduzidas, e as províncias sofreram intervenções que enfraqueceram a autonomia federativa. Os meios de comunicação passaram a ser censurados pela Secretaria de Imprensa e Difusão.
Em 1949, a tortura de presos políticos e as prisões arbitrárias foram denunciadas pelo jornal “La Nación”, que foi multado e teve sua redação invadida pela polícia.
Jornais de oposição passaram a enfrentar dificuldades para comprar papel, cuja importação era controlada pelo governo. “La Prensa” e “La Nación” foram obrigados a reduzir suas edições.
Reeleito em 1951 para mais um mandato presidencial, Perón alterou significativamente algumas políticas de seu governo. Passou a negociar com empresas petrolíferas internacionais, desagradando os militares nacionalistas. Revogou a lei do ensino religioso nas escolas, sancionou a lei do divórcio e, em 1955, convocou uma assembleia constituinte para estabelecer a separação entre Estado e Igreja, rompendo assim com a hierarquia católica.
Nessa fase, as oposições cresceram e se fortaleceram.
A União Cívica Radical, maior força adversária do Partido Justicialista — fundado por Perón em 1947 —, elevou o tom dos ataques ao presidente. Alguns grupos de oposição optaram pela luta armada e pelo terrorismo, entre eles o Movimento de Intransigência e Renovação (MIR). A partir de então os comícios peronistas tornaram-se praças de guerra.
A conspiração contra o governo peronista ganhou força nos meios militares e civis em 1955. No dia 16 de julho, o alto escalão da Marinha pôs em prática o plano de bombardear a Casa Rosada e assassinar Perón. A execução foi desastrosa — acabou atingindo uma manifestação popular de apoio ao presidente na praça de Maio, matando mais de 300 pessoas e ferindo outras centenas.
Perón, confiante no apoio das Forças Armadas, fora surpreendido pela conspiração do alto escalão da Marinha, composto por oficiais da oposição radical.
Numa tentativa de conciliação, abriu mão de punir os militares golpistas, permitiu as atividades da oposição e declarou ser “o presidente de todos os argentinos”, o que foi interpretado como sinal de fraqueza política.
Após o golpe, Perón se exilaria na Espanha. Retornaria quase 20 anos depois, sendo eleito novamente presidente da República em 1973 e morrendo poucos meses após assumir o mandato.