1955 1 de novembro

Golpe dá início à Guerra do Vietnã

Com ajuda dos EUA, governo de Saigon cancela eleições gerais; Hanói resiste

Com apoio bélico dos Estados Unidos, o líder do Vietnã do Sul, Ngo Dinh Diem, cancela as eleições que unificariam o país. Cresce a resistência dos vietcongues (guerrilheiros do partido comunista) o golpe, encabeçados por Ho Chi Minh.

A Guerra do Vietnã (1955-1975) foi o mais violento confronto armado da segunda metade do século 20: nela morreram cerca de 58 mil soldados norte-americanos e, ao menos, 1,1 milhão de vietnamitas — algumas estimativas chegam ao total de três milhões de mortos.

Inserido no contexto da Guerra Fria, o conflito caracterizou-se por sua predominante motivação ideológica. Por isso, para os Estados Unidos e todo o seu poderio bélico, a derrota militar foi também, e principalmente, política, já que a guerra estava condenada internamente e ao redor do mundo.

Origens
A luta pela independência dos territórios coloniais franceses no Sudeste Asiático resultou na Guerra da Indochina (1946-1954), na derrota da França e na formação de três países: Camboja, Laos e Vietnã, tendo este último se dividido em Vietnã do Sul (com capital em Saigon) e do Norte (com capital em Hanói), separados pelo paralelo 17.

Durante a Guerra da Indochina, os Estados Unidos, usando como pretexto o apoio dos chineses ao Vietminh (nome reduzido de Liga para a Independência do Vietnã), partido comunista fundado pelo líder vietnamita Ho Chi Minh, passaram a fornecer armas e treinamento às forças francesas que combatiam os insurgentes. Embora os confrontos estivessem oficialmente encerrados pelos Acordos de Genebra, assinados em 1954, os Estados Unidos, liderando o bloco ocidental na Guerra Fria, continuaram fornecendo “assistência” (treinamento e armamento) às forças do sul, através do Military Assistance Advisory Group (Maag), contribuindo assim para a criação do Exército da República do Vietnã (ARVN).

Com a divisão do território do Vietnã em 1954, Ho Chi Minh chegou ao poder no Norte, enquanto no Sul, sob influência norte-americana, Ngo Dinh Diem tomou posse. Diem nutria um declarado sentimento antifrancês, o que contribuiu para que a França retirasse paulatinamente seu apoio ao Vietnã do Sul, abrindo caminho para o crescimento da influência norte-
-americana.

Os “conselheiros militares” — denominação utilizada para camuflar o envio de militares ao Vietnã — passaram a engrossar cada dia mais os quadros do Maag. Durante todo o governo de Dwight Eisenhower (1953-1961) e, depois, no de John Kennedy (1961-1963), a estratégia foi assegurar a consolidação do Vietnã do Sul como nação independente e, sobretudo, não comunista.

A resistência vietcongue
A presença norte-americana começou a enfrentar a crescente resistência dos vietcongues — como ficaram conhecidos os guerrilheiros do Vietminh, comandados por Ho Chi Mihn. Conhecendo muito bem o terreno, e contando com o desgaste acelerado do ditador sul-vietnamita, eles podiam operar em vantagem.

No Vietnã do Sul, a dependência econômica dos EUA cresceu exponencialmente, já que os investimentos, desvinculados de qualquer projeto de desenvolvimento e industrialização do país, serviam apenas para gerar uma indústria de importações. A situação política interna agravou-se, devido ao caráter autoritário e centralizador de Ngo Dinh Diem. Tanto é que, quando o ditador acabou derrubado por um golpe, em 1963, os Estados Unidos fizeram vista grossa e preferiram conviver com uma série de governos fracos.

Em novembro de 1963, o presidente John Kennedy foi assassinado. Seu sucessor, Lyndon B. Johnson (1963-1969), tomou então medidas que levariam os Estados Unidos a uma guerra aberta no Vietnã. Com apoio norte-americano, o Vietnã do Sul seria então governado por uma junta militar e, a partir de 29 de janeiro de 1964, pelo jovem general Nguyen Khanh.

Seguiu-se então uma aceleração dos financiamentos e do envio de “conselheiros” militares à região. Depois de vencer as eleições presidenciais de 1964, Johnson despachou para o Vietnã o general William Westmoreland, paraquedista veterano da 2ª Guerra Mundial e da Guerra da Coreia, para comandar o Military Assistance Command/Vietnam (MACV), que absorveu o Maag e estabeleceu a ligação entre os “conselheiros” e o governo local, passando a centralizar as operações militares contra o Norte.

A escalada da violência
Em 1964, a CIA já organizava ataques secretos a alvos no Vietnã do Norte, realizados por forças sulistas treinadas pelos norte-americanos. Em 30 de julho foram atacadas as ilhas de Hon Me e Hong Ngu, ao mesmo tempo em que o destróier "USS Maddox" iniciava atividades de patrulha na região do golfo de Tonkin, em águas internacionais.

Em 4 de agosto, um incidente envolvendo um destróier americano serviu de pretexto para o inevitável: o início das ações armadas no Vietnã do Norte, abertamente realizadas por tropas dos Estados Unidos. Teve início a Operação Pierce Arrow, com uso de bombas e de armas químicas.

O caminho estava aberto para que o Congresso norte-
-americano aprovasse a “Resolução do Golfo de Tonkin”, em 7 de agosto, autorizando o presidente a “tomar todas as medidas necessárias para repelir qualquer ataque armado contra as forças dos Estados Unidos e impedir novas agressões”. Johnson obtinha assim a ambicionada carta branca para intensificar as ações no Sudeste Asiático.

Teve início então uma guerra suja contra o povo do Vietnã do Norte, com uma escalada de bombardeios indiscriminados que atingiu populações civis e crianças. Somente em abril de 1964, 3.600 missões aéreas foram lançadas contra o Vietnã do Norte — média de 120 por dia. O governo dos Estados Unidos aprovou então o aumento das tropas no país: o número de soldados saltou de 23 mil, em 1964, para 485 mil em 1967.

Em 30 de janeiro de 1968 — primeiro dia do “Tet”, o ano-novo vietnamita —, teve início um novo capítulo da guerra: soldados vietcongues investiram contra a embaixada dos Estados Unidos em Saigon, ao mesmo tempo em que lançavam ataques simultâneos a praticamente todas as bases norte-americanas no Vietnã, numa ofensiva que mobilizou aproximadamente 84 mil norte-vietnamitas e vietcongues.

O Exército do Vietnã do Norte cruzou a zona desmilitarizada do paralelo 17 e atacou a base de Khe Sanh. Enquanto os norte-americanos respondiam com uma concentração de fogo jamais vista na guerra, o Exército vietnamita deu a volta e tomou a antiga capital do império, Hué. O custo, porém, foi elevado demais para as cidades do Vietnã: Kontum, My Tho, Ben Tre e a bela Hué foram reduzidas a cinzas.

Esses ataques ficariam gravados na história com o nome de “Ofensiva Tet”. O saldo foi de 165 mil mortes e 2 milhões de desabrigados. Nos Estados Unidos, começava um movimento que não poderia ser vencido pelas armas: a revolta da opinião pública.

O repúdio à guerra
A Guerra do Vietnã foi o primeiro conflito transmitido pela televisão quase em tempo real. As imagens dos jovens soldados mortos e a divulgação diária do número de baixas calaram fundo na sociedade norte-americana e alimentaram a fogueira da oposição à guerra. Além disso, com o lançamento das operações de busca e destruição (“search and destroy”) — estratégia que visava enfraquecer a infraestrutura de apoio aos vietcongues —, cresceu também o número de massacres perpetrados por soldados norte-americanos, fazendo aumentar a rejeição à guerra.

Apesar da campanha interna contra o conflito durante o governo de Lyndon Johnson, o início da retirada norte-americana só teria início no governo de Richard Nixon (1969-1974), com a substituição gradual das tropas por soldados sul-
-vietnamitas equipados e treinados pelos Estados Unidos. No final de 1972, o número de soldados norte-americanos no Vietnã cairia para 24 mil.

Nessa fase a ação dos vietcongues havia se intensificado: eles controlavam, com seus aliados locais, quase todo o Laos e o Camboja.

No ano seguinte, derrotados politicamente e sem nenhuma perspectiva de vitória, os Estados Unidos assinariam um acordo de paz com o Vietnã do Norte e removeriam suas tropas do sul do país. Dois anos depois, as tropas sul-vietnamitas acabariam derrotadas definitivamente pelos soldados do Norte e pelos vietcongues. Saigon seria tomada, e o Vietnã, reunificado.